Adolpho Lindenberg
A terceira força, essa poderosa, espantosa e caótica coligação dos indiferentes, dos comodistas, dos aproveitadores, dos timoratos, dos cegos, que desde que o mundo é mundo, desde que Caim assassinou Abel, já existia e que em toda luta sempre procurou o meio termo, o apaziguamento a qualquer preço, a convivência entre os bons e. os maus, enfim, esta mentalidade que acha que todos têm razão e todos têm um lado bom e outro que é menos bom, vai ter que fazer uma coisa que lhe é intrinsecamente nociva e contraditória: vai ter de se definir. Por uma curiosa e oportuna coincidência de próximas eleições em vários países, essa terceira força que prolifera em todas as nações, menos, é claro, na Rússia e em seus satélites, está na contingência de expor seus ideais, traçar programas e definir linhas de ação política. Vejamos alguns exemplos:
1. Estados Unidos: se bem que seja um dos dois máximos contendores da atual disputa pela hegemonia mundial, os Estados Unidos estão sendo governados pelo partido que contem em seus quadros os elementos simpáticos à esquerda e a uma política externa de apaziguamento. Realmente, o programa do Partido Democrático, apresentado nas últimas eleições, contem várias reivindicações tipicamente socialistas e toda a política do atual Departamento de Estado poderia ser muito mais radicalmente contra os interesses russos do que tem sido. Sem nos estendermos sobre toda a política externa norte-americana, consideremos só a levada a cabo na Ásia e cujos erros e concessões foram tão magistralmente apontados por Mac Arthur:
a) A neutralidade americana na guerra entre Chiang Cai Chec e os comunistas chineses. Mac Arthur frisou que o generalíssimo está governando a contento a ilha de Formosa e que, apesar do feitio ditatorial de seu governo, ainda é muitíssimo preferível ao regime de Mao Tsé Tung.
b) A proibição do ataque aéreo à China, a não efetivação do bloqueio de suas costas e a ausência de sanções econômicas. O general americano mostrou como de fato a China está lutando com todas as suas forças na Coréia e como não está em suas possibilidades revidar a qualquer ataque aéreo americano. - Entre uma formal declaração de guerra pela China e o statu quo atual, não existe grande diferença.
Por outro lado, frisou Mac Arthur, a Rússia não tornará qualquer medida mais violenta porque a sua entrada na guerra depende da escolha do momento mais oportuno, considerando suas conveniências próprias, e não de qualquer ato ofensivo contra um seu aliado.
c) A ausência de uma declaração firme e nítida sobre o futuro do Japão e da Ilha de Formosa. Mac Arthur se refere como os japoneses estão do lado dos ocidentais e como o seu apoio é precioso. Prova também que o sistema defensivo americano no Pacífico se baseia no domínio de todas as ilhas, de tal forma que a posse de uma delas pelos comunistas significaria uma brecha gravíssima na linha defensiva estadunidense.
Se todos estes erros e concessões se deram apesar das admoestações de Mac Arthur, o que podemos esperar da política externa de Truman em outros setores igualmente importantes, como sejam a Europa e o Oriente Médio?
As eleições americanas ainda não estão próximas, mas os democratas vão ter que se definir em face das revelações contidas no discurso do líder do Pacífico e das consagrações populares que lhe tem sido concedidas, consagrações estas que por si só valeram por um verdadeiro veredicto popular.
2. França: Os ideais e a fina flor da orientação política da terceira força francesa recebem sua expressão própria nas atividades do Partido Socialista e da ala esquerda do M.R.P. Nas próximas eleições, a serem realizadas em Junho, ver-se-á qual o estado de espírito predominante no povo gaulês, e qual vai ser o programa do Gen. De Gaulle, o qual, apesar de seu proverbial patriotismo e hostilidade para com o comunismo, sempre manteve uma atitude fria para com os Estados Unidos e não se tem mostrado muito partidário da participação da França em uma eventual guerra entre americanos e russos.
Pelo programa e promessas dos líderes do M.R.P. também se verá qual de suas alas está com a voz ativa. Quanto aos comunistas, tudo leva a crer que sofrerão uma derrota semelhante à que seus congêneres sofreram na Itália.
3. Inglaterra: País que por sua política trabalhista externa e interna representa o que há de mais típico no espírito da terceira posição: nem comunismo, nem capitalismo; nem Mac Arthur, nem Mao Tsé Tung; nem possessões egípcias ou persas nas sagradas ilhas, nem possessões ou direito britânicos no Oriente Médio; nem gases mortíferos russos, nem bombas atômicas americanas: o leão britânico substituído, como emblema nacional, pelo guarda chuva inglês.
Volta-se a falar com insistência na convocação de eleições gerais, pois a morte de Bevin veio aumentar a cisão já existente no Partido Trabalhista, a qual se baseia nas divergências existentes entre a ala extremista e a moderada, respectivamente chefiadas por Aneurian Bevin e Clement Attle. Se realmente forem convocadas eleições gerais, os britânicos terão ótima oportunidade para tentar conservar alguma coisa do que sobreviver do ultra depauperado e moribundo império colonial. Terão também ocasião de recuperar as simpatias dos americanos (...dólares), muito justificadamente em vias de desaparecer.
4. Portugal: A morte de Carmona veio dar uma ótima oportunidade para se provar a honestidade das promessas de Salazar de restaurar a monarquia em Portugal. As últimas medidas, como a permissão para D. Duarte Nuno, o herdeiro ao trono, de voltar para a pátria, e a restauração do Castelo de Guimarães para sua moradia, vieram dar novo alento às esperanças dos monarquistas. Os esquerdistas e totalitários naturalmente, ao mesmo tempo que são contrários à democracia americana, são, no entanto, mais hostis ainda à volta do regime monárquico. Vejamos se Salazar saberá vencer esta oposição espúria e representar em Portugal o glorioso papel de Monk.
* O PROTESTANTISMO E O COMUNISMO costumam andar de mãos dadas. Vários observadores têm tido sua atenção atraída pela extrema tolerância que a maior parte dos setores protestantes vêm revelando em relação ao comunismo. Esta tolerância não se manifesta apenas nas seitas teologicamente mais "avançadas" do protestantismo, que negam qualquer hierarquia e quase toda a doutrina revelada, mas ainda em seitas reputadas teologicamente das mais conservadoras, como o anglicanismo que, sob muitos pontos de vista, tem doutrina muito próxima do Catolicismo. Assim, o deão de York, o deão de Canterbury, o "arcebispo" de Canterbury, falecido há poucos anos, se transformaram em militantes da propaganda comunista, a despeito de seus altos cargos na igreja anglicana que é a religião professada pela nobreza, e que tem por chefe o próprio Rei!
Esta tolerância, entretanto, existe apenas em favor do comunismo. Quando se trata do Catolicismo, a atitude dos mesmos protestantes russófilos é francamente agressiva. A propósito da recente visita da Princesa Elisabeth, herdeira da Coroa inglesa, ao Sumo Pontífice, que a recebeu com as honras de estilo, o sr. O. T. Taylor, secretário de uma federação que abrange todas, ou quase todas as seitas protestantes inglesas, a Aliança Protestante, declarou haver endereçado em março pp. uma carta ao Rei Jorge VI, em que qualificava essa visita como uma "afronta ao sentimento nacional". O sr. Taylor, falando aos jornais, acrescentou que, se se tratava de mera visita de cortesia, seria "mais razoável que o Papa fosse visitar a Princesa e não a Princesa ao Papa". Esta última afirmação faz sorrir, e não merece comentários. Mas merece registro a dualidade de atitudes: em relação ao Kremlin, todas as complacências, e em relação ao Vaticano todas as intolerâncias. Este pequeno episódio ilustra uma grande verdade: todos os erros têm em si um dinamismo interno que os leva a se unirem sempre, por toda a parte, e apesar de tudo, contra a Verdade de que a Igreja Católica é a única depositária.
* O SOCIALISMO DECAI DIARIAMENTE na "Commonwealth" britânica, ao mesmo tempo que o governo trabalhista, apoiado por frágil maioria na Câmara dos Comuns, vai impondo à Inglaterra suas reformas desastrosas. Há pouco tempo, era a Austrália que derrubava o gabinete socialista e iniciava a "desnacionalização" das várias empresas encampadas por administrações anteriores. Agora é o Canadá que dá o exemplo. Estudando a delicada questão das comunicações, a Real Comissão de Transportes apresentou ao governo um relatório em que se manifesta contrária à nacionalização das ferrovias, assinalando os graves inconvenientes desta medida, e mostrando que todos os problemas do tráfego podem ser resolvidos mediante simples acordos entre as entidades particulares. É que a experiência socialista inglesa, e o malogro das nacionalizações parciais tentadas um pouco por toda a parte no Ocidente, vão demonstrando com impressionante uniformidade que a abolição da iniciativa privada é a destruição de todo esforço econômico verdadeiramente fecundo e produtivo.
* AS HONRAS FÚNEBRES tributadas ao sr. Bevin, líder trabalhista recentemente falecido na Inglaterra, foram noticiadas pormenorizadamente pela imprensa diária brasileira, que divulgou ter-se procedido, por fim, à cremação do cadáver.
A este propósito, convém lembrar aos leitores que este ato é severamente condenado pela doutrina da Igreja. Em casos excepcionais, como guerras ou epidemias, em que por vezes o bem comum aconselha a rápida destruição dos cadáveres para evitar consequências higiênicas funestas, a Igreja não condena igualmente a cremação dos cadáveres como medida penal, destinada a exprimir o horror que merecem as ações de certos criminosos condenados à morte; na velha legislação portuguesa, por exemplo, os cadáveres de tais criminosos deviam ser "feitos por fogo em pó", e dispensadas aos ventos as cinzas. Mas, como medida normal parece à Igreja irreverente que os vivos completem e de certo modo até antecipem a obra da morte, destruindo eles mesmos os cadáveres.
Frei Agostinho da Cruz
Virgem benigna, sábia, gloriosa,
Por quem o mundo ingrato é sustentado,
Por quem livre se viu do reino escuro,
Depois de tanto tempo mal gastado,
Em vida tão incerta e perigosa,
Em Ti só me confio e asseguro;
Tu és porto seguro,
De casos de fortuna;
Tu és firme coluna
De nossas esperanças, Virgem pia,
Tu és raio do Sol do eterno dia,
Que as trevas rompe e os montes nos descobre,
Que o Rei Profeta via,
Donde ao cego vem a luz, socorro ao pobre!
Virgem, do eterno Rei santa cidade,
Rica, nobre, formosa, e triunfante,
Fim de toda a celeste arquitetura;
Teu muro é de fortíssimo diamante,
Espelho da católica verdade,
Por quem luz do Criador teve a criatura.
As torres, cuja altura
Só medem mãos divinas,
São d'esmeraldas finas,
Donde tua esperança a Deus namora;
Teus paços de rubis, em que Ele mora,
A tua caridade mostram nele,
Por quem o Céu Te adora,
E a terra veio a ser mais alta que ele.
Virgem, guarda fiel do mor tesouro,
Nova revelação do Espírito Santo,
Em quem, de quem, por quem, Deus nos foi dado,
O Rei que a Ti desceu Te subiu tanto,
Que à mão direita, em pé, vestida de ouro,
Te pôs, da qual David tinha cantado.
Já tens a honra alcançado,
Por Ti profetizada,
Que bem-aventurada
Todas as gerações Te chamariam,
Ca de servir-Te os homens se gloriam,
E os Santos, que nos Céus com brancas vestes
O Cordeiro seguiam,
Te cantam, sem cessar, hinos celestes.
Virgem de glória, e honra coroada,
Novo Sol dos celestes horizontes,
A quem os Serafins servem de estrado
Nas cinco perenais divinas fontes,
Abertas na tua alma transformada,
Em teu Filho e Senhor crucificada;
Estava represado
O mar de teus prazeres,
Em que de seus poderes
Soltou a presa a eterna omnipotência,
Porque houvesse nos premios respondencia
Das bem-aventuranças que louvou,
Com tão alta eloquência,
A mulher que o Evangelho celebrou.
Virgem, por quem há tanto que porfia,
Teu Filho com esta alma ingrata e morta,
Que no Céu, bata, o busque, o peça, o queira,
Se Ele me houver de abrir, Tu és a porta;
Se quer que O possa achar, Tu és a guia;
Se dar-me bens, Tu és a despenseira;
Tu foste medianeira
Do despacho formoso
Do ladrão venturoso.
Madalena, por Ti, a graça achou,
Paulo se converteu, Pedro chorou.
Enfim, Deus para nós Te fez Mãe sua!
Confiado, a Ti vou,
Pois o que é meu remédio é gloria tua.