Adolpho Lindenberg
É sabido que, para um país estruturar uma quinta coluna eficiente, necessita não só de uma organização subterrânea de primeira ordem, como também de várias camadas da população e organismos sociais do país a ser conquistado passíveis de serem influenciados e orientados. Caso faltem estes elementos, a ação na retaguarda inimiga se reduzirá a simples atos de sabotagem e espionagem. As duas grandes guerras servem de ótimo exemplo para este estudo: na primeira, os alemães dispunham de uma perfeita rede subterrânea agindo na França e na Inglaterra, mas o seu efeito foi limitado. Na segunda, no entanto os elementos subterrâneos contaram com o apoio e a simpatia dos milhões de noruegueses, belgas, franceses, etc. pertencentes aos partidos pro-nazistas, e todo mundo sabe como este fato contribuiu para a ocupação da Europa pelos alemães. E não é só sob o ponto de vista militar que a quinta coluna é de grande vantagem; ela encontra sua razão de ser mais profunda na dominação dos países vencidos. É ela que fornece os elementos nacionais para formar os governos "quislings" e é ela que amolda, traduz e tempera a ideologia estrangeira do agressor ao sabor e mentalidade do paladar dos nacionais.
Pode-se identificar a "terceira força", da qual tratamos em nosso artigo anterior, e que se acha espalhada por todo o mundo, com a quinta coluna? Todos os socialistas e todas as pessoas que desejam uma paz com a Rússia por qualquer preço, de fato cruzarão os braços por ocasião de uma invasão e receberão de bom grado um governo comunista? Certamente não, mas é inegável que é entre os elementos da "terceira força" que os comunistas recrutarão os seus melhores colaboradores e simpatizantes.
Vejamos rapidamente quais são os grupos e correntes que constituem urna quinta coluna potencial de primeira classe e que desde já estão comprometendo o rearmamento ocidental.
1° OS PARTIDOS COMUNISTAS ANTI-STALINISTAS. Essa novidade teve origem nos desentendimentos havidos entre o Marechal Tito e o Cominform. Pouco a pouco, dólar a dólar, os iugoslavos se aproximam dos Estados Unidos, como prova o fato de ter o representante de Belgrado na ONU votado a favor da moção proibindo o envio de materiais estratégicos para a China.
Algum tempo depois do "rompimento" russo-iugoslavo, noticia-se ter havido uma dissidência no seio do Partido Comunista Italiano. Os deputados Cucchi e Magnani declararam-se desligados do Partido e foram acompanhados por numerosos outros membros. No início do mês de Maio funda-se o "Movimento Comunista Francês", o qual tem por objetivo a "volta ao purismo leninista".
Todas estas deserções não significam um abandono pelos dissidentes, das doutrinas de Marx e Lenine, mas são simples frutos de divergências políticas com a Rússia.
2° AS ALAS ESQUERDAS DOS VÁRIOS PARTIDOS ESQUERDISTAS. Todos os elementos francamente esquerdistas e favoráveis a uma vitória dos ideais marxistas, impossibilitados de formar partidos comunistas em virtude de leis proibitivas ou com receio de incorrer no descrédito e antipatia popular, ou então por estarem com seus brios nacionalistas arranhados pela política agressiva e brutal da Rússia, ingressaram nos partidos socialistas. Como era de se esperar, isto veio reforçar as alas extremistas dos mesmos. Neste sentido não deve passar sem menção o manifesto do Partido Trabalhista inglês, publicado em começos de Maio, no qual a comissão diretora lamenta estarem os russos "traindo os ideais que deram origem ao movimento revolucionário". Note-se a semelhança da posição ideológica entre os comunistas dissidentes e os socialistas ingleses: combater Stalin não por sua fidelidade a Marx, mas, pelo contrário, em nome do purismo marxista.
3° A IMENSA MASSA QUE VOTOU NOS CANDIDATOS COMUNISTAS NO APÓS-GUERRA. Nos primeiros anos que seguiram à derrota da Alemanha, a Rússia, devido à política de Roosevelt, gozava de todas as simpatias, quer dos comunistas quer dos liberais democratas, e os Partidos Comunistas Francês e Italiano chegaram a contar com um terço de todos os votos nas eleições de 1945 e 1946. A política imperialista da Rússia e as melhorias das condições de vida na Europa, obtidas graças ao Plano Marshall, ocasionaram um declínio na popularidade dos ideais e programas comunistas, o que acarretou uma diminuição de quase 50 % nas votações dos candidatos extremistas.
Vemos assim que, além da "terceira força" que reúne milhões e milhões de europeus dispostos a assistir de palanque ao novo conflito, ainda existem alguns milhões de iugoslavos, franceses, italianos e alemães que torcerão, para não dizer colaborarão, a favor da Rússia em uma eventual guerra contra os Estados Unidos.
Algumas revistas americanas, como o "Time", alertaram o público contra uma possível traição da Iugoslávia e aconselharam uma atitude de reserva para com os novos "inimigos" da Rússia. O descontentamento com a Inglaterra, em virtude de sua posição dúbia, também está se acentuando, mas infelizmente os sentimentos predominantes nos Estados Unidos em relação às defecções nas hostes comunistas, são os de confiança e simpatia. Ainda há pouco a revista "Life" dedicou um de seus números à Iugoslávia, e um "elemento influente" do Departamento de Estado congratulou-se com os seus conterrâneos pelas derrotas dos partidos comunistas na Itália e na Alemanha, afirmando que os ideais bolchevistas estavam caindo no descrédito popular, ao contrário dos ideais democráticos que estavam conquistando as massas. A primeira parte desta constatação é verdadeira, mas é mais do que provável que os milhões de eleitores que, não há muito tempo, votaram nos candidatos comunistas, continuem com a mesma mentalidade revoltada e revolucionária e a mesmíssima fidelidade aos ideais de Karl Marx e Lenine. Mais ainda, será suficiente que seja suspenso o auxílio econômico americano ou que a Rússia comece a ganhar batalhas para novamente, e com mais ardor ainda, se declararem entusiásticos stalinistas.
A esperança de serem os russos derrotados em uma possível guerra, reside no fato de se julgar inconteste que os americanos possuem uma superioridade esmagadora em três armas: aviação, marinha e bombas atômicas. Eis, no entanto, que o senador Lodge declarou que a superioridade americana nos ares não corresponde à realidade dos fatos, e revelou que os peritos americanos reputam os aviões russos tão bons como os dos ocidentais, que a produção aeronáutica russa ainda é superior à dos EE.UU. e que o programa estadunidense de fabricar 15.000 aviões até o fim do ano, se encontra atrasado. Afirmou, porém, que os americanos conservam superioridade no que se refere a bombardeiros de longo alcance.
A revista Time publicou uma nota deveras desanimadora sobre o estado da aviação francesa e italiana: a fabricação de aviões na França é estacionária e os únicos aviões com que conta a Itália são de proveniência inglesa e já inteiramente antiquados.
Uma vez que a eventual invasão da Europa se dará por terra, deve-se contar somente com a superioridade americana no que se refere às armas atômicas. Quaisquer estimativas a respeito do número e da potência das bombas, tanto russas como americanas, não passam de suposições. Não custa, no entanto, mencionar as conjecturas do jornalista Jack Miller, publicadas no último número do «Cruzeiro», de acordo com as quais os EE.UU. contariam com 500 bombas e os russos com 50. Se são suficientes para decidir a guerra não se sabe, mas que poderão ocasionar uma catástrofe sem precedentes, não oferece dúvida.
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Não se deve dar muito crédito a descrições sobre ambientes políticos feitas por turistas, mas chama a atenção, a identidade dos relatos de centenas de brasileiros que têm ido a Buenos Aires sobre o regime de coação e demagogia que impera na Argentina. Qualquer crítica a Perón, e elas são numerosíssimas, tem de ser feita em voz baixa, pois do contrário corre-se o perigo de ser preso. Por causa de «crimes» dessa natureza, brasileiros, inclusive senhoras, foram obrigados na Polícia a escrever centenas de vezes frases elogiosas ao ditador ou à sua mulher, e depois lê-las em voz alta. Tanto as cidades como as estradas, estão cobertas de cartazes com os dizeres: «Perón cumpre e Evita dignifica».
Por outro lado, nota-se uma desorganização geral, um desânimo progressivo da parte dos comerciantes, o abandono das grandes estâncias por parte dos fazendeiros e uma crescente agitação trabalhista. Enquanto a Argentina deixa de receber auxílios financeiros americanos, a inflação começa a se estender e o peso alcança seu nível mais baixo, a sra. Eva Perón se torna uma das maiores proprietárias de joias do mundo, partilha com a nova rainha do Iran a honra de possuir o mais caro dos casacos de pele e receber como «presente» dos trabalhadores o mais custoso dos Rolls Royce fabricados depois da guerra.
No momento em que o sétimo centenário do Escapulário do Carmo atrai a atenção do orbe católico para os assuntos carmelitanos, é oportuno recordar que Campos foi um dos pontos de irradiação mais antigos de espírito carmelitano no Brasil.
Possuímos uma Ordem Terceira que no dia 13 de maio do ano próximo completará 200 anos de existência. A tradicional Igreja do Carmo que lhe serve de sede se achava ereta já em 1756. Em 1783, a câmara, da Vila de Campos deu vários passos para a constituição de um convento carmelitano anexo a essa Igreja, desejando os representantes da municipalidade remediar a falta de Clero com a instalação nele de doze religiosos. Para isto, foi feita a competente doação de terreno, tendo o assunto chegado a subir à consideração da Rainha D. Maria I, mas, infelizmente, todas as providências se mantiveram ulteriormente estacionárias.
Durante a sua existência quase bissecular, nossa Ordem Terceira foi objeto da constante solicitude da Autoridade Eclesiástica, adaptando seus estatutos - em linguagem carmelitana, o seu compromisso - em varias ocasiões: em 1849, com a aprovação do Imperador D. Pedro II; em 1926 com aprovação do saudoso Bispo Diocesano D. Henrique Casar Fernandes Mourão; e em 1941 com a aprovação do pranteado Arcebispo-Bispo D. Otaviano Pereira de Albuquerque.
A Igreja da Ordem Terceira, que teve a honra de servir de Catedral de 1933 a 1935, chama a atenção dos artistas e historiadores pelas suas interessantes linhas coloniais em estilo D. João V, e por várias curiosidades que contém, entre as quais duas pias constituídas por conchas naturais absolutamente iguais, por seu altar-mor, e seu harmônio com 23 registros, donativo da Baronesa de Itaoca. A vida carmelitana nessa Igreja se desenvolve vigorosamente, tendo sido objeto de especial elogio da parte do Visitador carmelitano Frei Bonifácio Harink, que recentemente realizou sua visita canônica.
O Exmo. Revmo. Sr. D. Antônio do Castro Mayer, Bispo Diocesano, apoiando a Ordem Terceira com o melhor de sua solicitude, obteve a nomeação de um Assistente Eclesiástico para a Ordem Terceira, na pessoa do Revmo. Frei Ildefonso Schutje O. C., que com o Sr. José Veiga, abnegado prior, está atualmente à testa do sodalício.
Sá de Miranda
Virgem do mar Estrela, e neste lago
E nesta noite um Faro que nos guia
Para o porto, antes claro e certo Norte,
Quem, sem vos atinar, quem poderia
Abrir somente os olhos, vendo o estrago
Que atrás olhando, deixa feito a Morte?
Quem me daria proa com que corte
Por tão brava tormenta?
De toda parte venta,
De toda espanta o tempo feio e forte,
Mas tudo que será co'a vossa ajuda?
Nevoa da lagoa,
Que ao vento voa, e num momento a muda.
Virgem perfeita, e do Sacrário Santo
Porta, que Ezequiel cerrada via,
À parte que responde ao Oriente:
Alto Silvado, que todo Me ardia
Sem ofendido ser tanto nem quanto,
E foi tal testemunha ali presente.
Velo de Gedeon, divinamente
Dado em alto sinal
Do Orvalho celestial.
Que tudo o mais enxuto, ele só sente:
Senhora, que podeis, em tal afronta,
Restitui-me a mim
Antes do fim: que o sol vai-se e trazmonta.
Virgem e Madre juntamente, quem
Tal nunca ouviu, nem dantes nem depois?
Somente em vós então: quem no entendeu?
Vós Madre e Filha, Vós Esposa sois
Daquele que apertado ao peito têm
Vossos braços, o que não pode o Céu.
Na vossa alta humildade se venceu
O soberbo tirano,
Que com inveja e engano,
Nos fez tão perigosa e longa guerra:
Por mulher se causou tal dano nosso.
Quem nos restituiu
De Vós saiu, Senhora, o preço é vosso.