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SUA PALAVRA ERA TROVÃO, ERA ESPADA, ERA BÁLSAMO

A Ação Catolica deve venerar Pio X como um grande precursor


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UMA FOTOGRAFIA DE GRANDE SIGNIFICAÇÃO: sob a égide de Pio X então reinante, vemos em primeiro plano o Cardeal Merry del Val, Secretario de Estado, e à sua direita o jovem Mons. Eugenio Pacelli. O grupo foi formado em Junho de 1914 por ocasião da assinatura da Concordata entre a Santa Sé e a Servia, vendo-se à esquerda do Cardeal Merry del Val o ministro plenipotenciário R. Vesnitch.


Por ocasião da solenidade em que elevou o grande Papa Pio X à honra dos altares, o Santo Padre Pio XII gloriosamente reinante pronunciou um sermão em que põe em relevo a harmonia das virtudes de fortaleza e mansidão do novo Bem aventurado, e lembra vários aspectos de sua obra.

Reproduzimos aqui alguns dos principais tópicos deste sermão, notável por seu conteúdo doutrinário e por seu valor oratório.

O Beato Pio X na palavra do Papa Pio XII

«Desde a sua primeira encíclica, Pio X apareceu como um fúlgido clarão que se elevava para iluminar as inteligências e abrasar os corações. Não foi diversa a sensação que tiveram os discípulos de Emáus, quando o Mestre lhes falava desvendando o sentido das Escrituras (Luc. 24, 32).

Não tivestes porventura também vós, filhos diletos, experimentado este abrasamento, vós que vivestes aqueles dias, e ouvistes de seus lábios o exato diagnóstico dos males e dos erros do tempo, e indicados os caminhos e os remédios para saná-los? Que clareza de pensamento! Que vigor de persuasão! Era bem a ciência e a sabedoria de um profeta inspirado, a franqueza intrépida de um João Batista e de um Paulo de Tarso: era a ternura paterna do Vigário e Representante de Cristo, atento a todas as necessidades, solícito por todos os interesses, por todas as misérias de seus filhos. A sua palavra era trovão, era espada, era bálsamo: comunicava-se intensamente a Vida a Igreja e tinha eficácia para ser ouvida fora e ao longe; vinha cheia de irresistível vigor, graças não só à substancia incontestável do conteúdo, como também ao seu profundo e penetrante calor. Sentia-se nela arder a alma de um Pastor que vivia em Deus e de Deus, sem outro fim senão conduzir a Ele os seus cordeiros e as suas ovelhas. Por isso si, fiel às venerandas e seculares tradições de seus Antecessores, conservou substancialmente todas as formas exteriores solenes — não porém faustosas — do cerimonial pontifício, naqueles momentos, seu olhar suavemente triste fixo num ponto invisível, mostrava que não para si mesmo, mas para Deus era dirigida toda honra.

O mundo que hoje o aclama na gloria dos Bem aventurados, sabe que ele percorreu o caminho que lhe traçara a Providencia, com uma fé de transpor montanhas, com uma esperança inquebrantável, mesmo nas horas mais turvas e incertas, com uma caridade que o impelia a dedicar-se a todos os sacrifícios para o serviço de Deus e salvação das almas.

Por estas virtudes teologais, que constituíam como que a urdidura fundamental de sua vida e por ele praticadas num grau de perfeição que superava sem termos de comparação a toda excelência puramente natural, seu pontificado refulgiu como nas idades de ouro da Igreja.

Abeberando-se a todo instante na tríplice fonte destas virtudes (teologais) regias, o Bem aventurado Pio X adornou e consumou o curso de toda sua vida no exercício heroico das virtudes cardiais: fortaleza intrépida sob os golpes, das vicissitudes, justiça de uma imparcialidade inflexível, temperança que se confundia com a abnegação total de si mesmo, prudência perspicaz, mas prudência do espírito que é «vida e paz», libertada da «sabedoria da carne, que é morte, e inimiga de Deus» (Cfr. Rom. 8, 6-7).»

Fortaleza e prudencia

Será talvez verdade, como afirmaram ou insinuaram certos espíritos, que no caráter do Bem aventurado Pontífice, a fortaleza muitas vezes prevaleceu sobre a prudência? Tal pôde ser a opinião de adversários, cuja maior parte era também inimiga da Igreja. Na medida em que foi comum também a outros, aliás admiradores do zelo apostólico de Pio X, tal apreciação é contraditada pelos fatos, sempre que se toma em consideração sua solicitude pastoral pela liberdade da Igreja, pela pureza da doutrina, e pela defesa do rebanho de Cristo contra os perigos iminentes que nem sempre encontravam em tais pessoas toda a compreensão e intima adesão que delas se deveria esperar.

Agora que o mais minucioso exame perscrutou a fundo todos os atos e fatos de seu pontificado, hoje que se conhece a sequência destes fatos, nenhuma hesitação, reserva nenhuma é mais possível, e deve-se reconhecer que mesmo nos períodos mais difíceis, mais duros, mais prenhes de responsabilidades, Pio X, assistido pela grande alma de seu fidelíssimo Secretário de Estado, o Cardeal Merry del Val, deu prova daquela esclarecida prudência que nunca falta nos Santos, mesmo quando, nas suas aplicações, se acha em contraste, doloroso mas inevitável, com os enganosos postulados da prudência humana e puramente terrena.

Grandes horizontes

Com seu olhar de águia, mais perspicaz e mais seguro do que a visão estreita de pensadores míopes, via o mundo tal qual era, via a missão da Igreja no mundo, via com olhos de santo Pastor, o dever que lhe incumbia no seio de uma sociedade descristianizada, de uma cristandade contaminada, ou ao menos infiltrada dos erros do tempo e perversão do século.

Iluminado pela claridade da verdade eterna, guiado por uma consciência delicada, lúcida, de rígida firmeza, tinha ele, frequentemente acerca do dever do momento e das resoluções a tomar, intuições cuja exatidão perfeita desconcertava os que não eram dotados das mesmas luzes.

Suavidade e mansidão

Por natureza, ninguém mais suave, mais amável do que ele, ninguém mais amigo da paz, ninguém mais paterno. Mas quando nele falava a voz da consciência pastoral, dominava soberano o sentimento do dever; este impunha silêncio a todas as considerações da debilidade humana; cortava pela raiz qualquer dúvida; decretava as providências mais enérgicas,

O humilde «cura de aldeia», como mesmo se penosas ao seu coração quiseram chamá-lo — e não em seu desdoiro — ante os atentados contra os direitos imprescindíveis da liberdade e dignidade humana, contra os sagrados direitos de Deus e da Igreja, sabia erguer-se como gigante, em toda a majestade de sua autoridade soberana. Então o seu «non possumus» fazia tremer e por vezes recuar os poderosos da terra, enquanto firmava os tíbios e galvanizava os tímidos.

A esta força adamantina do seu caráter e da sua conduta, manifestada desde os primeiros dias do seu Pontificado, deve-se atribuir, primeiro o estupor, e depois a aversão daqueles que revelando o fundo obscuro das próprias almas, quiseram fazer dele o «signum cui contradicetur».

Equilíbrio admirável

Não, pois, excessivo domínio da fortaleza sobre a prudência. Pelo contrário, estas duas virtudes, as quais ungem como um «crisma» aqueles a quem Deus destina para governar, foram em Pio X equilibradas a tal ponto que, ao exame objetivo dos fatos, ele se nos apresenta de modo tão eminente numa quanto excelso na outra. Não é acaso esta harmonia de virtudes, nas altas regiões do heroísmo, sinal de santidade madura?

Um grande Papa

Um homem, um pontífice, um santo de tal elevação, dificilmente encontrará o historiador que saiba abarcar o conjunto de sua pessoa e seus múltiplos aspectos. Mas até mesmo a simples e esquemática enumeração de suas obras e de virtudes, tal como Nós podemos neste momento apenas tentar, com breves e incompletos traços, basta para suscitar a mais viva admiração.

Defensor, da fé, arauto da verdade eterna, guarda das mais santas tradições, Pio X revelou uma percepção aguda das necessidades, aspirações, energias do seu tempo. Por isso seu lugar é entre os mais gloriosos Pontífices, depositários fiéis sobre a terra das chaves do reino dos céus, e aos quais a humanidade é devedora de todo verdadeiro avanço no caminho reto do bem e de todo genuíno progresso.

Pio X e a Ação Católica

O árido vácuo, que o espírito sectário do século havia cavado ao redor do sacerdócio, apressa-se ele em preenchê-lo mediante a colaboração ativa dos leigos no apostolado. Não obstante as circunstancias adversas, mas antes estimulado por elas, Pio X cuida, se não mesmo inicia, com renovados esforços, da formação de um laicato forte na fé, unido com perfeita disciplina aos vários graus da Hierarquia Eclesiástica. E tudo quanto no vasto campo da Ação católica, demonstra quão providencial foi a obra do nosso Bem aventurado, a qual reflete sobre ele uma luz que, durante a sua vida, talvez a poucos somente foi dado pressentir. Portanto, as legiões da Ação católica, entre as almas eleitas que recordam e veneram como precursoras de seu movimento salutar, por justo título devem colocar o Bem aventurado Pio X.

Diletos filhos e filhas! Uma hora de glória passa sobre nós nesta tarde luminosa. É glória que toca de perto ao Pontificado romano, glória que se irradia por toda a Igreja, glória que envolve aqui perto o túmulo venerado de um filho humilde do povo, a quem Deus elegeu, enriqueceu, exaltou.

Mas é principalmente glória de Deus, porque em Pio X se revela o arcano da Providência sapiente e benigna, a qual assiste a Igreja e por ela o mundo, em todas as épocas da história. Que teria significado — Nós perguntávamos no princípio, o nome, de Pio X? Parece-nos agora vê-lo claramente.

A obra de Pio X

Pela sua pessoa e pela sua obra quis Deus preparar a Igreja para os novos e árduos deveres que os turbulentos tempos futuros lhe reservavam. Preparar oportunamente uma Igreja concorde na doutrina, rígida na disciplina, eficiente nos seus Pastores; um laicato generoso, um povo instruído; uma juventude santificada desde os primeiros anos; uma consciência cristã solerte para os problemas da vida social. Se hoje a Igreja de Deus, longe de retroceder ante as forças destruidoras dos valores espirituais, sofre, combate e, por virtude divina, avança e redime, isto se deve em grande parte à ação previdente e à santidade de Pio X. Hoje é manifesto como todo o seu Pontificado foi supernamente dirigido segundo um desígnio de amor e de redenção, para dispor as almas a afrontar as nossas próprias lutas e para assegurar as nossas vitórias e as do porvir. Hoje se admira na, Itália e no mundo.


EU O ESCOLHI PORQUE É UM SANTO

O povo fiel deseja ver, no rol dos bem-aventurados, ao lado de Pio X, seu grande Ministro

No discurso que pronunciou ao povo, por motivo da beatificação do Santo Padre Pio X, quis o Papa, gloriosamente reinante, por em relevo a figura do fidelíssimo Secretario de Estado daquele grande Pontífice, com as seguintes palavras:

Pio X, assistido pela grande alma de seu fidelíssimo Secretario de Estado, o Cardeal Merry del Val, deu prova daquela esclarecida prudência que nunca falta nos santos, mesmo quando nas suas aplicações ela se acha em contraste, doloroso mas inevitável, com os enganosos postulados da prudência humana e puramente terrena."

Torna assim em foco a figura do grande Purpurado que o volver dos acontecimentos, por circunstancias especiais, tinha deixado na penumbra, e acalenta-se a esperança de todos aqueles que desejam ardentemente vê-lo também elevado às honras dos altares ao lado de seu inolvidável Soberano.

O Cardeal Rafael Merry del Val y Zulueta, nasceu aos 10 de outubro de 1865, em Londres, de pura e sadia aristocracia espanhola, sendo seus pais o Marquês Rafael Merry del Val e a Condessa Josefina de Zulueta. Engenho precoce e inteligência arguta, desempenhou delicadas missões diplomáticas durante o pontificado de Leão XIII, tendo sido Secretario de legações especiais junto às Cortes de Londres, Berlim e Viena, e das Comissões nomeadas para ativar a união dos cismáticos e examinar as ordenações anglicanas. Durante o Conclave que elegeu o Cardeal Sarto, era Merry del Val, Secretario do Sacro Colégio: foi neste Conclave que, pela primeira vez, se encontraram Merry del Val e Pio X. Apesar das maiores antíteses que humanamente se poderiam observar entre ambos, — na origem, cultura, fortuna e idade, — bastou ao bem-aventurado Pio X este contato para reconhecer no Secretario do Conclave, o homem de que precisaria ao seu lado, para levar a cabo sua grandiosa obra de restaurar todas as coisas em Cristo. São unânimes os historiadores de Pio X em reconhecer que, no governo da Igreja, a obra foi comum de ambos, sendo difícil destacar-se a parte que pertence ao Pontífice e a que toca ao seu Secretario de Estado. O segredo desta união de vistas, apesar das diversidades de ordem natural, tem sua explicação nestas palavras de Pio X, que constituem o melhor elogio de seu primeiro ministro: "Eu o escolhi não só porque é um poliglota, porque nascido na Inglaterra, educado na Bélgica, espanhol de nacionalidade, viveu na Itália, é filho de diplomata, conhece, ele pessoalmente, os problemas de todos os países, mas porque é muito modesto, é um santo. Aqui vêm todas as manhãs e me informa de todas as questões do mundo... E, depois, não tem compromissos".

"Eu o escolhi porque é um santo". Esta grave afirmação do Papa que hoje veneramos sobre os altares, que o conheceu na intimidade de onze anos, numa união de vida, intenções e atos que faz lembrar as grandes amizades registradas na Historia de um S. Basílio e um S. Gregório Nazianzeno, por exemplo; só por si valeria para confirmar a impressão de quantos conheceram o Eminente Príncipe da Igreja. O Cardeal Merry dei Val era um santo!

A vida interior de união com Deus se traduzia em todas as suas atitudes. Foi assistindo a uma Missa do Cardeal Merry dei Val que reencontrou o caminho da Fé o brilhante jornalista italiano Antonio Agresti. É uma página literária que aqui reproduzimos a descrição dessa Missa da qual exala o perfume das virtudes do Bem aventurado Pio X e de seu fidelíssimo Secretario de Estado. Foi no dia 20 de agosto de 1917, terceiro aniversario da morte de Pio X. Nessa data, como no dia 20 de todos os meses, Merry del Val descia à cripta vaticana para reviver a presença do inesquecível Pontífice no fervor da prece e união com Deus.

"Às sete da manhã, S. Pedro, deserto, parece no interior ainda mais enorme. Ao longe, como uma chuva florida de estrelas de ouro, cintilam as pequenas lamparinas do Tumulo de S. Pedro, diante do altar. Passos apressados espalham sob as enormes naves um eco prolongado e sonoro. Do fundo, o claro tilintar de uma campainha anuncia uma Missa ao "Sanctus". Não se vê o celebrante; não se vêm os assistentes. É como um mistério, perdido no mais vasto mistério da vasta Basílica, onde as tumbas dos Príncipes do mundo, e dos Príncipes da Igreja alternam com as estatuas dos Santos e as Capelas adornadas com os maravilhosos mosaicos reproduzindo os quadros de Rafael e Corregio".

"De um dos lados da abside abre-se uma pequena porta sobre uma escada estreita. Parece que lá um "sampietrino" está à espera de alguém. Passam e descem monjas, alunas, senhoras com véus sobre a cabeça, algum soldado. Uma senhora de luto, com luvas brancas, aproxima-se da escada: tem os olhos inchados e vermelhos de pranto".

"Avança um Cardeal. Não tem outro sinal de seu principado, a não ser a faixa vermelha à cintura: o olhar fixo na frente, agudo sob as pálpebras ligeiramente baixas, indica um daqueles homens que avizinharam, si não é que não tiveram o Poder".

"E desce ele também. Na Cripta, em torno de um Tumulo modesto, estão acesas varias luzes: diversos maços de flores exalam forte aroma cedrino no ar grave de catacumba. E no Tumulo encerram-se os restos d'Aquele que foi o Papa Pio X, que a guerra matou e quis ser sepultado ali, na Cripta de sua Igreja, junto aos Papas humildes e Religiosos, ele, modesto e piedoso, que quis repousar em paz na escuridão e no silencio das catacumbas, ele que, durante a vida, tivera de combater pela defesa de sua Fé, de viseira erguida, em pleno dia, pronunciando palavras severas de censura e condenação em nome de seu Deus de paz e de justiça".

"E o Eminentíssimo Cardeal Merry del Val desceu para celebrar-lhe a Missa de aniversario. Alem do breve quadrado do altar e do Tumulo, onde as lampadas elétricas produzem uma luz talvez por demais clara, à direita e à esquerda alongam-se os braços da Cripta e perdem-se na sombra infinita".

"Diante do altar a robusta e alta figura do Cardeal, agora encerrada na severa casula de prata recamada de ouro, parece ainda mais poderosa sob a pequena abobada. A voz, clara, destaca as palavras uma a uma como si desejasse gravá-las no coração e no pensamento dos assistentes. Rápidos respondemos clérigos à meia-voz. Ele acentua o "Gloria in excelsius Deo et in terra pax hominibus bonae voluntatis".

"Era um Homem de boa vontade Aquele, pelo qual agora o Cardeal diz a Missa: e ei-lo agora em paz. Dorme sob a pedra modesta, marcada com o "PAX", Aquele que a guerra matou".

"As irmãs e a sobrinha de Pio X, de joelhos, junto ao altar, não se distinguem de tantas outras senhoras genuflexas em torno. Pessoas do povo que souberam ser tão nobres — disse um Cardeal — quanto duas Princesas de sangue, não precisam fazer-se vistas, fazer-se notadas.

"A Missa, breve, terminou. A multidão abandona a Cripta. Agora, apagadas as luzes, brilham somente as velas em volta da Tumba e as flores parecem exalar um perfume mais penetrante. Alguém, ao se afastar, beija o mármore; umas mulheres fazem o sinal da Cruz. Perdem-se os últimos passos na escadinha".

"O Cardeal, que rezou um pouco depois da Missa, retira-se também por sua vez, e o Tumulo permanece só, envolto no silencio, na paz: na paz o Tumulo do Pontífice que vi que anelava à "restauração de todas as coisas em Cristo", na paz e na justiça".

"E o povo, hoje, por seu ardente desejo, o povo dos que creem antes que a Igreja se pronuncie, o santificou. E o povo fiel tem, provavelmente, razão".

O Santo Padre acaba de declarar que "o povo fiel" tinha razão. Este mesmo povo agora suplica e desejaria ver ao lado do grande Pio X, o fidelíssimo ministro, e auxiliar imediato, o Cardeal Merry del Val.

[Oração de Pio XII ao Beato Pio X]
Ó bem-aventurado Pontífice, servo fiel de teu Senhor, discípulo humilde e confiante do divino Mestre, na dor e na alegria, nos trabalhos e nas solicitudes, experimentado Pastor do rebanho de Cristo, volve o teu olhar sobre nós, que estamos prostrados diante dos teus despojos virginais. Difíceis são os tempos em que vivemos; duras as fadigas que eles exigem de nós.
A Esposa de Cristo, que já esteve confiada aos teus cuidados, encontra-se de novo em graves angústias.
Os seus filhos estão ameaçados por inumeráveis perigos na alma e no corpo. O espírito do mundo, como leão rugindo, caminha ao derredor, procurando a quem possa devorar. Não poucos lhe caem como vítimas. Têm olhos e não vêm; têm ouvido e não ouvem. Fecham os olhos à luz da verdade eterna; escutam as vozes de sereias a insinuar mensagens enganosas. Tu, que foste aqui na terra grande suscitador e guia do povo de Deus, sê auxilio e intercessor nosso e de todos os que se confessam seguidores de Cristo. Tu, que tiveste o coração despedaçado quando viste o mundo precipitar-se em luta sanguinolenta, socorre a humanidade, socorre a cristandade, exposta presentemente a perigos semelhantes; obtém da misericórdia divina o dom de uma paz duradoura, e como acréscimo a ela o retorno dos espíritos àquele sentido de verdadeira fraternidade, que somente pode reconduzir para junto dos homens e das nações a justiça e a concórdia desejadas por Deus. Assim seja!
PIUS P. P. XII