Souza Caldas
Esposa do Deus vivo, Templo augusto
Do Senhor que governa os Céus e a Terra,
Escuta os meus gemidos, e do abismo
Do pecado a minha alma desenterra.
Ó das filhas dos homens a mais bela,
Em cujo seio, amigas se abraçaram
A justiça e a demência, e pelos homens
Com vínculo divino se ligaram.
Mãe do meu Deus, refúgio esperançoso
Do pecador aflito, vem depressa
Em meu socorro contra o vil imigo,
Que de bramir em roda nunca cessa.
Lembra-te que na cruz cruel, o sangue
Se verteu do teu Filho angustiado,
Para as chagas lavar torpes e impuras
Do pecador que a culpa tem manchado.
Ó doce pensamento, que derramas
Lisonjeira esperança no meu peito,
E a proteção benigna me asseguras
Daquela a quem o Céu vive sujeito.
Adolpho Lindenberg
O General Charles De Gaulle não se candidatou, mas é a alma do Partido. Antes da guerra bateu-se éle pela motomecanização do exército francês para o tornar capaz de enfrentar as colunas blindadas nazistas; foi o primeiro a mostrar que não se conformava com a derrota infligida à sua pátria: «A França perdeu uma batalha, mas não a guerra», «A França se libertará graças à valentia e ao patriotismo de seus filhos; se os aliados os ajudarem melhor, senão, eles lutarão e vencerão sozinhos»; depois da libertação tem batalhado para devolver à França o seu grande prestigio de antes da guerra. Para isso De Gaulle advoga a reforma da constituição no sentido de substituir o regime parlamentar pelo presidencialista e acabar com a pluralidade partidária, preconiza o rearmamento em grande escala do exército francês, o fechamento do Partido Comunista, e, no campo internacional, uma atitude altiva e independente face aos americanos e francamente hostil para com os russos. Em uma palavra: o R. P. F. para muitos significa a reencarnação do velho espírito gaulês, entre cujas notas mais brilhantes está a glória militar. Não poucos, ouvindo os discursos do general, lembram-se das ordens do dia e das exortações de Napoleão e do «élan» das melodias da Marselhesa. É a França, dizem uns; é a guerra e a ditadura, dizem outros.
Infelizmente é forçoso reconhecer que pouco se sabe das verdadeiras intenções de De Gaulle. No campo internacional suas críticas são procedentes, suas reivindicações justas. Mas, o programa e as reformas propostas pelo Rassemblement são duvidosos. Resumindo, pode-se dizer que existem excelentes tendências também nas hostes do R.P.F., mas não se sabe se tais tendências são as que dirigem o Partido.
O resultado que alcançou nas eleições foi bom, mas não brilhante. Maior bancada, segunda votação, mas menor porcentagem de sufrágios do que a obtida nas eleições municipais de 1947. Esperavam, aliás, obter duzentos mandatos. Seus lideres anunciaram antes do pleito que não participariam de nenhuma coligação, mas, se não o fizerem no Parlamento, dificilmente poderão ter influência decisiva nos destinos do pais.
É a encarnação, juntamente com o M.R.P. da mentalidade da 3.a força; é o Partido centro-esquerda; favorável ao atual estado de coisas na França, aliado dos americanos e por isso «inimigo» dos russos, favorável às nacionalizações e à laicização das escolas, simpático ao Partido Trabalhista Britânico.
Como a grande votação dos degaullistas foi obtida às expensas dos sufrágios dos outros Partidos, pode-se considerar as cinco cadeiras ganhas pelos socialistas como um resultado relativamente satisfatório. Este fato parece indicar, por outro lado, que o contingente eleitoral do RPF não conta com antigos elementos da S.F.I.O., de mentalidade esquerdista, o que constitui um bem.
É a quinta coluna russa dentro da Europa: reivindica a reforma da Constituição, o desarmamento, a hostilidade para com os americanos, a independência das colonias, a nacionalização geral, etc., etc.
Perderam 82 cadeiras e 469.328 votos (8,6%), mas ainda possuem o maior contingente eleitoral: 5 milhões de eleitores! De sua derrota pode-se dizer o mesmo que da vitória da R.P.F. — foi sensível e encorajadora, mas não foi decisiva nem determinará uma mudança radical na linha da política exterior da França.
Constituem o cerne da 4.a força, isto é, daqueles que são contrários à orientação esquerdista dos últimos governos, da França, opõem-se, graças ao bom senso francês, a futuras nacionalizações, e são simpáticos a Mac Arthur, mas por razões determinadas não votam apreço nem confiança a De Gaulle. Franceses da classe média, conservadores, comodistas, com velhos ressentimentos para ingleses e americanos: camponeses anti-socialistas, antigos colaboradores do governo de Vichy, etc etc., é que formam a massa heterogênea da chamada «Aliança Direitista».
Ganharam 17, cadeiras novas, elegeram o advogado de Pétain e se transformaram no fiel da balança. Com eles os Partidos do centro ficarão com a maioria, sem eles nada poderão fazer.
Era o grande Partido de antes da guerra. Apesar do nome, sua linha de ação é a liberal democrática. Dividem com os Independentes o eleitorado da classe média e dos camponeses. Com simpatia pelos americanos, contrários à progressiva socialização, constituem um elemento moderador.
A sua vitória, juntamente com a do R.P.F. e dos Independentes, significa que a politica esquerdista e socializante pela qual a França enveredara terá que ser revista pela base.
É uma vergonha para um Partido que se diz o defensor dos direitos da Igreja na França, ser também aquele que é favorável a uma progressiva socialização e a uma politica simpática para com os comunistas. É a já debatida política da «main tendue», preconizada pelos «maritainistas». É pelo fato de ter fracassado tão completamente a política interna e externa preconizada pelo M.R.P., que os partidários de Bidault ainda deram graças a Deus por terem perdido só a metade dos mandatos. «Falou-se em derrocada, mas tal não aconteceu», foi o comentário do líder dos republicanos populares. É caso de se perguntar o que houve então. Terá sido uma vitória ou ao menos uma consolidação de prestigio?
Todos os observadores políticos registraram o fato de que os degaullistas atraíram para si uma boa parte dos eleitores do M.R.P. Ora, se isso é verdade, como se explica a orientação no sentido esquerdista da direção do Partido, quando a metade de seus eleitores tinham tendências direitistas, como prova o fato de terem ido votar nos candidatos da extrema direita?
Não podemos deixar de nos regozijar com a derrota dos Partidos coloniais favoráveis à independência. Os comunistas na Argélia perderam a metade de seus mandatos, a União dos Manifestantes Argelianos e o Movimento para o Triunfo das Liberdades Democráticas (ambos esquerdistas e separatistas) não conseguiram eleger nenhum deputado.
A extrema direita obteve uma pequena vitória, enquanto a extrema esquerda sofreu uma pequena derrota. O centro direita teve uma vitória sensacional; o centro-esquerda uma derrota decisiva. Nota-se, pois, uma curiosa simetria. O que chama a atenção sobre o valor da vitória da posição centro direita é o fato de ser o R.P.F. um Partido novo, formado graças à atração que exerceu sobre os elementos direitistas existentes em todos os outros partidos. Percebe-se, portanto, que tanto no M.R.P., como no Partido Socialista, deveria haver muitos elementos direitistas que não viam seus ideais serem propugnados nas atividades dos respectivos líderes e programas.
Na palavra do Sr. René Pleven três maiorais podem se formar:
«1. Maioria da união nacional, compreendendo, todos os partidos, menos os comunistas;
2. Maioria dos socialistas, radicais-socialistas, M.R.P., independentes e camponeses.
3. Maioria direitista: radicais-socialistas, independentes e camponeses e M.R.P. »
É animador registrar o fato de que no seio de qualquer das coligações previstas pelo Sr. Pleven, os partidos conservadores contarão com maioria:
1ª hipótese: 117 RPF, 95 radicais e 99 independentes contra 104 SFIO e 86 MRP, ou seja, 311 contra, 190.
2ª hipótese: 95 radicais, 99 independentes contra 104 SFIO e 86 MRP, ou seja, 194 contra 190.
3ª hipótese: 95 radicais, 99 independentes contra 86 MRP, ou seja, 194 contra 86.
No campo internacional começa a surgir a possibilidade de que a França coopere cada vez mais com os Estados Unidos, destine verbas maiores para o rearmamento ,e não apoie a Inglaterra em seu jogo de terceira força internacional.
* * *
1. Reforma da Constituição: Favoráveis — degaullistas e comunistas.
Contrários — todos os outros.
2. Simpáticos a Mac Arthur e favoráveis a uma atitude enérgica para com os russos: degaullistas e independentes.
3. Desarmamento: Favoráveis — comunistas.
Contrários — todos os outros.
4. Seguros Sociais obrigatórios e assistência médica gratuita: Favoráveis — Comunistas, socialistas, M.R.P.
Contrários — degaullistas, radicais e independentes.
5. Devolução à iniciativa privada das indústrias de luz, gás, rádio, carvão. — Favoráveis — radicais, independentes.
Contrários — comunistas, socialistas, M.R.P, degaullistas.
6. Ressurreição do Senado: Favoráveis — radicais, independentes.
Contrários — comunistas, socialistas, M.R.P., degaullistas.
7. Escola Leiga: Favoráveis — comunistas, socialistas.
Contrários: M.R.P., independentes.
8. Regime Capital-Trabalho — Proposto pelos degaullistas.
9. Libertação de Pétain — proposta pelos independentes e apoiada pelos degaullistas e radicais.
Contrário — comunistas, socialistas, M.R.P.
Os itens que nos interessam mais sob o ponto de vista da salvação dos princípios católicos que ainda subsistem na França são os números 4, 5, 7 e 8. É Pouco provável que os radicais e os independentes possam fazer um retrocesso na marcha da França para o abismo do socialismo, e do esquerdismo para o qual a guiaram, os governos anteriores, mas podemos conservar fortes esperanças de que tal marcha seja sustada e que doravante os interesses da civilização ocidental não sejam somente defendidos pelos americanos, mas também pelos franceses. A França é que é a filha predileta da Igreja, a ela cabe o direito e o dever de se por no primeiro plano para a defesa dos interesses da civilização cristã.