Adolpho Lindenberg
De 1945 até fins de 1950 o tempo trabalhava a favor da Rússia. E por todo o mundo os elementos do centro e de orientação conservadora se achavam diante da ameaça de serem acusados de fascistas caso mostrassem desconfiar dos bons propósitos de Stalin. Após a guerra ficaram em moda as visitas dos líderes políticos (entre os quais De Gaulle) a Moscou; apareceram livros e mais livros, fitas de cinema, conferências e discursos, etc., tentando convencer a opinião pública ocidental de que a Rússia era um país perfeitamente inofensivo, simpático, e digno de ser «compreendido». Todas as correntes intelectuais, o teatro, os museus de arte moderna, os semanários de filosofia e crítica, de orientação comunista adquiriram extrema atualidade e começaram a atrair as juventudes de todas as nações. No campo político e militar, igualmente, os êxitos dos comunistas e esquerdistas foram espetaculares. Os fatos e os acontecimentos políticos, como que regidos por um cérebro diabólico e invisível, se dirigiam harmonicamente no sentido de fortalecer cada vez mais a União Soviética e conduzir para a esquerda os países ocidentais:
1 — Os acordos de Yalta e Potsdam sancionaram a influência soviética nos Bálcãs, na China e na Manchúria.
2 — O General Marshall insistiu junto a Chiang Kai Chek para aceitar membros do Partido Comunista Chinês em seu governo e para colaborar com o mesmo.
3 — O auxilio americano para a reconstrução da Rússia foi gigantesco. Por outro lado, os russos, com a conhecida decisão e eficiência dos regimes totalitários, transportaram o que puderam da indústria alemã para o seu país. Aconteceu, assim, que em 1947 a produção industrial soviética já ultrapassava a anterior à guerra.
4 — Nas regiões ocupadas a Rússia teve tempo e lazer para eliminar toda a oposição existente e formar governos satélites.
5 — O Partido Trabalhista Inglês, depois de vencer as eleições gerais, desenvolveu meticulosamente uma política exterior simpática à Rússia e conscienciosamente desmembrou o Império Britânico.
6 — O Partido Democrático nos EEUU apresentou o primeiro programa com medidas socializantes na história nacional e também saiu vencedor no pleito eleitoral.
7 — Na França os Partidos que congregavam maior número de membros eram o Comunista, o Socialista e o M.R.P., todos eles simpáticos a entendimentos amistosos com a Rússia.
8 — A fabricação de material de guerra na Rússia não sofreu solução de continuidade com o fim da guerra, mas no mundo ocidental pregou-se o desarmamento como medida essencial para a harmonia entre os povos e o equilíbrio dos orçamentos públicos.
9 — Os nacionalistas chineses foram derrotados e expulsos do continente asiático. Mao Tsé Tung estabelece um governo comunista sem encontrar oposição da parte das potências ocidentais e chega a fazer acordos comerciais com as nações do Império Britânico.
10 — A Índia e a Indonésia Holandesa ficaram independentes, o movimento pan-árabe adquiriu extraordinária violência e o Egito passou a adotar medidas claramente ofensivas à Inglaterra.
De todas estas vitórias soviéticas a mais importante foi, sem dúvida, a inclusão da China na órbita comunista. Mas ela provocou um primeiro alarme sério entre os povos ocidentais a respeito da política expansionista da Rússia. Em seguida o bloqueio de Berlim, os constantes desentendimentos entre os membros do Conselho de Segurança da ONU, e, finalmente, o insucesso visível da política externa norte-americana na Ásia, despertaram a opinião pública norte-americana. Pouco depois, a prisão do Cardeal Mindzensty, os relatos dos refugiados de detrás da cortina de ferro, entre os quais avultaram o livro e o processo de Victor Kravchenko, e a notícia de que os russos tinham descoberto a bomba atômica e mobilizado dois milhões de homens, vieram incentivar poderosamente a indignação da opinião pública conservadora de todos os países. O Partido Republicano nos EEUU se tornou tão forte quanto o Democrático, o Partido Conservador Inglês venceu várias eleições parciais, o Partido Trabalhista Australiano foi fragorosamente derrotado e os Partidos franceses do centro e do centro-direita readquiriram seu prestígio de antes da guerra.
O tempo, é verdade, continuava a trabalhar pela Rússia, mas para os esquerdistas o céu já não se apresentava sem nuvens.
Os próximos objetivos dos comunistas seriam a invasão da Coréia, a admissão da China Comunista na ONU e a ocupação da Ilha de Formosa pelas tropas de Mao Tsé Tung.
A invasão da Coréia começou. Os elementos conservadores, que já estavam tomando pé no mundo inteiro, redobraram seus esforços e exigiram uma reação enérgica da parte da ONU, muito embora a isso se opusessem os esquerdistas de todos os matizes. A guerra da Coréia se travava, não só nos campos de batalha, mas sobretudo nos bastidores da política internacional e na opinião pública mundial.
O caso Mac Arthur foi um episódio dessa luta entre duas tendências. O general se tornou o catalisador e a expressão de todos aqueles que nos EE.UU. propugnavam por uma atitude enérgica para com a Rússia. Foi destituído de seu comando, mas as possibilidades de admissão da China Vermelha na ONU e a entrega de Formosa a Mao Tsé Tung foram definitivamente afastadas. Mais ainda, os americanos iniciaram um programa de rearmamento gigantesco — a verba para fins militares, só em 1952, atinge a cifra de 240 bilhões de cruzeiros. A França se prontificou a restaurar o seu exército e o General Eisenhower, com a aprovação da própria Inglaterra, foi encarregado de montar o esqueleto europeu destinado a enfrentar a invasão russa em perspectiva.
Esse foi o desenvolvimento da reação conservado. E esse foi o sentido da guerra da Coréia. Esta guerra, em um ano, causou maior número de baixas americanas que a I Grande Guerra ou o último conflito com o Japão. Alterou pelo seu custo os próprios orçamentos particulares na América do Norte, destruiu um dos mais ricos países asiáticos. Mas tudo isto se torna secundário quando consideramos que com ela a Rússia sofreu sua primeira grande derrota moral, uma sólida reação mundial anti-soviética criou vulto e a chamada 3ª Força ficou muito desprestigiada.
Com efeito, o armistício na Coréia, tal como se delineia, não significa uma vitória da ONU nem o ocidente venceu o mundo oriental, mas a Rússia sofreu uma derrota na luta que em todo o lugar se travava entre uma tendência liberal e esquerdista onipotente e um punhado de conservadores de políticos sensatos que tentavam, inutilmente até então, mostrar aos povos a gravidade da ameaça bolchevista. Em uma palavra: as tropas aliadas não saíram vitoriosas, mas a causa que defendiam despertou uma reação no mundo inteiro que está vencendo, batalha após batalha, os defensores da mentalidade esquerdista e da 3ª Força. Hoje em dia é ponto pacífico que o Partido Conservador vencerá nas próximas eleições gerais na Inglaterra, que deverão ter lugar até o fim do ano; os partidos do centro e do centro-direita tiveram vitórias espetaculares na França; Mac Arthur teve uma recepção em sua pátria que, pela sua grandiosidade e entusiasmo, não só o consagrou herói nacional como também parece ter obrigado o governo a tomar medidas mais favoráveis a Chiang Kai Chek e a destinar maiores verbas para o rearmamento; o exército de cinco milhões de homens que o ocidente está mobilizando para fins de 1952 e o novo impulso das pesquisas e fabricação de armas atômicas, colocarão os soviéticos em inferioridade dentro de ano e meio. O tempo começa a trabalhar contra a Rússia.
É caso de se perguntar agora o que farão os soviéticos. Evidentemente só lhes restam dois caminhos: ou iniciar a guerra mundial até o fim do ano ou tentar voltar ao statu quo de antes do conflito coreano. Vejamos algumas atitudes dos líderes comunistas que dão a impressão de que tentarão, pelo menos, o segundo caminho:
1 — A suspensão das hostilidades na Coréia foi proposta por Jacob Malik.
2 — «Sei que, tanto nos Estados Unidos como na Rússia, existe a mesma aspiração pela paz», declarou Malik ao chegar à Suécia a caminho de Moscou.
3 — Apareceu uma nova revista soviética em língua inglesa, denominada «The News», bi-semanal, para ser vendida em todo o mundo, com a finalidade declarada de «reanimar parte da admiração e cordialidade que existiam entre os russos e os anglo-saxões durante a guerra». Em editorial a revista afirma, mais de uma vez, que «o único desejo dos cidadãos de Moscou, Varsóvia e Praga é que os governos de Londres e de Washington voltem a manter relações amistosas com eles, tratando de assuntos normais e de intercâmbio econômico e cultural». Por outro lado, nega com o maior vigor possível que a guerra seja inevitável e repudia a tese de que «se não for aplicada a força militar contra a URSS, podem surgir modificações de governo em certos países».
Ninguém, é evidente, poderá dar o menor crédito à sinceridade das novas intenções da União Soviética. Mas existe o perigo de, acabada a guerra na Coréia e os russos começando a pregar a paz e a confiança mútua, os governos de Attlee e Truman relaxarem o esforço armamentista. Por enquanto o rearmamento continuará e o Subsecretário da Guerra Britânico, Sir Woodrow Wyatt, advertiu aos que não acreditam na força da Rússia, que esta possui em território germânico vinte e duas divisões blindadas, com mais de cinco mil tanques. O Secretário de Estado Acheson também declarou que, «se não prosseguirmos em nossos esforços, posso assegurar que seremos atacados dentro de seis meses ou um ano, de modo ainda mais violento».
Enquanto é do interesse dos russos vestir a pele de ovelha ou iniciar a guerra até o fim do ano, aos conservadores e aos elementos do centro e do centro-direita de todo o mundo cabe o dever de consolidar as suas posições e não consentir de modo algum em qualquer diminuição do esforço do rearmamento.
São Bernardo
Os soldados de Cristo podem com absoluta segurança de consciência pelejar as batalhas do Senhor, sem receio de cometer pecado com a morte do inimigo, nem desconfiança de sua salvação se sucumbirem. Porque dar ou receber a morte por Cristo não só não implica ofensa de Deus nem espécie alguma de culpa, mas pelo contrário merece muita gloria; pois que no primeiro caso o homem luta por seu Senhor e no segundo o Senhor se dá ao homem como prêmio; já que Cristo olha com agrado a vingança que se faz d'Ele contra seu inimigo, e com um agrado ainda maior se oferece Ele próprio como consolo ao que cai na luta. Assim, pois, afirmamos mais uma vez que o cavaleiro de Cristo mata com tranquilidade de consciência, e morre com confiança e segurança ainda maior. Se sucumbe, consegue para si uma grande vantagem; e, se sai vencedor, triunfa para Cristo. Não é sem motivo que traz a espada ao lado. Pois é ele ministro de Deus para castigar severamente os que se professam Seus inimigos; de Sua Divina Majestade recebeu o gládio para castigo dos que operam o mal e exaltação dos que praticam o bem. Quando tira a vida a um malfeitor, não deve ser chamado homicida, porém "malicida", se é que assim me posso expressar; pois ele executa literalmente as vinganças de Cristo contra os que praticam a iniquidade, e adquire com razão o título de defensor dos cristãos. E se é morto, não dizemos que se perdeu, mas que se salvou. A morte que ele dá é para a gloria de Cristo; e a que recebe é para sua própria gloria. Na morte de um gentio, pode um cristão glorificar-se porque é Cristo que sai glorificado; e em morrer o cristão valorosamente por Jesus Cristo, patenteia-se a liberalidade do grande Rei, pois que tira da terra seu cavaleiro para lhe dar a recompensa. Assim, pois, alegrar-se-á o justo quando sucumbir o gentio, pois vê aparecer a vingança divina. Mas se cai o guerreiro do Senhor, dirá: "Porventura não haverá recompensa para o justo? É fora de dúvida que sim, pois há um Deus que julga os homens sobre a terra". (Ps. 62,11).
Claro está que não se matariam os gentios, se pudessem ser contidos por qualquer outra forma, de maneira que não atacassem, nem estorvassem, nem oprimissem os fiéis. Porém no momento presente melhor é que se acabe com eles do que permitir que fique em suas mãos a vara com que tentam escravizar os justos, para evitar que estes passem com armas e bagagens para o partido da iniquidade.
Saia, pois, de sua bainha a dupla espada espiritual e material dos cristãos, e seja descarregada com força sobre a cerviz dos inimigos para destruir assim tudo quanto se ergue contra a ciência de Deus, isto é, a fé dos seguidores de Cristo, para que não digam jamais esses infiéis: "Onde está seu Deus?" (Do livro de Louvores e Exortações aos Cavaleiros do Templo, Capítulo III. Esses Cavaleiros eram monges guerreiros que se dedicavam à luta contra os maometanos).
A opinião brasileira se tem mais de uma vez manifestado inquieta com os rumos da política social do «peronismo», pois nos custa perceber a linha demarcatória entre o «justicialismo» e o comunismo.
O assunto é tanto mais complexo quanto o presidente argentino não tem perdido ocasião para declamar contra o comunismo.
A revista «Presencia», que se publica em Buenos Aires sob a direção do Revmo. Padre Júlio Meinvielle, publicou a esse respeito uma nota digna de atenção, que aqui transcrevemos:
O presidente Perón deu a seguinte síntese do que chamou «A Mensagem da Vitória»: «Em nós, conosco e por nós, venceu a Pátria!»
Porém, no que consiste a vitória do «peronismo», consubstancializado com a Pátria?
«Tomamos o leme da pátria que ia à deriva, e agora nós argentinos podemos dirigi-la ao porto que queremos!»
E qual é este porto para o qual se dirige a Argentina? Também o disse o presidente Perón: «O povo quer que o conduzamos à total realização de nossa doutrina justicialista».
E qual é a total realização da doutrina justicialista? Também a esta pergunta deu resposta clara e decisiva o presidente Perón: «O justicialismo e o sindicalismo argentino conseguiram descobrir que têm finalidades comuns... Por isso, eu já disse que o governo social da República vai passando progressivamente do Estado à Central operária, a qual representa orgânica e democraticamente, mais de quatro milhões de trabalhadores argentinos.»
Se não lemos mal, o presidente Perón manifesta, aqui, que o governo «social» da República vai passando progressivamente do Estado à C.G.T., isto é, a Confederação Geral do Trabalho. Porém, qual é a atividade governamental da República, que escape ao social? Parece seguir-se então que todas as forças «sociais» da República, sejam elas espirituais, militares, judiciárias, culturais ou econômicas hão de ser tiranizadas pelo núcleo dirigente dos trabalhadores.
Não cumpriríamos nosso dever se deixássemos de assinalar que o socialismo, tal como foi ensinado por Marx e realizado por Lenine e Stalin, não consiste em outra coisa senão em que o poder estatal seja entregue aos operários.
O presidente Perón fustiga muitas vezes o comunismo. Todavia tememos que, levado por um nobre afã de justiça social, esteja promovendo na ordem concreta dos fatos, de maneira irreparável, a entrega do poder público ao proletariado argentino organizado. Se assim for, a vitória que obtiver não estará na linha da grandeza dos povos cristãos.