P.08

PRIMEIRO ANIVERSARIO DE CATOLICISMO"

Mensagem do Exmo. Sr. Bispo Diocesano

“Catolicismo” completa, neste mês de janeiro, um ano de existência.

Em seu primeiro número fixava a folha o seu programa: explanar princípios, divulgar notícias, comentar fatos, tudo com o fim de orientar, segundo a doutrina da Igreja, a opinião especificamente católica. Uma folha de cultura católica, redigida por intelectuais católicos, para leitores católicos, era o que "CATOLICISMO" desejava ser.

A oportunidade deste programa, menos frisante talvez em outros tempos, é, em nossos dias, manifesta. Na alocução que, em 18 de setembro último, fez aos Pais de família, o Santo Padre põe de sobreaviso os fiéis contra toda uma literatura relativa à educação da pureza, elaborada por escritores que se prezam de católicos, e que, em nome da doutrina da Igreja, dirigindo-se a um público especificamente católico, favoreceu a mais franca corrupção dos costumes. A mesma aberração pode notar-se ainda em outros assuntos, Corpo Místico, Liturgia, Ação Católica, Filosofia, Arte, Sociologia, Economia. Sinal dos tempos! Em todos estes campos da vida cultural, é em nome da própria doutrina católica que escritores não raras vazes ilustres têm induzido em erro numerosos filhos da Igreja! Não entramos aqui na análise das intenções. Os fatos, contudo, são estes. Ora, onde ataca o adversário, deve concentrar-se também a defesa. Daí "CATOLICISMO".

Estamos informados de que, felizmente, não só em Nossa amadíssima Diocese mas fora dela, de norte a sul do País, "CATOLICISMO" tem sido recebido com aplausos ardorosos.

Nesta data, cabe ao Bispo Diocesano o dever de gratidão e de justiça, de afirmar que estes aplausos são merecidos.

Pela inteligência, cultura e denodo de seus colaboradores, pela segurança, profundidade e coerência da doutrina que difunde, pela acuidade e brilho dos seus comentários, "CATOLICISMO" tem constituído um guia seguro e providencial para seus leitores.

Invocamos, pois, em favor dele todo o apoio de Nosso amado Clero, e todo o zelo dos devotados apóstolos leigos da Diocese.

E pedimos e Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, que cumule de graças o ilustre diretor, os colaboradores, benfeitores e assinantes de tão excelente jornal.

ANTONIO, Bispo de Campos.


O SANTO PADRE DITA SÁBIAS NORMAS AOS PAIS DE FAMÍLIA

- O Estado existe para a família, não a família para o Estado.
- Uma campanha "católica" para corromper famílias católicas.
- "Urgência trágica" de uma reação.

No, dia 18 de setembro último, em Castel Gandolfo, recebendo uma peregrinação de cem pais de família franceses, o Soberano Pontífice dirigiu-lhes a seguinte alocução, publicada no "Osservatore Romano" de 20 do mesmo mês:

"Uma peregrinação de pais de família! Que alegria para o Nosso coração! Quantas e quantas vezes temos insistido a propósito das mais diversas questões, sobre a santidade da família, sobre seus direitos, sobre seu papel enquanto célula fundamental da sociedade humana. A este título, ela é a vida, a sanidade, o vigor, a atividade da família que asseguram, na ordem, a vida, a sanidade, o vigor, a atividade de toda a sociedade. Pelo fato de receber de Deus sua existência e sua dignidade, sua função social, a família responde por estas perante Deus. Seus direitos e seus privilégios são inalienáveis, intangíveis; ela tem o dever, antes de tudo diante de Deus, e secundariamente diante da sociedade, de defender, de reivindicar, de promover efetivamente esses direitos e esses privilégios, não somente para a sua própria vantagem, mas para a glória de Deus e para o bem da coletividade.

Quantas vezes foram entoados os louvores da Mãe, nela saudando-se o coração, o sol da família! Mas, se a mãe é o coração, o pai é a cabeça da família e, consequentemente, é do valor, da virtude e da atividade do pai, que dependem primordialmente a sanidade e a eficiência da família.

Compreendestes, caros filhos, e é isto que vos congrega aqui, a necessidade para o pai de família de conhecer inteligente, social e cristãmente, seu papel e seus deveres, e viestes, com esta intenção, pedir os conselhos e a benção do Pai comum, chefe da grande família humana.

O pai, protetor natural dos direitos da família

É patente que o vosso primeiro dever, no santuário do lar, é de prover, — no respeito, e em toda a perfeição humanamente possível, de sua integridade, de sua unidade, da hierarquia natural que une entre si os seus membros, — à conservação, à saúde corporal, intelectual, moral e religiosa da família. E este dever comporta evidentemente o de defender e de promover seus direitos sagrados, particularmente o de cumprir suas obrigações para com Deus, de constituir, em toda a força do termo, uma sociedade cristã.

Defender seus direitos contra todas as violências ou influências exteriores capazes de atentar contra a pureza, a fé, a sacrossanta estabilidade da família.

Promover estes mesmos direitos, reclamando da sociedade civil, política, cultural, ao menos os meios indispensáveis ao seu livre exercício.

Os direitos da família em relação ao Estado

Para o cristão há uma regra que lhe permite determinar com certeza a medida dos direitos e dos deveres da família na comunidade do Estado. Ela assim se exprime: a família não existe para a sociedade; a sociedade é que existe para a família. A família é a célula fundamental, o elemento constitutivo da comunidade do Estado, pois, para empregar as mesmas expressões do Nosso Predecessor Pio XI de saudosa memória, "a cidade é o que dela fazem as famílias e os homens, dos quais é formada, assim como o corpo é formado de membros" (Enc. Casti Connubii, de 31 de dezembro 1930 — Acta Apost. Sedis, vol 22, 1930, pg. 554). O Estado deveria portanto, em virtude mesmo, por assim dizer, do instinto de conservação, cumprir o que, essencialmente e segundo o plano de Deus Criador e Salvador, é o seu primeiro dever, isto é: garantir absolutamente os valores que asseguram à família a ordem, a dignidade humana, a sanidade, a felicidade. Esses valores, que são elementos do próprio bem comum, jamais se permite sacrificá-los ao que poderia aparentemente ser um bem comum. Indiquemos somente a título de exemplo, alguns destes elementos que se acham, na hora presente, no maior perigo: a indissolubilidade do casamento; a proteção da vida antes do nascimento; a habitação conveniente da família, não de um ou dois filhos, ou mesmo sem filhos, mas da família normal mais numerosa; fornecimento de trabalho, pois o desemprego do pai constitui a mais amarga aflição da família; o direito dos pais sobre os filhos, em face do Estado; a plena liberdade para os pais de educar seus filhes na verdadeira Fé, e, consequentemente, o direito dos pais católicos à escola católica; condições de vida pública e particularmente uma tal moralidade pública que as famílias, e sobretudo a mocidade não se encontrem na certeza moral de se corromperem.

Firmeza na luta pelos direitos essenciais da família

Sobre este ponto e ainda sobre outros, que tocam mais ao fundo a vida familiar, não há entre as famílias qualquer diferença; sobre outras questões econômicas e políticas, em compensação, elas podem se encontrar nas condições mais diversas, díspares e às vezes em concorrência, quando não em oposição. É aqui que urge esforçar-se — e os católicos empenhar-se-ão em dar o exemplo — por promover o equilíbrio, mesmo que fosse ao preço do sacrifício de interesses particulares, em vista da paz ulterior e de uma sã economia.

Mas quanto aos direitos essenciais das famílias, os verdadeiros fiéis da Igreja se empenharão até o fins para os sustentar. Poderá acontecer que, aqui ou acolá, sobre um ponto ou outro, alguém se encontre na necessidade de ceder diante da superioridade das forças políticas. Mas neste caso, não se capitula, suporta-se. E ainda é necessário, em tal caso, que a doutrina permaneça a salvo, e que todos os meios eficazes sejam empregados para se dirigir progressivamente ao fim ao qual não se renuncia.

Entre estes meios eficazes, mesmo que os seus resultados fossem longínquos, um dos mais poderosos é a união entre os pais de família firmes nas mesmas convicções e na mesma vontade. Vossa presença aqui é um testemunho de que este é o vosso pensamento.

Outro meio que, mesmo antes de obter o resultado visado, jamais é estéril, e que, na falta ou na expectativa de um sucesso que se continua a almejar, sempre traz os seus frutos, é o cuidado, nesta coligação de pais da família, de agir para esclarecer a opinião pública, para a persuadir, pouco a pouco, de favorecer o triunfo da verdade e da justiça. Nenhum esforço para agir sobre a opinião publica deve ser desprezado ou negligenciado.

"De fonte católica, visando agir sobre católicos"

Há um terreno no qual esta educação da opinião pública, e sua retificação, se impõem com uma urgência trágica. Ela se acha, neste campo, pervertida por uma propaganda que não se hesitaria de chamar funesta, se bem que desta vez ela emane de fonte católica, e vise agir sobre os católicos, e mesmo se os que a exercem não pareçam suspeitar que são, sem o saber, iludidos pelo espírito do mal.

Queremos falar aqui dos escritos, livros e artigos, concernentes à educação sexual, que hoje em dia obtém frequentemente enormes sucessos de livraria e inundam o mundo inteiro, invadindo a infância, afogando a geração adolescente, perturbando os noivos e os jovens esposos.

Com toda a seriedade, a atenção e a dignidade que o assunto comporta, a Igreja tratou a questão duma instrução nesta matéria, tal como a aconselham ou a reclamam não só o desenvolvimento normal físico e psíquico do adolescente, como também os casos particulares nas diversas condições individuais. A Igreja pode fazer justiça a si própria declarando que, com o mais profundo respeito pela santidade do matrimônio, Ela deixou, na teoria e na prática, os esposos livres naquilo que o impulso de uma natureza sã e honesta autoriza sem ofensa do Criador.

"Aterrado em face da intolerável desfaçatez"

Fica-se aterrado em face da intolerável desfaçatez de uma tal literatura: quando, diante do segredo da intimidade conjugal, o próprio paganismo parecia deter-se com respeito, precisa-se assistir à violação do seu mistério e dar dele uma visão — sensual e vivida — como alimento ao grande público e à própria juventude. Verdadeiramente, é de se perguntar se a fronteira está ainda suficientemente determinada entre esta iniciação, que se diz católica, e a imprensa ou a ilustração erótica e obscena, que de caso deliberado visa a corrupção ou explora vergonhosamente por vil interesse os mais baixos instintos da natureza decaída.

Não é tudo. Essa propaganda ameaça também o povo católico com um duplo flagelo, para não empregar uma expressão mais forte. Em primeiro lugar, ela exagera desmesuradamente a importância e o alcance, na vida, do elemento sexual. Concordamos em que esses autores, do ponto de vista puramente teórico, ainda respeitam os limites da moral (conclui na página 7)


UMA VIRTUDE ODIADA

A coragem de julgar o próximo

São Bento

São Bento, referindo-se à degradação de certos Monges de seu tempo, escreveu no capítulo 1 da Santa Regra:

A terceira e péssima espécie de monges é a dos sarabaitas, que, não sendo provados por nenhuma Regra, nem pela experiência, como ouro na fornalha, mas sendo, pelo contrário, moles como o chumbo, permanecendo ainda fieis ao século par suas obras, mentem a Deus pela tonsura. Os quais, andando sem pastor, aos dois ou três, ou mais comumente sós, não nos apriscos do Senhor mas nos seus próprios, têm por lei a volúpia dos desejos: de sorte que qualquer coisa que pensarem ou preferirem, a isto chamam santo, e ilícito ao que não quiserem.

* * *

A quarta espécie é a dos monges chamados girovagos, que passam toda sua vida hospedando-se por três ou quatro dias em mosteiros diferentes, sempre vagando e nunca estáveis, servindo com requinte a suas próprias volúpias e sua gula, e sob todos os pontos de vista piores que os sarabaitas. Do detestável modo de vida de uns e outros, é preferível silenciar do que falar.