* * *
O ano de 1952 transcorreu tão cheio e simultaneamente tão vazio, nele tanta agitação houve e tudo ficou de tal maneira na mesma, que do tumulto dos fatos a um tempo graves e inócuos que o encheram, apenas uma impressão nos ficou ao passar do dia 31 de Dezembro para o dia 1 de Janeiro: então, o ano já acabou?* * *
Desde o armistício, os observadores vêm esperando, em cada fim de ano, que o próximo seja “decisivo”. Bem entendido, cada qual espera a “decisão” num sentido conforme a seu temperamento. Os otimistas contam com uma súbita explosão de bom senso e de cordialidade de lado a lado, que resolva calma e rapidamente, em torno de uma mesa de conversações diplomáticas, todos os problemas pendentes entre os dois grandes blocos, ocidental e oriental. Os pessimistas também contam com uma explosão, mas de natureza bem diversa, que opere de um momento para outro, por um bombardeio atômico, uma transformação radical no mapa político. Ora, as coisas mais inesperadas têm sucedido, mas precisamente o que não tem vindo é a “decisão”. Os anos se vão escoando um após outro, os problemas se vão agravando, a guerra fria vai consumindo cada vez mais as energias morais e materiais da humanidade. A perpétua proximidade deste desfecho que nunca chega vai empurrando cada vez mais o mundo na direção do socialismo, da desorganização e da pobreza. A precariedade crônica de todas as instituições, leis e sistemas vai desmoralizando cada vez mais os costumes privados. A ilogicidade flagrante de tudo quanto se passa na vida política vai tornando cada vez mais habituados os homens à idéia abstrusa de que a era da lógica e da inteligência já terminou, e de que o normal da existência humana é ser caótica, contraditória, irracional. Em última análise o post-guerra está sendo pelo menos tão ruinoso para o mundo quanto a própria guerra. O que será 1953 nesta sucessão de anos de “paz”? Trará uma “decisão”? Ou será mais uma etapa de ruinosa, de mortal indecisão? Se a política internacional ainda fosse governada pela lógica, se ainda fosse movida por princípios definidos, e interesses confessáveis, seria útil ponderar diversas hipóteses, para chegar a uma resposta mais ou menos provável. Mas as idéias estão valendo muito pouco. Pode-se por exemplo reconhecer um caráter nitidamente ideológico a uma guerra fria - ou amanhã a uma guerra “quente” - em que há comunistas em ambas as trincheiras, isto é, numa os russos, e na outra os iugoslavos? Os interesses, pelo contrário, estão valendo muito. Mas quais são eles? Quais os potentados mil vezes mais ricos e mais despóticos do que César, Alexandre ou Napoleão, que por detrás dos bastidores dirigem este sabbath de confusão e corrupção em que se transformou o mundo de hoje? Como determinar quais os seus planos desde que eles os ocultam habilmente na imensa cacofonia contemporânea?* * *
Em vez de olhar para o dia de hoje, tentando desvendar com os dados que ele nos apresenta o dia de amanhã, seria mais interessante colocarmo-nos na perspectiva grandiosa que se desvenda nas palavras apocalípticas que o Santo Padre Pio XII dirigiu aos Homens da A. C. italiana. Remontemos com o Papa até o século XVI. Desse distante ponto de mira veremos melhor o futuro que nos aguarda, talvez não em 1953, mas em data não muito remota, se não tomarmos o caminho de uma verdadeira emenda. Fala-nos o Papa de três revoluções religiosas sucessivas. A primeira teve como brado de guerra: “Jesus Cristo sim, a Igreja não”. Clara alusão ao protestantismo que irrompeu no século XVI. A segunda lançou um brado de guerra mais audacioso: “Deus sim, Jesus Cristo não”. O Sumo Pontífice se refere evidentemente ao deísmo do século XVIII, que culminou com a festa do Ser Supremo durante a Revolução Francesa. Por fim veio uma terceira revolução, tendo por lema: “Deus morreu, ou antes Deus nunca existiu”. É uma indiscutível alusão ao ateísmo do século XIX. Como fato mais recente, o Papa indica uma consequência imensa no campo político, econômico e social: “eis agora a tentativa de construir o mundo sobre bases que não hesitamos em apontar como as principais responsáveis pela ameaça que pesa sobre a humanidade: uma economia sem Deus, um Direito sem Deus, uma política sem Deus”. Onde se desenvolve esta tentativa? Em outros termos, onde há uma política sem Deus, uma economia sem Deus, um Direito sem Deus? Praticamente, no mundo inteiro. É este mundo do qual se expulsou Deus, que se trata agora de organizar em bases novas. Com efeito, nos Tempos Modernos o regime de união entre a Igreja e o Estado, que tem como corolário lógico a soberania da Lei de Deus no Direito, na política, na economia, começou a ser falseado. Conservando embora as aparências da união, o Estado laicizou gradualmente esferas cada vez mais vastas da vida temporal, e interveio abusivamente no domínio espiritual. Aquilo que antes da Revolução Francesa era uma simples situação de fato, depois dela passou a ser também uma situação de direito. Em outros termos, a vida temporal se foi tornando cada vez mais leiga e ao mesmo tempo o laicismo passou a ser oficialmente proclamado como o próprio fundamento da organização política, econômica e social. Em conseqüência, quase por toda a parte a Igreja foi sendo separada do Estado, e se tornou oficial que Deus nada mais tem que ver com a existência terrena dos homens. Foi este, por exemplo, o sentido da separação no Brasil, em 1889. Tal é o golpe tremendo, a chaga profunda de que padece o mundo contemporâneo. O mais - guerras, crises, confusão - não passa de consequência. E como não se faz cessar uma moléstia sem atacar as suas causas, enquanto não abandonarmos o laicismo e não voltarmos para uma sociedade que seja autenticamente católica de direito e de fato, estaremos caminhando de catástrofe em catástrofe até a crise que ponha fim a esta civilização. Em outras palavras - e é esta a lição que nos fica bem clara no espírito - a crise continuará a maturar gradualmente, como há séculos já o vem fazendo. Durará mais, ou durará menos a explosão final: será 1953, 1963, ou qualquer outro o ano em que ela chegará à sua consumação? O Pontífice não o diz. Mas dia mais dia menos o desfecho virá terrível, se a humanidade não retroceder em seu caminho de apostasia. Pois tudo no mundo tende a seu fim lógico e natural: e o fim lógico e natural de toda crise, de toda moléstia, é a grande catástrofe orgânica a que damos o nome de morte.* * *
Pio XII nos fala de um “inimigo” autor de todas estas desgraças. Lendo no texto pontifício a obra que este misterioso “inimigo” realiza, o pensamento voa em mil direções: para as Encíclicas monumentais com que Leão XIII condenou a maçonaria, apontando-a como autora do grande plano de corrupção que Pio XII tão bem descreve em sua realização atual; para Dom Vital, sua luta ingente, sua santa e misteriosa morte; e, mais, muito mais para trás no longo passado da Igreja, para as revelações imponentes do Apocalipse, em que a história da luta entre o bem e o mal se desdobra em quadros grandiosos, desde a luta entre S. Miguel e Lúcifer, até o Anti-Cristo e o fim do mundo. Neste imenso panorama, torna-se-nos claro que chegamos a um verdadeiro apogeu do poder do “inimigo”, e que na aparência tudo está perdido. Mas nele aprendemos igualmente que a Providência jamais abandonará os filhos da Igreja na luta contra o demônio ao longo da História. Não é em vão que o Sumo Pontífice, falando do “inimigo” misterioso de nossos dias, o compara a Átila. Com efeito, a figura do famoso chefe huno passou para a História e para a lenda como a personificação da força destruidora no auge de seu ímpeto, de sua universalidade, de sua invencibilidade. Ao que se conta, ele mesmo se intitulava “flagelo de Deus”, e se jactava de uma tal força de destruição que nem a erva renascia sob as patas de seu cavalo. Invadindo a Europa já destroçara todas as linhas de defesa do Império romano cristianizado. A conquista de Roma representava para ele a derrota do mundo civilizado. A capital da Cristandade estava sem soldados, sem armas, sem defesa. Nesta situação trágica, o Papa São Leão I saiu ao encontro do rei huno, seguido apenas de pequena comitiva, e confiando unicamente na Providência Divina. Segundo documentos antigos, Átila, ao se acercar do Santo Pontífice, percebeu no Céu os vultos de São Pedro e São Paulo, que, com expressão terrível lhe ordenaram que retrocedesse. Obedeceu-lhes o “flagelo de Deus”. Roma estava salva. Em face de Átila São Leão I passou a encarnar para todos os séculos vindouros a virtude da confiança, pela qual o fiel, mesmo nas situações mais extremas, não perde o alento e continua a lutar, esperando tranquilamente em Deus.* * *
Caminhamos com ânimo calmo, vontade resoluta, sobranceria inalterável, nestes primeiros dias de 1953, olhando menos para Átila e seu poderio tremendo, do que para o Papa S. Leão e seu admirável exemplo. Confiantes na intercessão onipotente de Nossa Senhora, continuamos a lutar, certos de que a vitória será nossa.Fernando Furquim de Almeida
Votada a lei Falloux, e promulgada pelo Príncipe Presidente, cessava a razão de ser da luta sem quartel que Luís Veuillot vinha movendo contra ela até então. Apesar dos seus graves defeitos, a lei representava para os católicos uma melhoria da situação do ensino na França. Daí a seguinte declaração, que Veuillot inseriu no "Univers":
"A lei do ensino foi votada. Nós a combatemos sem tréguas, com um vigor e uma perseverança iguais à nossa convicção. Queríamos que fosse rejeitada, não pudemos nem sequer melhorá-la. Ela sai da votação com todas as lacunas, todos os inconvenientes e todos os perigos que assinalamos, e coloca a Igreja em uma situação difícil e perigosa: consolida a Universidade e afasta, talvez para muito longe, o dia da liberdade, cuja aurora, em dado momento, acreditamos poder saudar.
"Que este último protesto seja escutado, porque não protestamos só em nosso nome: a maioria dos católicos está conosco. Não, essa liberdade que se pretende dar-lhes não é liberdade, e sobretudo não é a que pedíamos para nós e para os outros: não é a liberdade de ensino, não é a liberdade de consciência, não é a liberdade da família, não é a liberdade da comuna, não é a liberdade da Igreja. Enfim, não é a liberdade". "Obedeceremos. Nossos bispos são os guardiões das consciências cristãs. A lei será para nós o que for para eles. Deus não permita que jamais nos falte docilidade e coragem para executar as resoluções que eles tomarem, na sua sabedoria inspirada pela fé. "Os laços tão fortes e tão caros que nos ligavam a alguns dos autores da lei não estão rompidos. Estamos prontos para marchar de acordo com eles. Seja para reformar a lei, se com a experiência ela se revelar decididamente má, o que eles reconhecerão tão prontamente quanto nós; seja para dela tirar o melhor partido possível, se for exeqüível, o que veremos tão bem quanto eles; seja para defendê-la, se decididamente nos tivermos enganado. E possa esta última eventualidade se realizar, de preferência a todas as outras! Nosso amor-próprio não pode ser ferido, quando o interesse da Igreja está salvo".
Nem todos os que haviam participado da luta do mesmo lado que Veuillot sentiam-se com disposições iguais às suas. Assim, determinando a lei Falloux que o episcopado francês elegeria quatro bispos como representantes no Conselho Superior da Universidade, alguns prelados se recusavam a tomar parte na eleição, enquanto outros, como Mons. Pie e Mons. Parisis, desejavam promover a pronta revogação da nova lei.
Mons. Dupanloup e Montalembert pediram então a intervenção da Santa Sé, porque o governo não queria se expor a uma derrota diante da resistência que ainda perdurava. Dois meses depois, Pio IX respondeu lembrando que a Igreja sabe, quando necessário, contentar-se com a liberdade imperfeita, desde que compatível com sua existência e seus deveres. Nesse sentido recomendava que os católicos aceitassem a lei Falloux. Dóceis às diretrizes pontifícias, os bispos procederam à eleição. Foram escolhidos para integrar o Conselho Universitário: Mons. Gousset, Arcebispo de Reims; Mons. Morlot, Arcebispo de Tours; Mons. Parisis, Bispo de Langres; e Mons. Dupanloup.
Estava encerrada a campanha pela liberdade de ensino. Até hoje este é regido na França pela lei Falloux, com algumas modificações, quase todas contrárias aos interesses da Igreja.
Apesar da boa vontade demonstrada por Veuillot no artigo acima referido, apesar da docilidade de Mons. Parisis e Mons. Pie, que manifestaram a Montalembert sua adesão à lei depois da palavra de Pio IX, não foi mais possível a união entre os católicos franceses. Estavam eles definitivamente divididos, o Partido Católico dissolvido. Mons. Dupanloup iria capitanear os partidários da nova legislação do ensino e conduzi-los para o liberalismo católico, tornando a cisão cada vez mais profunda.
O espírito de acomodação, o desejo de concordar com o "progresso" e as novas idéias, que moviam o Conde de Falloux e os católicos a se baterem pela aprovação de um projeto de lei, encerravam o mais belo capítulo da história do movimento católico francês no século XIX. E com ele se apaga também a beleza e brilho de uma vida tão inteiramente dedicada ao ideal — a do Conde de Montalembert. Depois da lei Falloux, Montalembert se alinhou com os católicos liberais. Mas se fez carreira, se foi presidente da Academia Francesa, deputado, etc., seu renome se deveu quase exclusivamente à campanha pela liberdade de ensino, que soube conduzir admiravelmente até o momento em que decidiu dar-lhe um fim inglório.
Por ocasião do qüinquagésimo aniversário de sua profissão na Ordem Terceira de S. Francisco, o Santo Padre dirigiu aos Ministros Gerais das Ordens Franciscanas — Frades Menores, Conventuais, Capuchinhos e Ordem Terceira Regular de S. Francisco — uma carta autografa, em latim, que foi publicada em 4 de outubro. Dada a singular oportunidade de muitos dos ensinamentos contidos nesse documento, traduzimo-lo do texto francês estampado na edição hebdomadária do “Osservatore Romano”, de 10 do mesmo mês. As notas são desta redação.
"CAROS FILHOS
Saudação e Benção Apostólica
A CARTA coletiva de homenagem que Nos enviastes relembra um acontecimento que Nos é realmente dos mais caros: há exatamente cinquenta anos, ainda Padre muito jovem, dávamos com ardor Nossa adesão à Terceira Milícia do Patriarca de Assis, e não foi sem uma profunda alegria que entramos para a grande Família Franciscana.
Com efeito, desde Nossa juventude, compreendemos o quanto era útil esta Instituição do vosso Pai Fundador e toda a sua oportunidade, não somente para as condições dos homens da Idade Média, mas igualmente para nossa época, que é agitada por desordens intelectuais, por discórdias civis, por lutas e abusos não menores (1).
E sabemos que para tais males, que perturbam os costumes privados e públicos e ameaçam subverter os próprios fundamentos da sociedade humana, não pode existir senão um só remédio, a saber, o retorno a Cristo (2 ), cuja imagem vosso Seráfico Pai representou de maneira maravilhosa, nos atos de sua vida de cada dia e no seu corpo.
Aspirando fortemente a tudo renovar conforme a lei cristã, fundou ele a dupla Ordem de religiosos e de freiras, que, emitindo votos solenes, assumiam a obrigação de se modelar segundo a vida evangélica. Animado do ardente desejo de conduzir igualmente todos os outros cristãos à Pátria celestial, sem poder acolher a todos no claustro, ele pensou em fazer com que aos que vivem no meio da agitação do mundo se abrisse também uma via apropriada, graças à qual cada um, segundo as exigências de seu próprio estado, pudesse chegar à perfeição cristã. Foi assim que ele fundou a Ordem dos Terceiros, à qual atribuiu como característica a prática da penitência pelas faltas pessoais e do próximo, e o fervor da caridade fraterna, da concórdia familiar e social e, especialmente, um amor dos mais ardentes para com Deus, amor capaz de arrancar os homens não somente das tentações dos vícios, mas também das satisfações das alegrias terrenas e da cupidez das riquezas (3).
Com efeito, ele sabia muito bem que um desejo desenfreado de possuir e uma sede insaciável de prazer inflamam o espírito de muitos e que daí nascem as desavenças, surgem as discórdias, alimentam-se as lutas e os ódios, que não cessam de transtornar e devastar a sociedade humana, segundo o ensinamento: "De onde vêm as guerras e os combates entre vós, se não das vossas paixões?" ( Jac. IV, 1 ) (4).
Portanto, tal como na época do Santo de Assis, do mesmo modo nestes tempos de hoje a regra da Ordem Terceira pode, sem nenhuma dúvida, ser de grande utilidade para este fim. Como se trata principalmente dos mesmos males, se bem que sob um aspecto diferente, convém utilizar, segundo a ocasião, os mesmos remédios (5). Que os terceiros procurem, pois, compreender inteiramente e pôr em prática o espírito da Instituição, segundo o pensamento e as aspirações do seu Pai Fundador. E com a integridade da fé, com a pureza da vida, com o mais zeloso empenho em adquirir todas as virtudes, esforcem-se por espalhar o bom odor de Cristo.
Desejamos vivamente, caros filhos, que esta feliz comemoração de um de Nossos aniversários pessoais resulte em vantagem comum para as almas e sirva grandemente ao despertar do espírito seráfico e à difusão das sólidas virtudes nas quais o rico e pobre Francisco tanto se distinguiu.
E sentimos uma inteira satisfação quando escreveis que numerosos terceiros estão inscritos nas fileiras da Ação Católica, e bem frequentemente nelas ocupam postos de responsabilidade. Vossa Instituição realizará pois uma coisa excelente e das mais oportunas se conceder sua fraternal colaboração às associações de Ação Católica, uma vez que as forças unidas se tornam mais vigorosas e eficazes, e os inimigos do nome cristão são tais que, para repeli-los, fazem-se necessários os esforços de todos os bons (6).
Assim, ao mesmo tempo que vos somos cordialmente agradecido pelas próximas celebrações em Nossa honra, desejamos e pedimos a Deus que a Ordem Terceira Franciscana, que tanto merece da Igreja Católica, cada dia receba maior desenvolvimento e produza frutos mais abundantes.
Seja penhor destes frutos salutares, e testemunho de Nossa paternal benevolência, a Bênção Apostólica que vos damos, com efusão de caridade, a cada um de vós, caros Filhos, e a todos os irmãos da Ordem Terceira Franciscana.
Dado em Roma, junto de São Pedro, em 15 de agosto, festa da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria, do ano de 1952, XIV° de Nosso Pontificado.
Pio XII"
Notas da Redação
(1) — Quando a Providência suscitou na Europa os dois grandes Patriarcas Francisco e Domingos, a Cristandade estava minada por um mal terrível, o gosto dos prazeres, que afastava grande número de pessoas da prática dos Mandamentos, e favorecia a pululação das heresias. Foi graças a estes dois homens de Deus, e às famílias religiosas que fundaram, que a Europa evitou precipitar-se então no despenhadeiro de corrupção e infidelidade em que caiu no século XVI com o renascentismo neo-pagão e o protestantismo. Os historiadores são acordes em reconhecer que Francisco e Domingos apareceram em momento gravíssimo da vida da Igreja. Pio XII afirma que os males contemporâneos não são menores que os daquela época: verdade oportuna para os comodistas que se obstinam em imaginar que a sociedade de hoje é para a barca de S. Pedro um mar de rosas.
(2) — O Santo Padre afirma mais uma vez que o remédio por excelência para os males contemporâneos é, não de ordem econômica ou técnica, mas religiosa: a volta a Nosso Senhor. Tanto é preponderantemente religiosa a crise contemporânea. É desnecessário acrescentar que em sua esfera própria a técnica e a economia podem contribuir utilmente para este fim.
(3) — O Santo Padre enumera aqui os meios para obter a volta a Nosso Senhor. E antes de todos menciona a reparação pelas faltas pessoais e alheias: outra advertência útil para nosso século, em que o horror ao sacrifício se nota em tudo.
(4) — A causa dos males contemporâneos é pois a sede de prazeres.
(5) — Mudaram os tempos, mudaram os homens, mas os grandes meios de salvação e santificação não mudam: a Regra da Ordem Terceira é eficaz hoje como era no século XIII.
(6) — É o pensamento já expresso na Constituição “Bis Saeculari”: a A. C. e as outras associações.