Este quadro de Masaccio (século XV) representa o episódio evangélico em que o Divino Salvador enunciou a máxima imortal: "Dai a Cesar o que é de Cesar, dai a Deus o que é de Deus" (Mt. 22, 15). Cesar deve dar a Deus o que é de Deus. O Estado deve dispor a vida temporal de sorte que esta favoreça a ação moralizadora e salvadora da Igreja. As normas que o Exmo. Revmo. Sr. Bispo de Campos traçou para o eleitorado católico desta Diocese são uma aplicação firme, arguta e prudente da máxima sapientíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo.
DIRETRIZES AOS FIÉIS DA DIOCESE PARA AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES
De ordem de S. Excia. Revma. o Sr. D. Antonio de Castro Mayer, Bispo Diocesano, comunico ao Revmo. Clero e fiéis da Diocese de Campos as seguintes diretrizes, relativas ao exercício do direito de voto nas próximas eleições:
1) A obrigação de amar a Deus sobre todas as coisas, estabelecida pelo primeiro Mandamento, tem como corolário que devemos amar de todo o coração a Santa Igreja, que é o Corpo Místico de Jesus Cristo. Assim, quando se aproxima para cada católico a oportunidade de influir, por meio do voto, na solução dos grandes problemas atinentes à defesa e incremento da civilização cristã no Brasil, deve ele sobrepor o zelo pelo triunfo dos princípios católicos a quaisquer outras considerações, como interesses pessoais, relações de família, conveniências sociais ou preferências partidárias.
2) Agindo por esta forma, o católico cumpre também seu dever de bom brasileiro, pois atende aos mais altos e fundamentais interesses do País. A civilização cristã consiste na organização da vida temporal segundo as normas de suprema sabedoria contidas na Revelação e ensinadas pela Igreja. Escreveu Santo Agostinho que essas normas, embora tenham em vista a salvação eterna, têm um efeito tão benfazejo sobre a vida terrena que parecem ter sido feitas apenas para regular a boa ordem dos Estados. E a historia confirma_ que os povos tanto mais se adiantam ou retrocedem nas vias do verdadeiro progresso, quanto mais observam a Lei de Deus ou dela se afastam.
3) A importância destes princípios é flagrante para o Brasil, cujos fundamentos tradicionais são essencialmente católicos. Um Brasil que deixasse de ser católico deixaria, ipso facto, de ser brasileiro.
4) As circunstancias do momento presente dão a estas considerações uma gravidade especial. A civilização ocidental, por ter abandonado quase completamente seus fundamentos tradicionalmente cristãos, se encontra na voragem de uma crise que — prenunciada há quarenta anos por Nossa Senhora em Fátima — ameaça ser a maior da história universal. O Brasil, integrado na civilização ocidental, sofre desse processo de apostasia e decadência, cujos sintomas se notam cada vez mais nitidamente nos problemas agitados na imprensa, no radio, no cinema e nos parlamentos. Cruzar os braços em momento como este é, para o fiel, tornar-se réu da inércia, feita de tibieza e medo, dos Apóstolos no Horto das Oliveiras.
5) Assim, se bem que a Igreja não tenha a menor preferência partidária, o eleitor católico deve recusar a priori seu apoio a todo partido cujo programa contrarie os preceitos de nossa santa Religião. Mais particularmente, deve ele negar seu voto a partidos que sejam contrários à indissolubilidade do vínculo conjugal, ao ensino religioso, à assistência espiritual às forças armadas, á hospitais e prisões, etc.
Isto, entretanto, não basta. A Igreja é tutora da Lei Natural e, como tal, protege em toda a sua amplitude o direito de propriedade. Não pode Ela consentir em que, sob pretexto de afirmar a função social, inerente à propriedade, se chegue ao extremo de restringir, mutilar ou até eliminar o caráter privado desse direito. Tanto vale dizer que um programa comunista ou socialista não poderia ser apoiado por um católico, ainda que parecesse respeitar a Religião e a família.
Cumpre também lembrar que o mito de uma sociedade sem classes sociais é fundamentalmente contrário à doutrina da Igreja. Ensina esta que, conforme os sábios e amorosos desígnios da Providencia, a sociedade deve ser formada por classes desiguais, que cooperem para o bem comum segundo os ditames da justiça e da caridade. A Igreja, protetora do Direito Natural, intervém na questão social, não para fomentar a luta de classes favorecendo os interesses exclusivos desta ou daquela categoria social, mas para estabelecer entre elas harmônica coexistência e equitativa cooperação. Por isto, a Igreja pleiteia o reconhecimento da função social da propriedade e condições de vida justas e decorosas para o operariado, mas exige também o respeito aos direitos dos patrões e a integridade da propriedade privada.
6) Advirtam os católicos que não se devem contentar com simples rótulos ou aparências. No exercício do direito de voto, devem eles discernir com perspicácia os partidos políticos ou os candidatos que apresentem eventualmente, em seus programas ou discursos, a par de fórmulas ou generalidades vagamente cristãs, diretrizes eivadas de uma concepção socialista
(continua)