Wellington da Silva Dias
O pujante movimento "Pro-Life" norte-americano divulgou estarrecedora foto em que aparece uma pobre vítima abortada, antes de ser incinerada no crematório de cães abandonados da cidade de Wichita, no estado de Kansas. Nenhum protesto, nenhuma compaixão...
CONVIDO o prezado leitor a fazer comigo uma viagem. Mas recomendo-lhe que se prepare, porque vamos descer fundo às obscuras e hipócritas vias deste acabrunhador fim de século para apresentar-lhe uma das contradições mais escandalosas de todos os tempos: chacinam-se inocentes ao mesmo tempo que se difunde verdadeiro culto aos animais!
Conhecida atriz do cinema brasileiro declara com frieza à revista "Veja" alguns detalhes de 16 abortos por ela cometidos. Informa a revista "Newsday" que em Ohio, Estados Unidos, uma clínica está fazendo experiências com cérebros e corações de 100 crianças arrancadas do ventre materno. Já o "New England Journal of Medicine" descreve outro tipo de experiência, na qual crianças abortadas, ainda vivas, são lançadas num moedor de carne, até se obter uma pasta homogênea.
Dezesseis mil fetos foram encontrados num caminhão de carga em Los Angeles. Pelo menos cerca de dois milhões de inocentes são assassinados por ano, no Brasil, pela prática do aborto. Em Turim, Itália, as estatísticas oficiais acusaram, nos três primeiros meses do ano passado, maior número de crianças abortadas do que nascidas. E o "About Issues", de Stafford, Estados Unidos, descreve fato abominável ocorrido na cidade de Richmond: cães famintos viraram os sacos de lixo de um hospital; após o que se travou briga entre eles e o fruto do aborto foi espalhado pela rua. Depois disso os cães comeram a carne, os ossos e placenta das crianças!
Na França, a alfândega interceptou, na fronteira com a Suíça, um caminhão de fetos destinados à fabricação de cosméticos. Na Alemanha, o Ministério da Saúde investiga um laboratório que admitiu usar vítimas de aborto em um de seus produtos. O "Daily Telegraph" afirma que a mais poderosa indústria química da Inglaterra utiliza como cobaias crianças vivas abortadas. E o Parlamento sueco - segundo a revista "Pross" - é notificado de que certas fábricas, já há mais de dezessete anos, recolhem fetos humanos e os mantêm vivos durante o tempo necessário para obter material apropriado para os cosméticos.
Assim, não parece inverossímil o dado que nos fornece a conhecida revista econômica norte-americana "Fortune": o sinistro comércio estabelecido com o massacre de inocentes atinge hoje, só nos Estados Unidos, a impressionante cifra de meio bilhão de dólares.
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A onda é universal, pois não há nação que não esteja atingida por ela em grau maior ou menor. O homem moderno vai sendo assim conduzido, como que irreversivelmente, para um estado de coisas diametralmente oposto à civilização cristã.
A abominação e o pecado estão comodamente instalados, e o clamor da indignação, da santa cólera ante tantas infâmias, quase não se ouve em parte alguma.
Cumpre lembrar que o nascituro é sujeito de direito desde o momento da concepção, como qualquer homem. Segundo a doutrina católica, atentar contra sua vida constitui homicídio, tal como o é eliminar a existência de um homem já nascido.
Parece que sobre essas vítimas indefesas não se volta o zelo dos chamados defensores dos direitos humanos. Hoje em dia, eles estão assoberbados com outras ocupações, como por exemplo defender freneticamente o "direito dos animais". Em meio a tantos absurdos e abominações morais, é oportuno recordar algumas normas de bom senso.
Só a pessoa humana - ser inteligente dotado de alma imortal - é sujeito de direito. Os animais brutos - seres irracionais - jamais poderão ser sujeitos de direitos.
Então, é lícito aos homens maltratar os animais? Segundo a doutrina católica, não. Qual a razão? Uma vez que o homem é dotado de inteligência, todas as suas ações devem se conformar à reta razão. Ora, é contrário a esta, e, portanto, à própria dignidade humana, praticar crueldades contra os animais.
Assim, não é um pretenso direito dos animais que torna ilícitos os maus tratos que o homem possa lhes infringir, mas é a própria natureza racional do homem o que proíbe de praticar tais atos.
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O aborto, grande pecado aos olhos de Deus, é ainda considerado crime pela legislação brasileira. Mas a sanção contra esse crime praticamente não existe. Talvez porque a atenção esteja voltada para os "crimes"... contra os passarinhos! Pois o "Diário do Congresso Nacional" (4-6-83) informa que tramita há meses na Câmara um projeto de lei que visa proibir o "aprisionamento de pássaros ou de quaisquer outras aves" e "decide sobre sua libertação compulsória" (sic). Ou seja, ter em casa um cantante canário, criado por Deus para alegrar o homem, poderá trazer consequências desagradáveis. Poderá? Em Campo Mourão, no Paraná, um comerciante já foi submetido a inquérito e sujeito à prisão de 3 meses a um ano, ou multa de um a dez salários mínimos, pelo "crime" de haver espantado algumas andorinhas que sujavam as mesas de sua lanchonete (cfr. "Estado do Paraná", 26/6/84).
O instituto Jurídico Internacional para a Proteção dos Animais, com sede em Bordeaux, na França, chegou a publicar um manual com instruções de como denunciar à Justiça os "abusos" cometidos contra os animais. Assim - notícia "The Times", de Londres (27/7/83) - na Irlanda um jovem foi parar na cadeia, condenado a três meses de prisão, por haver matado um gato. Na Suécia, outro jovem, denunciado pela própria noiva, foi lançado à prisão durante um ano, por haver "assassinado" uma ratazana. Na França, por haver abalroado seu cão, um senhor permaneceu quinze dias no xadrez. E na Inglaterra um comerciante de Stockton está para ser processado por crueldade contra as piranhas. Sobre este último caso, um pormenor nos é fornecido pelo órgão norte-americano "Rocky Mountain News" (4/1/84). O porta-voz da "Real Sociedade para Prevenção de Crueldade contra os Animais" declarou que a "ideia de haver na água mãos portadoras de germes é perturbadora, extremamente repugnante". Essa "extrema repugnância", entretanto, não existe quando se trata de utilizar como cobaias, neste mesmo país, crianças abortadas vivas!
Para atender a essa supervalorização dos animais, enquanto fetos humanos são disputados no lixo pelos cães, uma nova indústria e um novo comércio nasceram, e já estão faturando largamente. A "Folha de S. Paulo" nos informa que só na capital paulista, com os animais registrados, os donos gastam cerca de 1,6 bilhões de cruzeiros por mês.
Salões de beleza, hotéis, colchões, restaurantes, cirurgia plástica, teatro, tudo o que de sofisticado a sociedade de consumo engendrou, está hoje à disposição de cães e cavalos.
"Deixo de comprar coisas para mim para comprar o que os cachorros precisam. Gosto mais deles do que de gente; são fiéis, morrem por você", declarou à repórter da "Folha" Gisela Bisordi, uma jovem paulistana de 23 anos.
Na propaganda de um hotel para cães e gatos, no Jardim Prudência, na mesma cidade, constam, entre outros, estes itens: "dieta balanceada e individualizada, área de recreação com vida social intensa".
Em Porto Alegre, uma das lojas do ramo oferece xampus, chicletes, palitos e travesseiros especialmente feitos para os caninos.
Em Nápoles, Itália, há um serviço especial de taxi para animais. Na França, chegou-se ao disparate da criação, em 1982, de uma "agência de casamentos". Sua idealizadora, Solange Husser, declarou à Agência 'Trance Press": "As perspectivas são deslumbrantes, pois o mercado 'matrimonial' compreende na França seis milhões de cães e gatos" (cfr. "El Universo", Bogotá, 25-9-82). Mas essa nação foi ainda mais longe em sua loucura. O ministro da Cultura - logo ele! - insistiu para que fossem montados espetáculos para os "marginalizados culturalmente". A prefeitura de Paris e a Universidade Sorbonne apoiaram então a criação de um teatro para cachorros, como nos informa o "Estado de Minas" (13/11/83) e "O Dia" (22/10/83), de Lisboa. O responsável pela peça foi enfático: "Eles [os cães] têm uma cultura gigantesca, desconhecida".
Na Alemanha, nos voos da "Lufthansa", há agora uma espécie de "1.ª classe" destinada aos animais VIP (Very Important Person). Neste país, até o rato foi reabilitado.
"O Globo" (16/9/84) afirma que "a nova moda foi introduzida pelos punks, que usam o rato como mascote e símbolo da sujeira de seu estilo de vida. Mas agora eles são também bichinhos de estimação das crianças e objeto de culto dos artistas. .... Crianças bonitas e bem vestidas, com um ou dois ratos aparecendo na manga do casaco". Há centros revendedores de roedores, espalhados por toda a Alemanha. O desvario foi tão longe nas terras germânicas, que em Munique doze cães acabam de herdar três bilhões de cruzeiros, e um cão pastor recebeu habilitação oficial para guiar veículos!...
O órgão oficial do Partido Comunista francês, L'Humanité", apresenta-nos um restaurante especial para cães na cidade de Nice, onde prestativos garçons servem as mais finas iguarias, controladas por um veterinário e um conselheiro dietético.
O semanário norte-americano "Newsweek" (18/5/84) publicou matéria sobre um restaurante para cães, aberto no "Beach Regency Hotel", em Nice, na França: "O local oferece a seus clientes uma sala de jantar decorada, com vista para o Mediterrâneo". "L'Humanité" (14/5/84), órgão oficial do Partido Comunista Francês, publica com destaque uma foto deste estabelecimento, assinalando que o cardápio propõe "aperitivo, prato de frios, serviço de carnes brancas e vermelhas, peixe e queijos, tudo servido em porcelana".
Em Chicago, nos Estados Unidos, foi também inaugurado o já famoso "Fido's Doggie", restaurante que só no primeiro dia recebeu 2 mil cães, como informa "Visão" (9/5/83).
Nos Estados Unidos, onde o prof. Tyzuik, da Universidade de Ohio, concebeu um novo sorvete para caninos, a aberração vem de longe, pois a revista "Time", em seu número de 14 de maio de 1979, já estampava matéria em que a "vidente" Jeanne Dixon anuncia que está escrevendo