| NA VISITA DE ORTEGA AO BRASIL, MOSCOU AUFERE DIVIDENDOS | (continuação)

a solidariedade efetiva. Ajudar o desenvolvimento da agricultura nicaraguense, ajudar o campo habitacional da Nicarágua, ajudar a indústria da Nicarágua".

Bispo considera sandinismo modelo para católicos brasileiros

D. Cláudio Hummes, Bispo de Santo André (ABC paulista), também discursou no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Após declarar que se sentia à vontade em participar daquela homenagem ao chefe sandinista, o Prelado afirmou: "Esta homenagem por esse grande esforço libertador que o povo nicaraguense já tem empreendido com tantos resultados e que, de alguma forma, todos nós, os povos latino-americanos estamos enfrentando: a luta pela liberdade, a libertação social, econômica, política. E nós cristãos dizemos até uma libertação muito mais integral ainda, maior, envolvente, que ultrapassa até mesmo essa, mas que sempre a inclui e que, necessariamente, deve incluir a libertação política, econômica, social".

Após homenagear os "cristãos" da Nicarágua que participaram das guerrilhas – "da luta de libertação" -, D. Cláudio Hummes os aponta como modelo para os cristãos brasileiros (certamente os membros das CEBs): "A nossa homenagem também a eles. E eles para nós servem de inspiração, para que os cristãos aqui de nosso país também vejam como isso faz parte dos compromissos da sua fé (sic) esse esforço libertador".

E como se isso não bastasse, o Bispo de Santo André acabou apresentando o regime sandinista como ideal cristão:

"A Igreja evidentemente, a partir do Evangelho, ela não pode apoiar nem o capitalismo, nem propriamente (sic) o comunismo. .... E ela propõe (e eu sei que essa é a grande aspiração também do povo latino-americano, e do povo nicaraguense foi a sua proposta desde o início) de encontrar novos caminhos, uma nova alternativa, novos sistemas políticos que nascessem da própria originalidade do povo .... Foi esse o grande esforço do povo nicaraguense. E nesse ponto é um grande exemplo para a América Latina, de procurar novos caminhos e alternativas".

Que modelo novo vê D. Hummes na Nicarágua, cujo regime, segundo declarações de Humberto Ortega (ministro da Defesa e irmão de Daniel Ortega), é "marxista-leninista'! Terá o Prelado querido aludir ao socialismo - talvez em sua forma autogestionária - proposto especialmente pelo desprestigiado presidente francês Mitterrand?

Enfim, são essas algumas perguntas bastante incômodas para qualquer integrante da "esquerda católica", seja ele eclesiástico ou leigo...

"Cruzada" antiamericana que favorece o Kremlin

A tônica dos discursos de Daniel Ortega no Brasil foi preponderantemente anti-norte-americana. Para o líder sandinista, o único perigo que ameaça a América Latina é a política exterior norte-americana. Assim, repetidas vezes sugeriu a formação de uma "frente ampla" dos países latino-americanos contra os Estados Unidos que, dessa maneira, ver-se-iam isolados no continente.

Disso tira evidente proveito, a médio ou a longo prazo, a penetração soviética na América Latina.

Em sua "cruzada" contra os Estados Unidos, Ortega acusou os governantes daquele país de interferirem na política latino-americana, auxiliando inclusive, no caso da Nicarágua, a luta armada antissandinista. Ter-se-á olvidado Ortega de que ele conquistou o poder com o apoio da Rússia e de Cuba? E também que seu próprio regime vem apoiando a guerrilha salvadorenha?

Assim, disfarçado de arauto anti-americanista, Daniel Ortega na realidade prestou em sua viagem ao Brasil valioso serviço a Moscou. Essa é a conclusão principal a que se chega, quando se faz um balanço objetivo da visita do chefe sandinista à nossa Pátria.


PCB, PC DO B: DA CLANDESTINIDADE AO FIASCO...

Rafael Menezes

O Festão da Voz da Unidade", promovido pelo PCB no Parque da Água Funda, não passou de uma desanimada quermesse

OS DOIS PARTIDOS comunistas - PCB e PC do B - promoveram comícios-show na capital paulista com o objetivo de "provar" que contam com respaldo popular. Tais iniciativas redundaram, porém, em rotundo fracasso.

De sua parte, o PCB organizou uma quermesse - não há outro qualificativo para o que ele mesmo denominou "Festão da Voz da Unidade" - nos dias 23 e 24 de março p.p. Quanto ao PC do B, montou não propriamente um comício-show, mas sim um show-comício no Ginásio do Pacaembu.

Os stands que ofereciam literatura e produtos provenientes de países comunistas no Parque da Água Funda foram visitados por um público ralo e meio aburguesado.

O "Festão da Voz da Unidade" realizou-se no Parque da Água Funda, cedido pela Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo. Barraquinhas montadas no local vendiam broches com símbolos comunistas e outras bugigangas, pratos típicos, pastéis chineses e... muita cachaça. Em um salão encontravam-se expostos livros de propaganda de países comunistas: Rússia, Alemanha Oriental, Checoslováquia etc. Um teatro ao ar livre animava uns poucos que, em meio à sensaboria do "Festão", ainda pretendiam sorrir. Num auditório frequentado por um público que em nenhum momento ultrapassou a casa dos duzentos, conferencistas discutiam temas "atraentes" e "atuais", como por exemplo a filosofia de Artiga, revolucionário uruguaio do século XIX.

Um público esquálido compareceu à sessão extraordinária promovida pela Assembleia Legislativa de São Paulo de apoio à legalização do PC do B.

Depois de uma vasta e prolongada campanha publicitária, iniciada meses antes, o PCB conseguiu reunir, flOS horários de maior frequência, um público de aproximadamente duas mil pessoas. Foi o máximo que alcançou a "popularidade" do PCB, apesar de ter utilizado, como meio de atrair público, o artifício de encobrir atrás do chamariz do "Festão" da "Voz da Unidade" (semanário-panfleto, que poucos sabem pertencer àquele partido) o ato promovido para reivindicar sua legalidade.

O PC do B, apesar de contar com maior apoio, não alcançou melhores resultados.

Quem comparecesse ao Ginásio do Pacaembu por volta das 14 horas do dia 24 de março, poderia observar numerosos ônibus "despejando" levas de favelados e pessoas de classe modesta, especialmente arrebanhados e transportados gratuitamente para "participar" (melhor seria dizer, fazer número) do show-comício pela legalidade do PC do B. Sim, o mesmo partido que organizou, na década de 70, as sangrentas guerrilhas do Araguaia.

A frota de veículos que transportou aqueles "participantes" era composta por mais de 80 ônibus da CMTC - Companhia Municipal de Transportes Coletivos - e, aproximadamente, 40 ônibus de outras companhias, alguns conduzindo comitivas de vários municípios. Havia representações de Osasco, Campinas, São José dos Campos, Jacareí etc.

Aspecto da assistência que compareceu ao show-comício do Ginásio do Pacaembu. Nele pôde-se notar o predomínio de favelados transportados por mais de 80 ônibus da CMTC.

Por volta das 15 horas, registrou-se a maior presença ao show-comício: aproximadamente 2.500 pessoas. Este número foi diminuindo gradativamente durante as quatro horas e meia de show musical que antecedeu ao comício, até alcançar a cifra de aproximadamente 1.500 pessoas: em sua grande maioria favelados (principalmente mulheres com crianças) que não podiam se retirar, porque os ônibus mantinham as portas fechadas.

Dos participantes iniciais, alguns permaneceram assistindo ao show musical, outros dispersaram-se pelo Ginásio de Esportes (entretendo-se com um simulacro de bateria de escola de samba), outros ainda se dirigiram ao estádio anexo para assistir ao jogo de futebol entre dois importantes clubes de São Paulo e Minas Gerais. Cerca de duzentas pessoas, que não puderam (talvez por falta de recursos) entrar no estádio do Pacaembu, assistiram ao prélio penduradas na cerca ou postadas em outros locais elevados, como a arquibancada da cancha de basquete.

No show-comício o clima era de apatia em relação ao aspecto político da concentração. Uma claque de 300 pessoas - certamente as únicas adeptas do PC do B procurava transmitir, sem sucesso, alguma eletricidade aos assistentes. Entretanto, quando os numerosos artistas convidados cantavam (principalmente músicas no estilo "forró", à nordestina), não havia necessidade de claque para entusiasmar o público. Então cantava-se, saracoteava-se e agitavam-se as bandeiras do PC do B.

Em outros momentos, o "povo" não deu mostra de entusiasmo pelo show-comício do PC do B. Numa arquibancada, quando se anunciou o início do show propriamente dito, uma favelada residente na Penha gritou: "Eu quero é ir embora!" E, no momento em que o locutor indicava os componentes da mesa, exclamou: "Chama eu aí pr'a mesa que eu vou falar a verdade".(*) Este pequeno episódio ilustra bem o estado de espírito com que tantos favelados acompanhavam a discurseira política, que teve a vantagem de ser breve...

(*) Foram feitas ostensivamente gravações do comício-show do Ginásio do Pacaembu, bem como da sessão da Assembleia Legislativa de São Paulo. De tais gravações esta redação possui as fitas correspondentes.

No rápido comício após o show, falaram, entre outros, Orestes Quércia, vice-governador de São Paulo, Caio de Pompeu Toledo, secretário estadual de esporte e turismo, Mário Covas, prefeito da capital paulista, Aurélio Perez, deputado federal (PMDB), e João Amazonas, secretário-geral do PC do B.

Aurélio Perez, membro das Comunidades Eclesiais de Base e notoriamente ligado ao PC do B, prestou homenagem aos membros do partido que tombaram nas guerrilhas do Araguaia. Quanto a João Amazonas - procurando fazer crer que seu partido constitui uma força democrática e popular - declarou que no Brasil só haveria de fato democracia depois que o PC do B fosse legalizado.

Evidentemente, não convém aos comunistas declarar que, se conseguirem conquistar o poder, essa mesma democracia deixará de existir ipso facto.

* * *

A Assembleia Legislativa de São Paulo promoveu, dois dias depois, sessão extraordinária de apoio à legalização ao mesmo PC do B. Presentes, não mais de 250 pessoas - todas ligadas ao PC do B - as quais não dissimulavam o desânimo pelo fracasso da iniciativa. Em discurso lido, João Amazonas - apesar da minguada plateia - acabou dizendo que uma prova de que o povo brasileiro queria a legalização do PC do B era "aquele auditório", que representava 130 milhões de brasileiros. Certamente, uma representatividade extremamente discutível...

Tais acontecimentos servem para patentear o quanto há de fictício na pretensa popularidade dos PCs, que procuram se inculcar como partidos da "massa" e dos "oprimidos".

Entretanto, a "massa" não comparece a seus comícios-show e quermesses, e os pretensos "oprimidos" afluem - em pequeno número - somente quando são arrebanhados e transportados em ônibus gratuitos...


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