| A IMPORTÂNCIA DO FATOR RELIGIOSO NOS RUMOS DE UM BLOCO-CHAVE DE PAÍSES: A AMÉRICA LATINA | (continuação)
competições econômicas estão longe de. ser agudas como as de outras nações.
É muito de se notar, ademais, que todos os povos latino-americanos são católicos romanos, em consequência da própria herança ibérica. As grandes correntes imigratórias do século XIX constaram, de modo muito acentuado, de povos católicos, como os italianos e os sírios, o que, por sua vez, beneficiou a unidade religiosa do bloco.
Assim se pôde asseverar em lema ibero-americano (com ênfase oratória um pouco exagerada) o princípio "tudo nos une e nada nos separa". 0 que, em todo caso, muito dificilmente se poderia dizer, com igual realidade, de outras grandes áreas da Terra.
Importa acrescentar que essa nota católica romana se conservou na América Latina com um matiz especialmente ibérico, de profundo acatamento à Sede romana e às autoridades eclesiásticas locais.
Estão assim expostas algumas das principais razões pelas quais importa ao estudioso das questões contemporâneas conhecer a posição latino-americana ante a alternativa comunismo-anticomunismo.
Nossa Senhora de Guadalupe, Padroeira da América Latina - bloco de nações católicas destinado a constituir a grande potência de projeção mundial, a emergir nos albores do século XXI.
DESDE MARX até os anos 40, em que se deu o término da II Guerra Mundial, o comunismo utilizou duas vias de expansão mais ou menos simultâneas.
a) o proselitismo doutrinário, consistente na pregação aberta e categórica da crítica de Marx ao sistema capitalista, e do regime socioeconômico (totalitário e por fim anarquista) por ele preconizado;
b) o assalto ao Poder pela violência, concretizada ora em atentados terroristas contra indivíduos, ora em revoluções sociais. Tudo isso despertou como contragolpe uma "reação igual e em sentido contrário", pois assim se pode qualificar, de algum modo, a "revanche" nazista e fascista.
Após a II Guerra Mundial, a tática comunista passou por alterações importantes:
a) toma muito maior importância a expansão imperialista, não só bélica, mas, de modo sempre mais acentuado, também política, econômica e cultural;
b) quanto à expansão bélica, continua ela a desempenhar um considerável papel. Mas, tanto quanto possível, tem disfarçado seu cunho de "cruzada contra a Cruz", com motivações "patrióticas" geopolíticas, econômicas e outras;
c) o proselitismo ideológico explícito continua, mas algum tanto adelgaçado. Em geral os povos livres se manifestam imunes a ele;
d) as ideologias vizinhas do comunismo, nas quais este se incuba para circular mais facilmente, tomam uma importância preponderante na ação proselitista, que usa as correntes "vizinhas" com um caráter proselitista preparatório, subjacente e implícito. Será mais fácil à pregação comunista explícita (à qual a grande maioria das populações se mostra sempre mais infensa) recrutar em seguida as pessoas desta maneira preparadas;
e) a tática de infiltração nas organizações não comunistas se torna sempre mais sofisticada, e se aplica muito largamente, com a ajuda dos "inocentes úteis" e "companheiros de viagem", e a utilização de artifícios como a "tática do salame", a "queda das barreiras ideológicas" e a "détente".
f) "inocentes úteis" e "companheiros de viagem", esgueirados em postos e em ambientes dirigentes da sociedade burguesa, desempenham, por vezes, a par de uma imponderável ação proselitista, também outra forma de atividade. Quer em setores políticos, militares, universitários, publicitários, religiosos ou outros, conseguem eles pôr em circulação, em momentos-chave, "informações" e "conselhos" ardilosamente adaptados às conveniências de Moscou, sugerir manobras que redundem em insucesso para o mundo livre, ou então transmitir aos comparsas comunistas o conhecimento de fatos importantes;
g) a pressão de certos meios publicitários de esquerda e, menos frequentemente embora, de certas personalidades ou correntes que se afirmam contraditoriamente de centro ou de direita, leva os Estados e as economias públicas e privadas a assumir, com gradualidade cada vez mais rápida, formas mais estatistas, com o que se vão aproximando mais e mais do capitalismo de Estado integral.
Nasce assim a "guerra psicológica" revolucionária, isto é, a serviço da revolução comunista mundial, a qual também abrange, aliás, muitos outros aspectos que não haveria espaço para enumerar aqui.
OS AMBIENTES e os temas religiosos (como também os aspectos religiosos e morais de certos temas não intrinsecamente religiosos) têm na América do Sul (como na Ibero-América em geral), uma importância muito consideravelmente maior que em outras partes do mundo. E isto especialmente em se tratando da opção comunismo-anticomunismo. De forma que um dos principais empenhos do expansionismo comunista vem consistindo, desde os longínquos anos 40 - e mesmo desde meados da década de 30 - na infiltração ideológica dos setores religiosos. Pode-se dizer que, uma vez coroada eventualmente de êxito esta infiltração, o comunismo terá ganho ipso facto a batalha.
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Para compreender bem esta realidade, é preciso desembaraçar a temática de certas noções, erradas enquanto contêm apenas parcelas da realidade, e que são inculcadas como contendo a realidade inteira:
A primeira delas é a de que, na América do Sul como na América Central e no México, a má distribuição da riqueza teria criado uma estrutura econômica monstruosa, na qual umas poucas fortunas nababescas constituiriam um polo, e a multidão faminta o outro polo. As camadas intermediárias não existiriam. De onde uma contínua fricção entre os dois polos, geradora de atritos que estariam prontos atualmente a degenerar em uma luta de classes espontânea e incontenível. E em revolução social. Em suma, este quadro brutalmente simplista e desprovido de matizes - se bem que real em alguma medida - constitui de modo geral uma repetição monótona dos clichês de propaganda que em 1917 serviram para explicar ao mundo atônito a revolução comunista da Rússia.
Esse quadro, no qual o fator econômico é apresentado como o único motor da revolução social, deixa transparecer assim a influência da ideologia comunista, segundo a qual a economia é, em última análise, a única mola-mestra da História.
Cumpre agora relacionar com este quadro as cogitações religiosas.
É bem verdade que, com exceção da Argentina, a qual mantém um regime de união entre a Igreja Católica e o Estado, aliás principalmente simbólico e quase inteiramente vazio de consequências jurídicas, todas as outras nações sul-americanas são oficialmente laicas.
Isto não impede, porém, que em todas elas a influência da Igreja Católica seja em certo sentido tão largamente preponderante, que a Hierarquia eclesiástica constitua, em cada uma dessas repúblicas, o "V Poder". Segundo esta numeração, o Executivo seria o primeiro, o Legislativo o segundo, e o Judiciário o terceiro Poder do Estado. O macrocapitalismo publicitário seria o quarto Poder, localizado na esfera privada. E a Hierarquia eclesiástica (também situada na esfera privada, segundo os ditames do Estado leigo) seria o quinto Poder.
Na América do Sul, esses poderes sempre viveram em paz uns com os outros. Suas respectivas influências se compensam. De tal sorte que a nenhuma cabe uma preponderância sistemática e invariável. Essa preponderância se desloca discretamente de um Poder a outro segundo as circunstâncias, e é sempre exercida pelo Poder preponderante com moderação, relativamente aos outros Poderes.
Os três Poderes do Estado têm sido empregados, às vezes pró e às vezes contra a conquista da opinião pública e do Estado pelo comunismo. Não só o Chile de Allende mas - se vistas em profundidade as coisas - também o Peru de Velasco Alvarado e a Bolívia em vários períodos da História contemporânea, tiveram Poderes públicos (I, II e III) utilizados para modelar o Estado e a sociedade (por meio do que, também a opinião pública) em sentido fortemente prócive ao comunismo. Porém, até o momento isto pouco rendeu. Com efeito, o IV e o V Poderes ajudaram sem dúvida a propensão comunista dos Poderes do Estado. Mas, por razões circunstanciais autênticas, o IV e o V Poder julgaram necessário, nestes países, não se engajarem de modo total, ostensivo e enfático, em favor do comunismo. O Poder público fez então grande parte de sua trajetória desacompanhado da cobertura ostensiva destes Poderes. Ele tentou assim dar "passos maiores do que suas pernas", por uma política reformista. E caiu na caminhada.
No Brasil e no Chile, pelo contrário, os Poderes do Estado foram largamente utilizados para a ação anticomunista.
No primeiro desses países, o Episcopado (o mais numeroso do mundo, atualmente com 368 Bispos) se cerrou a qualquer colaboração com a ação anticomunista do Estado. Grande parte dos dirigentes do V Poder favoreceu discretamente (e em alguns casos muito indiscretamente) a guerra psicológica revolucionária movida por uma ala dos comunistas: isto é, não o Partido Comunista do Brasil - PC do B (violento, terrorista e duramente reprimido pela polícia), mas sim o Partido Comunista Brasileiro - PCB (pacífico, ideológico, proselitista), largamente infiltrado nos meios intelectuais, inclusive seminários católicos, e nos círculos snobs de certa alta e média burguesia. E infiltrado também - jamais será suficiente realçá-lo - nas equipes de colaboradores e redatores da grande imprensa, como entre os artistas, atores e locutores de rádio e de televisão, e nos meios teatrais. O PCB gozou, sob o regime militar, de uma liberdade quase completa.
As forças comunistas tiveram assim um papel aparatoso (insisto na palavra para indicar que este papel foi inflado, além da medida do real, pelos mass-media) ao longo do processo de abertura. Ambos os PCs vêm sendo utilizados atualmente como espantalho pelos comunistas e por seus asseclas socialistas, para fazer imaginar aos proprietários de terras, de empresas industriais e comerciais, bem como de imóveis urbanos, que serão em breve tragados pela violência comunista, se não consentirem em "reformas sociais" urgentes, as quais deixarão mutilado, falho de equilíbrio intrínseco, e portanto cambaleante, o instituto da propriedade privada.
A grande, a única força verdadeiramente decisiva desse movimento reformista, que aliás se vai alastrando por todo o País (e que se tiver êxito, o deixará concretamente a poucos passos do regime socioeconômico comunista), é o V Poder. A Hierarquia eclesiástica tem impulsionado fortemente o movimento reformista.
Como adiante veremos, para tal não tem faltado a colaboração dos quatro outros Poderes, inclusive sob o regime militar, em que o número de empresas estatais e subsidiárias praticamente quintuplicou. Com efeito, se no final da década de 50 o número de empresas controladas pelo Estado era de 121, no final da década de 70, que coincide com o encerramento do mandato do Presidente Geisel (1974-1979), esse número ascendia a 560.
No momento atual, a derrocada do Brasil rumo a um regime socialista
• A Nova Direita é, a muitos títulos, benemérita de seu país, e com isto também do Ocidente e particularmente dos incontáveis homens e mulheres não comunistas que arrastam uma existência penosa detrás do Muro de Berlim (foto), bem como nas nações-masmorra situadas além das cortinas de ferro e de bambu.
• Mísseis soviéticos percorrem a Praça Vermelha em Moscou, durante um desfile militar. Após a 2ª Guerra Mundial a expansão bélica continua a desempenhar um considerável papel na estratégia comunista.
• O encontro de Nixon com Mao Tse-tung em 21 de fevereiro de 1972 iniciou a malfadada fase da "détente" nas relações entre o Mundo Livre e o bloco comunista.