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| A IMPORTÂNCIA DO FATOR RELIGIOSO NOS RUMOS DE UM BLOCO-CHAVE DE PAÍSES: A AMÉRICA LATINA | (continuação)

Uma figura da Igreja que se apresenta para o católico conservador é aquela em que ressalta a continuidade majestosa e rutilante do ensino socioeconômico da Esposa de Cristo, desde São Pedro a Pio XII. Na foto, este Pontífice proclama solenemente em 1950 o Dogma da Assunção de Maria Santíssima, o último da História da Igreja até nossos dias.

à Igreja do Vaticano II e à era pós-conciliar.

Tudo isso, que vem sendo afirmado da temática política e socioeconômica, se pode dizer tanto ou mais da Teologia e da Moral (permissivismo versus fidelidade à Lei de Deus e à Igreja), como ainda da Liturgia, da Exegese etc. Mas, pela natureza de meu trabalho, é só o terreno socioeconômico que tenho em vista.

5. Na ordem concreta, toca a João Paulo II o grande papel na opção dos conservadores

Entre os católicos, é reduzido o número dos sedevacantistas, isto é, dos que - talvez mais numerosos do que muitos pensam - negam a autenticidade de João XXIII e de seus sucessores. É, portanto, pouco provável que eles exerçam uma influência muito ponderável nesta trágica opção dos católicos conservadores.

E fica assim patente que, na ordem concreta dos fatos, a João Paulo II toca o grande papel nessa opção dos conservadores. Em princípio, pareceria que as coisas serão como ele quiser.

6. Não é fácil prever em que medida o atual Pontífice fará uso de suas atribuições

Mas a realidade bem pode não ser esta, ou pelo menos bem pode não ser inteiramente esta.

Com efeito, consideradas as coisas apenas no plano humano, incontáveis são - máxime nas épocas de confusão e de convulsão - os fatores que podem levar um Papa a não dizer ou não fazer algo ou muito do que queira. Basta recordar, neste sentido, os casos de Pio VI e Pio VII, que sucessivamente regeram a Igreja durante a Revolução Francesa e na era napoleônica. Assim - e prestando embora, de muito bom grado, as devidas homenagens aos sábios e oportunos ensinamentos de João Paulo II, dados por si próprio ou através do Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal J. Ratzinger - não é nada fácil prever em que medida o atual Pontífice quererá fazer uso de suas atribuições, nessa imensa encruzilhada histórica em que se encontra a América do Sul. Encruzilhada esta a partir da qual os passos dela provavelmente não poderiam levar atrás de si um mundo organizado e unido. Mas talvez levem atrás de si, em dadas circunstâncias, fragmentos decisivos de nosso mundo hodierno, profundamente conturbado e radicalmente dividido.

Seja como for, quem poderá calcular a pluralidade de pressões contraditórias às quais, face a este problema (e para não falar senão deste!) está sujeito um Papa? Pressões... Pressões estas as quais a virtude cristã manda que se tomem algumas em conta e outras se desafiem com Fé e confiança em Deus como se de nada valessem. Com que graças abundantes ou superabundantes assistirá o Papa, a todo passo, a Providência Divina, sempre amorosa da Santa Igreja? Como reagirá a cada instante o livre arbítrio do Pontífice?

Augustos e sublimes mistérios, os quais não nos é dado sondar.

É bem verdade que nada se passa no mundo sem o mando ou a permissão de Deus, já que nem um passarinho cai sem que Ele o queira, e até os cabelos de nossa cabeça estão contados (cfr. Mt. 10, 29-30).

Mas é igualmente bem certo que, por desígnios insondáveis da sabedoria e da bondade de Deus, podem acontecer, no decurso da História da Igreja, como já tem acontecido no passado dela, tanto desastres imprevisíveis que aterrorizam, quanto triunfos que surpreendem e deslumbram mesmo os espíritos mais críticos.

O certo é que, na ordem das realidades em curso na América do Sul, e em toda a América Latina, a luta doutrinária entre católicos progressistas e reacionários, e a atitude dos conservadores face a essa luta, se revela, em seguida a uma análise acurada do panorama atual, revestida de uma importância capital.

O que me pareceu útil submeter à atenção dos participantes deste provecto encontro.

V – VISTA DE CONJUNTO

A PRESENTE vista de conjunto se compõe de assertivas, das quais algumas são geralmente notórias, outras não o são, e contrariam de tal modo velhos clichês consagrados, que estariam a pedir demonstração. Entretanto, como soe acontecer com as vistas de conjunto muito amplas, elas correm o risco de tomarem proporções de enciclopédia, se se embrenharem em tais demonstrações.

Tais vistas de conjunto podem ser úteis a leitores que possuam sobre o tema em foco dados fragmentários, caóticos e quiçá até contraditórios. Elas podem ajudá-los a se situarem em um ângulo a partir do qual esses elementos esparsos podem se tornar explicáveis e coerentes.

Com isso, uma vista de conjunto pode servir de estímulo para a reflexão, a análise e a síntese que o leitor normalmente deseja operar. E o pode estimular para a pesquisa de dados novos, a respeito dos quais ele tenha então meios de encaixar dentro de um todo bem concatenado.

Para concluir, apraz-me dizer que tenho em vista o fato de que este Congresso se realiza na América do Norte, com a iniciativa e acolhida fraterna de nossos comuns amigos da Nova Direita, a tantos títulos beneméritos de seu país, e com isto também do Ocidente e do mundo inteiro. E notadamente dos incontáveis homens e mulheres não comunistas que arrastam uma existência penosa nas nações-masmorra situadas detrás da cortina de ferro, ou localizadas em tantos outros pontos da terra. Por fim, também beneméritos, com tudo isto, dos preciosos restos de civilização cristã que ainda se acham esparsos pelo mundo.

Sou brasileiro e sul-americano. Discorrendo sobre problemas de minha Pátria e dos países vizinhos e irmãos, meu olhar se alongou, mais de uma vez, pela América Central e pelo México, igualmente irmãos, se bem que não vizinhos. Pois irmãos somos todos nós das três Américas. Por que, ao concluir este trabalho, meu olhar não se alonga pois, fraternalmente, para as terras que se estendem para além da divisa do Rio Grande?

Ponho cordialmente as reflexões que ele contém em mãos dos norte-americanos e canadenses presentes ao Congresso. Quem sabe se o quadro delineado neste trabalho, pelas analogias e diversidades que apresente em relação ao que ocorre nos países setentrionais de nosso Continente, lhes pode ajudar em alguma parcela, na elucubração dos seus próprios temas nacionais? Quanto me alegra a perspectiva de que tal lhes seja útil!

Nisto também haverá, de uma forma ou de outra, vantagem para as nações de nossa querida Europa, nas mãos de cujos representantes também deposito o presente trabalho, ao mesmo tempo que, com sentimentos de ardorosa simpatia, os saúdo.


NA ESPANHA SOCIALISTA, ENSINO PRIVADO EM VIAS DE EXTINÇÃO

Gregório Corrêa

As entidades organizadoras da grande manifestação realizada em 18 de novembro p.p. na capital espanhola procuraram atenuar o caráter antigovernista da marcha, que se efetuou em silêncio e com faixas pouco expressivas.

O NOTICIÁRIO dos jornais brasileiros tem sido paupérrimo quanto aos resultados da experiência socialista em países do Velho Continente. Há uma razão que explica essa parcimônia do IV Poder: o socialismo anda atolado na Europa...

Mitterrand - Segundo pesquisas recentes, o governante francês mais impopular desde a 2a Grande Guerra enfrenta crescente oposição. E busca ele agora, por todos os meios, a terapia intensiva capaz de mantê-lo no poder após as eleições parlamentares de 1986. A tão decantada autogestão, exorcizada especialmente pela célebre Mensagem das 15 TFPs, é hoje jargão desaparecido do vocabulário esquerdista na França.

O fracasso de Mitterrand é mais facilmente percebido pelos vizinhos europeus do que na América Latina. Por aqui, o socialismo continua, por ora, no vento da modernidade para seus corifeus políticos e religiosos...

Na Espanha - da qual nos ocuparemos no presente artigo - o descontentamento popular também vai abalando gradativamente o governo de Felipe Gonzales. Este, receoso de que a aplicação imediata da autogestão no campo socioeconômico - meta prioritária do PSOE - provocasse a miséria e o caos, resolveu investir primeiramente contra a instituição da família.

O aborto já foi aprovado pelas Cortes espanholas, onde o Partido Socialista dispõe de maioria absoluta, graças ao inconcebível apoio de votos católicos, por ocasião da vitória eleitoral alcançada pela referida agremiação política, em outubro de 1982.

Agora, mediante a Lei Orgânica de Direito à Educação (LODE), vibra o governo socialista um golpe de efeito devastador sobre as escolas particulares, católicas na grande maioria.

Agoniza o ensino privado

A significativa charge" de "El Alcazar" de Madri (20-11-84) representa a assim chamada tática do "rolo compressor": o ministro da Educação vai aplicando a LODE apesar das maciças manifestações contrárias à nova lei.

A LODE ataca brutalmente os estabelecimentos privados, nos quais estudam 36% do total dos alunos espanhóis de todos os graus.

A maioria da população hispânica, segundo pesquisas do Instituto Nacional de Estatística (1980) e da entidade privada OYCOS, mostra preferência pelo ensino privado. Por outro lado, outras pesquisas demonstraram, em 1983, que um terço dos que tinham filhos em colégios públicos preferia enviá-los a colégios privados. E 63% dos pais consultados confessavam estar dispostos a contribuir economicamente para a manutenção da escola privada (Informe FOESSA - ABC de Ia Educación, n° 33, 20-11-84).

A subvenção pública aos estabelecimentos privados não considera os gastos com o pessoal docente, os de reposição, os de amortização de juros etc. De um ano para outro a percentagem de aumento da subvenção vem sendo inferior ao Índice de Preços ao Consumidor (IPC).

Essas restrições são coerentes com os princípios socialistas, que reivindicam uma escola única, laica e de caráter público. A propósito é oportuno aduzir aqui as resoluções do XXVIII Congresso do PSOE, realizado em maio de 1979:

"Propugnamos um ensino público; para nós, socialistas, é muito claro que, sendo a Educação um direito fundamental de todos os homens, não pode ser objeto de negócio para a empresa privada, nem instrumento de controle ideológico e social. A Educação há de ser financiada pelos organismos públicos e controlada pelas forças sociais. É necessário uma política que tenda a suprimir as subvenções que transferem fundos para mãos privadas. ....

"Nem professores, nem alunos serão discriminados por suas convicções. Desaparecerão as matérias religiosas obrigatórias nos centros e planos de estudo".

Visando tal objetivo o governo socialista vem construindo continuamente novos estabelecimentos de ensino, muitas vezes contíguos aos centros privados já existentes. A construção de um colégio público desnecessário, além de esbanjar recursos, dá lugar à extinção da escola privada, tanto mais que, para ser subvencionada, esta última deve contar com um mínimo de 35 alunos por aula (ABC de Ia Educatión, n° 35, 20-11-84). Somente em 10 meses, no ano passado, 304 estabelecimentos particulares foram

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