| A EMOCIONANTE DESCOBERTA DOS OSSOS DE SÃO PEDRO NO VATICANO | (continuação)
o código usado para São Pedro: um "P" com um discreto "E" em sua perna, ou o mesmo símbolo inserido no chirho de Jesus, tocante símbolo para o Vigário de Cristo (cfr. desenho ao lado). Além disso, a descoberta provava contra os anticatólicos que a doutrina do papado já era clara naqueles primórdios da Igreja. Muitas inscrições com esse símbolo podiam ser observadas na parede dos grafitos. Estudos posteriores revelaram que São Pedro era invocado com grande frequência, mediante tal símbolo, pelos primeiros cristãos, pois ele era muito usado nas catacumbas, em cartas, em mosaicos, em pinturas etc. Estava explicado o "silêncio" sobre São Pedro.
Pedaço de argamassa encontrado por Ferrua no interior da cavidade da Parede Azul, contendo parte da inscrição em grego Petrus eni" - "Pedro está aqui".
Essa descoberta fez com que a dra. Guarducci ficasse intrigada com a inexplicável parede oca com os grafitos e o "Petros Eni". Chamou sua atenção um fato que passou despercebido aos de-mais arqueólogos. Mons. Kaas, administrador da Basílica, costumava ir à noite verificar os andamentos dos trabalhos. Acompanhava-o G. Segoni, o chefe dos "sampietrini" (operários do Vaticano cujos ofícios passam de pai para filho). Mons. Kaas, nessas inspeções, preocupava-se em guardar de modo digno as numerosas ossadas que iam sendo encontradas. Colocava-as numa caixa, ajudado por Segoni, identificando com uma etiqueta o local de onde foram tiradas. Uma noite, pouco depois de descoberta a parede oca dos grafitos, Mons. Kaas pediu que Segoni verificasse bem se não se encontrariam ossos dentro da cavidade. Por baixo da poeira, Segoni encontrou numerosos ossos, restos de tecido e uns fios metálicos. Tudo foi guardado numa urna e identificado. Outro "sampietrini" presenciou a remoção, mas os demais arqueólogos nem souberam disso na época.
Em 1950 foi divulgada a grande notícia: o túmulo de São Pedro fora descoberto. O próprio Papa Pio XII fez o anúncio, associando-o ao Ano Santo. Mas explicava-se que, segundo o modo como os ossos foram encontrados, não se podia concluir se eles seriam ou não do Apóstolo. Ao par do grande júbilo, houve muitos protestos dos meios científicos, que solicitavam um exame rigoroso de todos os ossos, descobertos na pequena abertura em forma de "V" invertido na parede do túmulo de São Pedro, por algum grande especialista. Afinal, em 1956, Pio XII concordou, e foi nomeado o dr. Venerando Correnti, um dos maiores antropólogos da Europa.
O trabalho foi lento e difícil, pois faltavam vários ossos importantes. A conclusão, em 1960, constituiu uma sensacional decepção: tratava-se de ossos de três pessoas - dois homens de meia idade e uma mulher idosa. E junto encontravam-se vários ossos de animais. Todos antiquíssimos, talvez do século I. Para os arqueólogos, a situação se explicava: como as leis romanas proibiam a remoção de ossos de uma sepultura, esses haviam sido encontrados e amontoados no pequeno buraco ao pé do nicho.
Apenas para completar os estudos, o dr. Correnti verificou rapidamente os demais ossos das tumbas próximas. Ao analisar os ossos encontrados na cavidade revestida de mármore da parede dos grafitos, chamou-lhe a atenção o estado de conservação, estando a maioria bem branca. Dada sua grande antiguidade, decidiu estudá-los melhor. Eram 135 ossos, sendo que poucos estavam inteiros. Constatou que provinham de um só indivíduo, do sexo masculino, de físico robusto e falecido entre os 60 e 70 anos. Antes de estar na cavidade marmórea, eles estiveram enterrados na terra nua, mas depois, durante muito tempo, permaneceram bem protegidos e envoltos por tecidos purpúreos, que mancharam um pouco alguns.
Ao tomar conhecimento dessas conclusões, a dra. Guarducci ficou sobressaltada. Ela revelou que a expressão grega "Petros eni" ecoava continuamente em sua cabeça. Seriam essas as relíquias de São Pedro? Não é a única explicação possível para o "Pedro está aqui"? E para a misteriosa cavidade? Todos os dados confluíam para essa teoria. A razão do esconderijo seria evitar profanações.
O dr. Correnti logo apoiou a tese da dra. Guarducci, e ambos obtiveram de Paulo VI, que havia sido eleito recentemente, permissão para reabrir as pesquisas. O teste crucial foi o dos fragmentos de terra existentes nos ossos. Sua composição química revelaria se era a mesma terra que se encontra no piso do túmulo vazio de São Pedro. Uma circunstância tornava esse teste particularmente importante: a terra do túmulo é de tipo calcárea argilosa, bem diferente da que se observa em toda a região vizinha, inclusive dos túmulos próximos. Conclusão do exame: a terra é a mesma do túmulo de São Pedro.
O tecido purpúreo foi examinado. Seria púrpura autêntica? E seria romana? Só os membros da alta nobreza romana podiam usar a púrpura verdadeira, cuja fabricação era um rigoroso segredo de Estado. Os demais ricos usavam uma imitação. Hoje a composição química de ambos os tipos é conhecida. Outra particularidade: a púrpura com fios de ouro era de uso exclusivo da família imperial em raras ocasiões. Resultado do exame: era púrpura romana verdadeira, decorada com finíssimas placas de ouro. E os fios que estavam junto aos ossos eram fios de ouro. Este foi um argumento essencial a favor da teoria da dra. Guarducci, pois como a cavidade marmórea foi considerada como já existente na época constantiniana, ficava claro que o Imperador autorizara envolver as preciosas relíquias na púrpura imperial.
Antes de publicar novos estudos, cinco renomados especialistas independentes verificaram tudo o que havia sido feito e deram-se por satisfeitos. Mas, quando foi dada a público a nova teoria, levantou-se um grande vozerio em certos meios científicos. Este era explicável, pois, para preservar o bom nome dos arqueólogos e de Mons. Kaas, a dra. Guarducci procurou cobrir com um manto o incrível episódio do eclesiástico ao recolher os ossos sem avisar aos membros da equipe. Também impugnou-se o exame do tecido, exigindo-se algo mais rigoroso. E, sobretudo, argumentava-se que não havia nenhuma prova que demonstrasse não ter sido violado o repositório marmóreo.
Assim, nova série de pesquisas foi iniciada. O exame mais rigoroso dos tecidos, feito na Universidade de Roma, confirmou os resultados anteriores. E Paulo VI autorizou a se abrir o repositório, para confirmar se ele datava da época de Constantino e se não fora violado. A dúvida surgiu porque fora encontrada uma moeda do início da Idade Média no local.
Uma equipe desmontou a parte de baixo da parede azul dos grafitos, a fim de penetrar no repositório sem tocar nas paredes e no teto. Tudo foi examinado minuciosamente, e a conclusão foi que ele fora fechado no século IV, e jamais fora aberto. Várias moedas foram ali encontradas, tendo penetrado através de fissuras da parede causadas por acomodação do terreno. Para silenciar definitivamente as críticas, novo trabalho foi publicado, relatando as circunstâncias exatas do episódio de Mons. Kaas, acompanhado de documento juramentado do "sampietrini" Segoni. E a dra. Guarducci rebateu convincentemente a última crítica que ainda pairava: como explicar a remoção dos ossos da sepultura, mesmo por motivos de segurança, uma vez que os costumes romanos não o permitiam? Na realidade, os ossos não foram removidos da sepultura, pois a parede azul é parte integrante dela.
Após algum tempo, certificando-se de que a crítica nada mais de ponderável podia apresentar, e vendo que os novos exames reforçaram singularmente a teoria da dra. Guarducci, Paulo VI, a 26 de junho de 1968, anunciou solenemente ao mundo que, após longos e extensos estudos, "as relíquias de São Pedro foram identificadas de um modo que julgamos convincente". E, por isso ele fazia "este feliz anúncio aos fiéis de todo o mundo.
No dia seguinte, em cerimônia presidida por Paulo VI, as relíquias de São Pedro, guardadas em caixas com tampos transparentes, foram recolocadas no repositório onde haviam sido encontradas.
Confirmando a tradição católica, sobre as relíquias de São Pedro fora edificada a grande Basílica de Constantino, considerada o centro da Cristandade. E sobre tal Basílica, mil anos depois, ergueu-se a atual Basílica de São Pedro. Cumpriu-se assim, até de modo físico, a promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo a São Pedro: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja".
Mariano Antonio Legeren
São Tomás Morus, na época em que era chancelar da Inglaterra.
NO DIA 16 de maio de 1532, Sir Thomas More se demitia do cargo de Chanceler de Henrique VIII, Rei da Inglaterra.
No dia anterior, o clero inglês se havia dobrado à vontade do Rei. Por um documento de submissão, o monarca adquiria o poder de legislar em matérias eclesiásticas. Estava assim aberto o caminho para seu premeditado divórcio de Catarina de Aragão, e iniciada a via que conduziria ao cisma anglicano.
A consciência de Sir Thomas não podia aceitar a submissão do clero ao monarca, e por isso renunciou, depois de haver envidado todos os esforços para evitar esse desenlace.
"Todos estão muito penalizados por sua demissão, porque jamais houve nem haverá Chanceler tão honrado e perfeito" - escreveu o Embaixador de Carlos V em Londres ("Sir Thomas Moro", Andrés Vásquez de Prada, Ed. Rialp, Madrid, 1983, 3ª ed., p. 357). Essa excelente obra, baseada nas melhores fontes, reproduz com fidelidade textos e afirmações do santo britânico).
A 6 de julho de 1535 - portanto há 450 anos - o grande Chanceler foi martirizado, testemunhando com o próprio sangue sua inabalável adesão à Igreja Católica. E há 50 anos, no Consistório de 9 de maio de 1935, São Tomás Morus foi canonizado pelo Papa Pio XI.
A intransigência de São Tomás Morus em relação à heresia era conhecida. No epitáfio que compôs para ser inscrito no próprio túmulo, incluiu esta frase: "Causou incômodo aos ladrões, aos homicidas e aos hereges" ("Furibus autem et homicidis hereticisque molestus"). Concebida para o túmulo da família em Chelsea, foi mantida assim até o século XVII. Mais tarde alguém a alterou, suprimindo a palavra "hereticisque".
A propósito desta inscrição, ele mesmo comentou em uma carta: "Com altivez consignei o que declaro no epitáfio, sobre haver causado incômodo aos hereges. Porque tanto detesto este tipo de pessoas, que a ninguém mostraria maior hostilidade, a não ser que se corrijam. Cada dia que passa me dou conta de que eles são tais, que pressinto com terror o mal que vão ocasionar ao mundo" (op. cit., p.387).
Em outra carta, fustiga os hereges e sustenta a indestrutibilidade da Igreja: "Desde que começaram a surgir hereges e cismáticos, a Igreja os expulsou ou eles se separaram d'Ela declaradamente. Mas a Igreja, como verdadeiro rebanho, sempre continuou e subsistiu, e os ramos destacados, cedo ou tarde secaram. Assim terminarão todos estes, ao passo que a Igreja Católica permanecerá, firme com Deus e Deus com Ela, de acordo com a promessa do Senhor, até que o mundo chegue ao seu fim" (op. cit., pp. 371-372).
No período decorrido entre sua renúncia e a prisão, escreveu uma Apologia, defendendo a Igreja da acusação que lhe faziam seus inimigos, de ser cruel para com os hereges. E também defende a si próprio de um verdadeiro mar de calúnias com que os protestantes o cobriram. Os séculos passam, mas as técnicas dos inimigos da Igreja permanecem as mesmas...
A firmeza doutrinária e a rejeição da heresia, que caracterizam esses escritos do grande mártir inglês, constituem certamente salutares exemplos para católicos de nossos dias, cujos espíritos estão eivados de erros do progressismo.
Negando-se a assinar o Ato de Sucessão, pelo qual o Parlamento proclamava a nulidade do matrimônio de Henrique com Catarina de Aragão e negava a autoridade suprema do Romano Pontífice, o ex-Chanceler foi aprisionado na Torre de Londres.
Nas visitas que lhe faziam seus familiares, várias vezes teve de repreendê-los severamente, mantendo sua posição irredutível. À filha Margareth, ele ironizava sua insistência, comparando-a à primeira mulher ao tentar Adão: «Como, Sra.Eva?! Vens tentar outra vez a teu pai, servindo-te de teu carinho para fazê-lo jurar contra a própria consciência e mandá-lo aos infernos?" (op. cit., p. 410).
Até mesmo sua esposa, Lady Alice, o invectivou duramente: "Sempre fostes um homem sensato. Muito me surpreende que façais agora o papel de tolo, fechado aqui nesta suja prisão, convivendo alegremente com ratos e ratazanas. Bem poderíeis estar fora e livre, gozando o favor e benevolência do Rei e de seu Conselho, se fizésseis o que todos os Bispos e personalidades deste reino fizeram. Em Chelsea tendes uma bela casa, onde podeis passar muito bem, acompanhado de mulher e filhos e de criados. Que fazeis, que não vos apressais a deixar isto?" A estas invectivas o prisioneiro argumentou prontamente: "Alice, por favor, diga-me uma coisa: esta casa aqui não está tão perto do céu como a minha? Por que hei de apegar-me a uma casa que logo vai esquecer o seu dono?" (op. cit., 416-417).
Outro biógrafo descreve tentativa semelhante, à qual São Tomás Morus respondeu: "Bem, Alice. E quanto tempo pensas que poderei desfrutar essa vida que me descreveste?" Ante a resposta - "Pelo menos vinte anos, se Deus quiser" - o prisioneiro retrucou: "Minha cara mulher, não serves para negociante. Queres que eu troque a eternidade por vinte anos? (op. cit., p.426).
Os atos posteriores do Parlamento, em especial o de supremacia, mediante o qual Henrique VIII foi proclamado chefe da igreja anglicana, pioraram a situação legal do ex-Chanceler. Negava-se ele a acatá-los por motivos de consciência, mas não declarava aos juízes quais eram esses motivos. O silêncio de Sir Thomas More se prolongava por longos meses, atraindo a atenção de todo o reino, onde era reconhecido como um católico insubornável, sábio e virtuoso. Com sua atitude ele sacudiu a consciência da Inglaterra e do mundo.