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| Um modelo para os católicos de hoje... | (continuação)

No dia 1º de julho de 1534, foi conduzido a Westminster Hall, para julgamento.

Na foto, o Rei George VI pronuncia a Fala do Trono, por ocasião da abertura do Parlamento, em outubro de 1950, no Westminster Hall. Nesse grandioso salão gótico, cuja construção foi iniciada no século XI, o chanceler-mártir foi julgado e condenado à pena capital.

Era acusado, em primeiro lugar, de repudiar o divórcio do Rei e o Ato de supremacia. Defendeu-se alegando que "por este meu silêncio, vossas leis não me podem condenar à morte. Porque nem as vossas leis nem todas as leis do mundo podem condenar uma pessoa, a não ser que tenha dito ou feito algo".

A segunda acusação incidia sobre suas cartas para o Bispo de Rochester, John Fisher, que havia sido decapitado pela sua pública discordância em relação às atitudes do Rei (São João Fisher foi canonizado a 9 de maio de 1935, junto com São Tomás Morus). Aduziam ainda seus acusadores que tanto Fisher como ele haviam respondido da mesma forma a uma pergunta. Alegou o réu que as cartas não tratavam dos assuntos pelos quais estava sendo julgado, e que a coincidência de respostas não se devia a algo premeditado entre os dois, mas a uma coincidência de pensamento.

Em virtude de sua defesa magistral, tornou-se patente que não havia cometido nenhum delito. Mas a acusação recorreu ao testemunho perjúrio do procurador Richard Rich, que falseou os termos de uma conversa mantida com o Santo na prisão. Segundo ele, Morus havia negado a validade do Ato do Parlamento. Dirigindo-se então à audiência, perguntou o acusado:

"Julgais verossímil, senhores, que em assunto tão grave eu me arriscaria inadvertidamente a confiar no Sr. Rich, homem a quem sempre tive como escasso de veracidade, para abrir a ele os arcanos de minha consciência no tocante à supremacia do Rei, que é o ponto concreto e a única prova em meu poder que há tanto tempo procurais?"

No momento em que Lord Audley lia a sentença, Morus o interrompeu para declarar:

"Considerando que vos vejo decididos a condenar-me - e Deus sabe como! - para desencargo de minha consciência manifestarei clara e livremente meu parecer sobre a acusação e o estatuto em questão. Está visto que a acusação se baseia em um Ato do Parlamento que repugna diretamente à lei de Deus e de sua Santa Igreja, cujo governo supremo, ou o de qualquer de suas partes, nenhum príncipe temporal pode assumir mediante lei, pois pertence legitimamente à Sé de Roma, por especial prerrogativa concedida tão só a Pedro e a seus sucessores pelo próprio Salvador, quando em pessoa estava presente na Terra. Resulta daí que o Ato é insuficiente, entre cristãos, para acusar a qualquer cristão" (op. cit., p. 463). E acrescentou que o Ato violava as garantias concedidas pela Carta Magna à Igreja, e o próprio juramento proferido por Henrique VIII ao ser coroado.

Como o Lord Chanceler argumentasse que a maioria dos Bispos e universidades inglesas opinavam contra ele, replicou:

"Se de um lado estivesse eu sozinho, e de outro lado o Parlamento inteiro, grande seria meu temor de apoiar-me no meu próprio critério. Mas constituem maioria os homens virtuosos e os sábios Bispos ainda vivos que pensam como eu. Isto sem contar os que já estão mortos, e muitos deles santos no Céu. Portanto, Lord Chanceler, não estou obrigado a pautar minha consciência pelo Conselho de um reino contra o Conselho Geral da Cristandade, já que para cada Bispo dos vossos, conto eu com mais de uma centena dos Santos Bispos mencionados. E por um Parlamento dos vossos - Deus sabe que classe de Parlamento - conto com os demais reinos cristãos.

"Mas não é só pelo Ato de supremacia que quereis meu sangue. É que eu não quis me dobrar no referente ao assunto do divórcio".

O martírio

São Tomás Morus foi decapitado a 16 de julho de 1535. No alto do cadafalso, rezou de joelhos o Salmo 50: "Miserere mei". Em seguida levantou-se e falou brevemente ao povo, dizendo que morria "como servidor do Rei, mas primeiramente de Deus" (op. cit. p. 475).

Sirva seu exemplo, 450 anos depois de sua morte, para recordar aos homens de hoje, encharcados de espírito relativista, que é necessário obedecer antes a Deus que aos homens. E o seu martírio, como o de São João Fisher, sejam um penhor do retorno da nobre nação inglesa à verdadeira Igreja, da qual São Tomás Morus foi um dos maiores servidores.



LOURDES: OS MILAGRES CONTINUAM

MESMO EM NOSSA ÉPOCA de ceticismo e crescente indiferença religiosa, o Santuário de Lourdes, na França, continua atraindo anualmente milhões de peregrinos. Célebre pelas curas milagrosas que lá se operam, a fonte de Massabiele tem sido também um manancial contínuo de graças e beneficios para todos que nela se banham.

Após longos anos de exaustivas investigações, o Gabinete Médico de Lourdes, encarregado de comprovar a autenticidade dos milagres, registrou mais um caso emocionante, noticiado pelo jornal norte-americano "Sunday Times" de 21-8-83.

Delizia Cirolli, natural de uma pequena aldeia da Sicília, contava apenas 11 anos quando adoeceu gravemente. Os médicos diagnosticaram câncer incurável no joelho direito. Seus pais, vendo que a ciência humana era impotente para curar a filha, resolveram ir a Lourdes pedir um milagre à Excelsa Mãe de Deus.

Com o auxílio pecuniário de amigos e reunindo grandes esforços, a modesta família Cirolli realizou a peregrinação ao Santuário. Lá chegando, a pequena Delizia foi banhada na fonte que, desde 1858, tem sido um manancial de graças tanto para os corpos como para as almas.

Entretanto, a moléstia progredia e a saúde da criança piorava cada vez mais. Dois meses após a romaria, ela entrou em estado de coma. Os médicos deram-lhe poucos dias de vida.

Foi então que ocorreu o fato surpreendente: ouvindo ruídos da filha, a mãe de Delizia acorreu pressurosa. Ao abrir a porta, uma forte emoção assaltou- lhe o espirito.

"Quero levantar, mamãe", disse a menina, saindo bruscamente da cama. O tumor desaparecera. A criança estava miraculosamente curada!

O caso extraordinário ocorrido com Delizia Cirolli foi declarado "cientificamente inexplicável" pela equipe médica de Lourdes. Como se sabe, a investigação dos fatos excepcionais verificados na Gruta dos Pirineus comporta longa série de exames e está a cargo de centenas de especialistas. Para ser considerada miraculosa, é necessário que a cura seja instantânea, sem o concurso de medicamentos, e duradoura.

Em agradecimento à sua celeste Benfeitora, a jovem Delizia Cirolli tornou-se freira. Consagrou sua vida para testemunhar as maravilhas d'Aquela que, aparecendo a uma simples camponesa, disse de Si mesma: "Eu sou a Imaculada Conceição".



FESTA DE CORPUS CHRISTI E A EUCARISTIA

NOSSO SENHOR Jesus Cristo instituiu a Sagrada Eucaristia na Quinta-feira Santa, durante a Santa Ceia. Como o dia está cercado pelo luto da Paixão, pois o pensamento da morte de Nosso Senhor domina os magnos dias da Semana Santa, não se poderia celebrar nessa data, de modo condizente, o júbilo da instituição da Sagrada Eucaristia. Por isso a Igreja instituiu um dia especial para essa festa, que ocorre logo depois de Pentecostes. Assim, repletos das graças da alegria do Espírito Santo, podemos celebrá-la com toda a pompa.

A festa do Deus vivo

A festa de Corpus Christi - festa do Corpo Sagrado de Jesus Cristo - é o único dia consagrado a honrar tão somente a adorável Pessoa, sua presença viva entre nós. Enquanto as outras festas litúrgicas celebram algum mistério da vida do Salvador, esta diz respeito à Pessoa de Nosso Senhor, vivo e presente entre nós. E por isso ela é comemorada de modo particular.

São Pedro Julião Eymard, o grande apóstolo do Santíssimo Sacramento, em sua obra "Temas de Adoração" afirma: 'Não se expõem neste dia relíquias, ou emblemas de tempos idos, mas o próprio objeto da festa, que é um objeto vivo"

E prossegue o apóstolo da Eucaristia:

"Existe entre Jesus vivendo no Sacramento, e nós no mundo, uma relação de vida, uma relação de corpo a corpo. É porque esta festa não se chama simplesmente a festa de Nosso Senhor, mas a festa do Corpo de Nosso Senhor. Por esse Corpo, n'Ele tocamos. Por esse Corpo, tornou-se nosso alimento, nosso irmão, nosso hóspede. Festa do Corpo de Jesus Cristo! Quanto amor envolve tal nome, por ser humilde e proporcionado à nossa miséria. Nosso Senhor desejou esta festa para se aproximar cada vez mais de nós. Não deseja o pai ver o filho celebrar-lhe o aniversário por lhe dar ocasião de provar com maior vivacidade seu amor paternal e lhe poder conceder algum favor particular? Seja esta festa toda de alegria, e ser-nos-ão concedidos insignes favores"

Proclamação da Presença Real

A festa de Corpus Christi está intimamente ligada ao empenho

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CERIMÔNIA DE CORPUS CHRISTI MARCADA PELO ESPÍRITO DE AGITAÇÃO SOCIAL

Eduardo Queiroz da Gama

A procissão de Corpus Christi, realizada no dia 6 de junho em São Paulo, assemelhava-se a uma passeata profana, estando ausente o espírito de sacralidade.

DESDE OS PRIMÓRDIOS de nossa história, a devoção ao Santíssimo Sacramento deitou raízes profundas na alma do povo brasileiro.

A procissão de Corpus Christi - manifestação insigne dessa devoção, que se realizou este ano no dia 6 de junho - conserva ainda no Brasil um misto de piedade e solenidade. Várias cidades mantêm até nossos dias o salutar costume de honrar o Santíssimo Sacramento, na festa de Corpus Christi, mediante enfeites, em forma de desenhos floridos, colocados no leito das ruas pelas quais passa o cortejo.

São piedosas tradições que teimam em não morrer, embora o progressismo venha se empenhando em desfigurar e desvirtuar tal devoção.

Em muitas cidades brasileiras a procissão de Corpus Christi ainda conserva algo de seus aspectos tradicionais. A piedade dos participantes, a solenidade do cortejo conduzindo o Santíssimo Sacramento e a ornamentação primorosa das ruas caracterizaram a festividade.

Na capital paulista, porém, foi acentuada a nota de incitamento à agitação social.

Povo simples e piedoso convidado ao "engajamento"

A comemoração de Corpus Christi organizada pela Arquidiocese de São Paulo constou de três atos: Missa campal, celebrada na Praça da República; a procissão até a Praça da Sé, distante cerca de três quilômetros do local onde foi celebrada a Missa; e a bênção do Santíssimo, realizada na Praça da Sé, diante da Catedral.

Em muitas igrejas da capital paulista não foram celebradas Missas, para que os fiéis "engrossassem" o público presente. Apesar disso, o número dos que compareceram - 10 a 12 mil pessoas - foi insignificante, se levarmos em conta que a Arquidiocese abrange uma área habitada por cerca de 10 milhões de pessoas.

Os membros das CEBs - Comunidades Eclesiais de Base - orientados pelas diversas "comissões" e "pastorais" da Arquidiocese (Pastorais "operária", do "menor abandonado", dos sofredores de rua", do "negro", da "juventude" etc), deram o tônus à celebração eucarística.

Não obstante, os participantes eram, em sua maior parte, pessoas de classe simples, cujo semblante refletia devoção e piedade tradicionais. Tinha-se a

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