P.06-07 | NACIONAL |

Príncipe D. Bertrand de Orleans e Bragança no Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade de Direito da USP

Balanço de uma visita

Dois "Brasis" se defrontaram na histórica Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, no dia 12 de março último. O primeiro "Brasil" - o autêntico, o da Fé católica, da tradição, da dignidade, da compostura - era representado pelo Príncipe D. Bertrand de Orleans e Bragança, bisneto da princesa Isabel, a Redentora.

O segundo "Brasil" - na realidade um anti-Brasil, porque inteiramente oposto à vocação providencial de nossa pátria e afeito ao desregramento dos costumes, à vulgaridade soez, ao achincalhe em sua expressão mais repudiável - era representado por um grupo heterogêneo composto por meia dúzia de figuras circenses, extra-Faculdade, acrescido de alguns alunos desta.

Esse núcleo, sustentado por pequena claque, logo no início da exposição aproximou-se de D. Bertrand, e um de seus figurantes, trajando-se com paletó, gravata e de cuecas, declarou-lhe: "Vamos entregar ao candidato a rei o abacaxi". E, ato contínuo, pôs sobre a mesa de conferências um abacaxi, acompanhado da bandeira nacional.

O Príncipe manteve-se tranquilo e aguardou que a bandeja fosse colocada sobra a mesa. Levantou-se depois com dignidade e redarguiu: "Embora o Brasil esteja passando por momentos difíceis de sua História, eu jamais o compararia a um abacaxi. Tal comparação é uma atitude antipatriótica, um acinte contra nossa pátria". Essas palavras foram acolhidas com palmas por parte do auditório.

Parcialidade de órgãos da imprensa

Tais aplausos, bem como o desagrado manifestado pela generalidade dos assistentes quando o mesmo grupelho irrompeu uma segunda vez na sala de conferências, foram ignorados por certos órgãos de imprensa.

Pelo noticiário desses jornais - muito mais empenhado em divulgar o desalinhavado e estridente das palhaçadas do que a serena, vivaz e lúcida reação do Príncipe - o leitor é levado a imaginar que a plateia aplaudiu às gargalhadas os figurantes burlescamente fantasiados de nobres, valetes e mendigos. Análoga impressão causa o título nada veraz de um noticiário: "D. Bertrand cai em cilada real". Seguido da afirmação ainda mais inverídica de que os alunos de Direito impediram-no de exaltar a monarquia.

Resguardando, a justo título, o renome do Centro Acadêmico XI de Agosto, desdourado pelas intenções evidentemente agressivas da chanchada, o próprio presidente desse grêmio levantou-se e protestou contra o grupelho contestatário, declarando que as pessoas convidadas para falar tinham o direito de se expressar livremente. E D. Bertrand de Orleans e Bragança, que conserva nostálgica recordação do tempo em que cursou a histórica Faculdade, externou, em seguida, sua decepção e perplexidade diante da falta de liberdade reinante naquela instituição de ensino. Acrescentou que, na época em que estudou na mesma Faculdade, observava-se muito mais ordem e respeito.

Certo noticiário jornalístico apresentou o Príncipe como um ingênuo, que caiu numa armadilha, ficando inteiramente desconcertado ante uma plateia maciçamente hostil.

No entanto, contrariando essa tendenciosa versão dos acontecimentos, constatei, mesmo antes da conferência, a simpatia e o respeito com que D. Bertrand foi recebido no pátio do edifício, sob as famosas Arcadas, por considerável número de estudantes que o rodearam, pedindo-lhe autógrafos e colocando-se a seu lado para serem fotografados.

Convém ressaltar que, afastada pela segunda vez a coorte de baderneiros, o Príncipe prosseguiu normalmente sua exposição diante de um auditório atento e tranquilo. Na mesma atmosfera, respondeu de modo cordial a múltiplas perguntas, algumas delas despertadas certamente pela simpatia e pelo interesse com que vários assistentes haviam acompanhado a exposição atraente e cristalina do seu pensamento. E também pela destreza com que havia frustrado as inúteis investidas da baderna.

Tais disposições da maioria dos ouvintes se fizeram sentir mediante a salva de palmas que se seguiu a suas últimas palavras.

Terminada a conferência, considerável número de alunos acercou-se de D. Bertrand, a fim de manifestar-lhe tanto seu repúdio àquelas insípidas burlas, quanto seu apreço pelo orador. Vários deles pediram-lhe autógrafos, enquanto outros tiraram fotos e filmaram o Príncipe Imperial do Brasil.

Ouvi de um desses universitários significativa observação, que merece ser reproduzida aqui: "D. Bertrand foi a única pessoa que se mostrou por inteiro neste ambiente. Ele não teve medo de dizer o que era e o que pensava. Outros oradores, que falaram na Faculdade, moldaram-se ao auditório para obter sua simpatia. Fiquei impressionado com a atitude de D. Bertrand, com sua firmeza, sua clareza e sua integridade".

Sob as Arcadas históricas: estudantes - entre os quais vários calouros, de cabeça raspada, conforme a tradição da Casa - se aglomeram em torno do visitante pedindo-lhe autógrafos.

Monarquia hoje representa o futuro

Bem analisadas as coisas, valeu largamente a pena D. Bertrand ter aceito o convite para fazer uma palestra no Centro Acadêmico XI de Agosto.

Houve uma modificação bastante significativa a respeito da monarquia, e, portanto, de D. Bertrand, com relação à atmosfera reinante na década de 60, quando ele colou grau na mesma Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Se, naquela época maciçamente republicana, todos o chamavam "o Príncipe", hoje verificou-se uma transformação, pela qual houve quem tentasse praticar contra ele uma irreverência então impensável; mas, de outro lado, surgiram também não poucos partidários da monarquia, que, na década de 60, inexistiam de todo.

A conferência na Faculdade do Largo São Francisco atestou que está nascendo um impulso rumo à monarquia em ritmo ascensional, e que o movimento no sentido da república, majoritário, está decaindo.

Ora, a tendência monárquica cm ascensão representa o futuro, pois o que está crescendo é mais próprio a significar o futuro. Pelo contrário, o que vai minguando - como sucede com a tendência republicana - ruma para o desaparecimento.

O impulso monárquico é representado por gente decidida: certos alunos, após a conferência, pediram a D. Bertrand para fundar um centro monarquista na Faculdade. Essa tendência mostra um crescimento inesperado, absolutamente impensável na época em que "o Príncipe" era aluno da Faculdade.

Sua conferência e a atitude digna que assumiu em face da troupe de desordeiros à Sorbonne, consolidou, naquele ambiente universitário, os monarquistas declarados e atraiu outros que não se manifestavam até aquela data. E despertou ademais a solidariedade de alunos sem posição política definida, que admiraram a integridade do Príncipe - universitários que formam a corrente dos nostálgicos da compostura, rejeitando os aspectos de desagregação e decomposição cada vez mais frequentes no mundo contemporâneo.

Diante deste abacaxi ostentado pela demagogia, muitos cederiam, outros se enfureceriam: sereno, o Príncipe responde com altaneria e precisão.
Página seguinte