| CORRESPONDÊNCIA |

Escrevem os Leitores

Parabéns

Escrevo para parabenizá-los pela excelente edição comemorativa nº 500, de agosto passado. Compartilho com as ideias e ideais da TFP e creio que todo verdadeiro católico deve lutar contra o processo de autodemolição por que passa nossa Igreja, seja denunciando a infiltração esquerdista em suas bases, seja proclamando a verdade etc ... o que não podemos é ficar omissos. Temos sim, que rezar para que possa nascer logo o sol da Contra-Revolução, prometido por Nossa Senhora em Fátima. Saibam que cada vez cresce mais minha admiração e afeição pela TFP e por Catolicismo. (L.P. de S. Gouvêa, Santa Cruz – RJ).

Aniversário

No magnífico nº 500 da revista Catolicismo, comemorativo dos 42 anos de luta na fidelidade doutrinária, vem publicada a III parte atualizada do livro "Revolução e Contra-Revolução" do prof. Plinio Corre a de Oliveira, obra capital para todos aqueles que desejam entender e se opor à apocalíptica crise do século XX. Face à IV Revolução, chamou-me a atenção a importância que o Dr. Plinio dá de que os contra -revolucionários combatam, com todos os recursos, a Revolução nas tendências (cfr. parte III, capítulo III, subtítulo. Dever dos contra-revolucionários ante a IV Revolução nascente – p. 28). Catolicismo não poderia dar ênfase especial ao combate a essa revolução nas tendências? (M.H. Azeredo Santos, São Paulo – SP)

N. da R.: Pareceu-nos muito oportuna a sugestão da prezada missivista, que, aliás, vai na linha da proposta enunciada pelo insigne autor de "Revolução e Contra-Revolução". Catolicismo, que já vinha se ocupando desse assunto mediante colaborações de alguns de seus articulistas, especialmente em seções como "Discernindo, distinguindo, classificando ... " e "Imagens em Painel", pretende doravante abordar o tema de modo mais frequente e explícito.
| VERDADES ESQUECIDAS |

Tradição, marcha para a frente e mais ainda do que isto

PIO XII
(Discurso ao Patriciado e Nobreza Romana, 1944, pp. 178-180)

Muitos espíritos, mesmo sinceros, imaginam e creem que tal tradição não seja mais do que a lembrança, o pálido vestígio de um passado que não existe mais, que não pode voltar, e que, quando muito, é relegado com veneração, se se quiser, e com reconhecimento, à conservação de um museu, que poucos amadores ou amigos visitam...

A tradição é coisa muito diversa de um simples apego a um passado já desaparecido, é justamente o contrário de uma reação que desconfie de todo são progresso. O próprio vocábulo etimologicamente é sinônimo de caminho e de marcha para a frente –– sinonímia e não identidade.

Com efeito, enquanto o progresso indica somente o fato de caminhar para a frente, passo após passo, procurando com o olhar um incerto porvir, a tradição indica também um caminho para a frente, mas um caminho contínuo, que se desenvolve ao mesmo tempo tranquilo e vivaz.


| COMENTE, COMENTE |

O que mudou em Aparício?

Encontrei-me com Aparício numa oficina mecânica. Vivaz e falante como sempre, veio ele cumprimentar-me, lembrando os velhos tempos em que, juntos, militávamos nas gloriosas fileiras das Congregações Marianas:

– "Cara" – gritou ele para se fazer ouvir em meio ao ruído dos motores –, há quanto tempo não o vejo! Olhe, "bicho", "gozado", você sabe que eu continuo católico como antes; não mudei em nada "viu" "cara"... E você?

Um tanto desconcertado pela mudança de linguagem daquele de quem conheci o vocabulário digno e elevado, respondi-lhe que também, graças a Deus, mantinha-me firme nos princípios que aprendera no Catecismo tradicional e permanecia católico praticante.

– "Falou hein!" "Tchau"! "bicho". Ligou seu carro e saiu apressadamente.

Ao vê-lo afastar-se, voltaram-me ao espírito suas palavras: "Não mudei em nada..." Como mudou –pensei - meu pobre companheiro de militância católica! Mas, de fato, mudou no quê? Mudou de ideias? De convicções? Não parece, pois garantiu-me ele que as conservava tais e quais eram nos tempos de congregado mariano. Entretanto, via que mudara profundamente... Sim, mudara o linguajar. Mas só por isso teria mudado de mentalidade e de princípios?

Nesse instante, o mecânico anunciou que meu automóvel já estava reparado. Tomei-o, e afastando-me da cacofonia do ambiente, meu pensamento retornou instintivamente à breve conversa mantida com Aparício.

Chamou-me ele de "cara". Ora, eu não me reduzo a uma cara. Aliás, cara têm também os animais. O homem tem rosto. Posso me referir à cara do cavalo ou do cão. O que a minha "cara" tem de distinto da do animal é a fisionomia. Positivamente, a fisionomia é um traço distintivo de minha personalidade, mas também este não esgota o que eu sou. Sou um todo, composto de corpo e alma, criado à "imagem e semelhança de Deus". Sou uma pessoa.

Dirigir-se, portanto, a alguém com o qualificativo de "cara" é desconhecer a dignidade racional do homem e aproximá-lo do bicho. Aliás, muito coerentemente, na linguagem de meu velho conhecido, os apelativos "cara" e "bicho" vinham juntos.

Ora, desfigurar com traços degradantes o retrato de alguém, é ofender o retratado. Se a alma humana é a mais perfeita imagem de Deus na ordem terrena criada, conspurcá-la a ponto de confundir o homem com o bicho é atentar contra a ordem da criação e, portanto, blasfemar contra o Criador.

Com manifesto alívio e júbilo, a conclusão saltou-me ao espírito: o palavreado de Aparício é anticatólico, pois viola o Primeiro Mandamento da Lei de Deus que nos obriga a amá-Lo como Ele é, nos seus predicados e nas suas obras.

Por outro lado, o termo usado por ele para se despedir de mim também não me agradou: "Falou!". Haveria alguma relação entre o verbo "falou" e as palavras "cara" e "bicho"? Não seria também aquele censurável do ponto de vista da doutrina católica?

O papagaio também fala. O homem, quando fala, diz algo. O dizer, ao contrário do "falou", é uma operação do espírito. Tomar indistintamente, na linguagem corrente, o "dizer" por "falar" é amesquinhar as qualidades mais nobres do homem. Mais uma vez, é degradá-lo e subverter a ordem da natureza.

Eufórico com as conclusões a que meu raciocínio ia chegando, tomei o propósito de, encontrando-me com Aparício, expor-lhe tudo isso para o bem de sua alma.

Eis que paro num semáforo e quem vejo estacionado a meu lado? Precisamente Aparício! Meu ímpeto de fazer-lhe algum bem levou-me a convidá-lo para almoçar neste mesmo dia.

Entre um prato e outro – invocando nossa velha amizade –expus-lhe meus pensamentos.

Outra surpresa, entretanto, me aguardava. Esperava dele, como é normal, uma reação ou favorável ou contrária, quando o vi responder, numa espécie de espontânea indiferença: "Respeito sua 'colocação'. Mas minha 'colocação' é outra".

Desconcertado, e impossibilitado de argumentar com ele, limitei-me a pagar a conta e despedir-me. Cada qual seguiu seu caminho...

"Colocação", saí pensando, mais uma palavra afim com "cara", "bicho", "gozado" e "falou". Mas... afim no quê?

Em matéria de Religião Católica, há verdade e bem em contraposição a erro e mal. Há doutrinas, há princípios. Aliás, é próprio do homem, em muitas outras matérias, ter convicções e não "colocações".

"Colocação" exprime uma posição relativista de quem diz: "Eu penso de um modo e para mim a verdade é esta. O que não impede a um outro de pensar de maneira diferente e também possuir a verdade; pois o que é a verdade senão aquilo que cada um sente dentro de si?"

É, mais uma vez, uma degradação em que a verdade é rebaixada ao nível do erro, e a razão humana ao plano da mera sensibilidade.

Ah! as mudanças do Aparício são muito mais profundas do que eu imaginava. Não são apenas inovações no linguajar, mas envolvem uma mudança de mentalidade, de concepção da vida, e quiçá, de religião.

O leitor conheceria outras expressões que vão entrando no linguajar corrente, e que seriam gratas ao Aparício? Se conhecer, analise-as e comente com seus amigos. Se quiser, escreva-me.


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