| PALAVRA DO SACERDOTE | (continuação)

com o sexto mandamento, que proíbe as palavras e canções licenciosas.

Condenações nas Sagradas Escrituras

Existe ainda uma zona cinzenta de palavrões que não entram em nenhum dos três casos acima, mas que constituem uma linguagem vulgar, frequentemente relacionada com funções corporais indecorosas. A Bíblia é muito severa a esse respeito:

“O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, porque a boca fala daquilo de que o coração está cheio” (São Lucas, 6, 45).

“Não é aquilo que entra pela boca que mancha o homem, mas aquilo que sai dele. Eis o que mancha o homem” (São Mateus 15,11).

“Eu vos digo: no dia do juízo os homens prestarão contas de toda palavra vã que tiverem proferido. É por tuas palavras que serás justificado ou condenado” (São Mateus 12, 36-37).

“Que as vossas conversas sejam sempre amáveis, temperadas com sal [da sabedoria], e saibais responder a cada um devidamente” (Colossenses 4, 6).

“Deixai de lado todas estas coisas: ira, animosidade, maledicência, maldade, palavras torpes da vossa boca” (Colossenses 3,8).

“Quanto à fornicação, à impureza, sob qualquer forma, ou à avareza, que disto nem se faça menção entre vós, como convém a santos. Nada de obscenidades, de conversas tolas ou levianas, porque tais coisas não convêm; em vez disso, ações de graças” (Efésios 5, 3-4).

“Teu modo de falar te dá a conhecer”

É claro que, para os palavrões constituírem pecado, é necessário que sejam proferidos com pleno conhecimento e pleno consentimento. A raiva ou um grande aborrecimento diminuem a responsabilidade moral e a gravidade da falta, porque tornam mais difícil conter o fluxo de palavras grosseiras que vêm à mente. Mas isso não ocorre se a pessoa se habituou a jamais proferir palavrões e a usar sempre uma linguagem respeitosa e elevada.

É precisamente nessas circunstâncias que se deixa ver se a pessoa recebeu uma boa educação ou melhorou a que recebeu no ambiente em que foi criado. Alguém disse que a cortesia é a liturgia da caridade e isso é muito verdadeiro, pois a pessoa polida demonstra ter preocupação pela sensibilidade das pessoas que a rodeiam. Mais ainda, como a caridade começa em casa, ela demonstra ter uma consciência clara de sua própria dignidade de católico batizado e de membro de uma família digna.

Aqueles que se habituaram a dizer palavrões devem se esforçar para corrigir esse mau hábito e procurar afinar a sua sensibilidade de maneira a se chocarem quando ouvirem músicas, diálogos de filmes ou conversas entre colegas ou amigos que empregam linguagem chula. De fato, a vulgaridade tem o efeito muito danoso de conseguir amortecer na alma das pessoas a rejeição a coisas que normalmente deveriam chocá-las.

Essa obrigação de corrigir-se é tanto maior quanto mais a pessoa estiver em contato com crianças, pois estas são propensas ao mimetismo e tendem a repetir o que ouvem dos maiores. Se o entorno acha graça, elas percebem nos sorrisos maliciosos um encorajamento para enveredar pela via da vulgaridade e da faceirice.

Aos que colocam as crianças no bordo desse precipício, aplicam-se as severas palavras de Nosso Senhor: “Se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que creem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço a mó de um moinho e o lançassem no fundo do mar” (São Mateus 18, 6).

Uma consideração final e colateral, já não diretamente de ordem moral, mas que pode ajudar a nossa sociedade decadente a fazer um derradeiro esforço de correção da linguagem. É as pessoas tomarem consciência de que a linguagem vulgar cai bem em certos ambientes ditos “prá-frente”, mas é muito mal vista nos círculos mais cultivados e elevados de uma cidade, nos quais a elegância da apresentação e dos modos de ser ainda é um critério de avaliação das pessoas. Esses círculos poderão dizer ao “boca suja” aquilo que os criados disseram a Simão Pedro na casa de Caifás: “Teu modo de falar te dá a conhecer” (São Mateus 26, 73).

O mais importante, porém, é procurar ajustar em tudo nossas vidas ao divino modelo de Nosso Senhor Jesus Cristo, cuja linguagem era constituída somente de “palavras de vida eterna” (São João 6, 68). Pode-se imaginar a elevação, a seriedade e a doçura das conversas da Sagrada Família na casa de Nazaré?


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