Há dois anos (julho de 2021) publicamos nestas páginas um artigo sobre o inusitado conflito em que figuravam, como inimigas, duas etapas da Revolução anticristã: o feminismo e a ideologia de gênero, incluída esta última num espectro mais amplo, intitulado movimento woke.1
A primeira etapa intentou destruir a noção católica tradicional de feminilidade, negando sobretudo a importância da mãe e da educação dos filhos. As mulheres teriam de ser “iguais” aos homens, ocupando todos os seus espaços. A segunda etapa, dando um passo a mais, acabou por negar a própria noção de que há dois sexos diferentes. Agora tudo seria proposto em termos subjetivos, por meio da “escolha de gênero”. Ninguém nasce homem ou mulher por natureza, mas cada um deve “perceber” a que gênero pertence e assumir atitudes ou “papéis” conformes a essa opção.
Tal avanço da Revolução acabou por produzir choques entre revolucionários. Homens “biológicos”, mas “autopercebidos” como mulheres, começaram a participar de competições esportivas femininas e a solapar o direito de competidoras mulheres. Era o fim do “jogo justo” para as atletas. O feminismo tornou-se de “segunda classe” diante das novas ondas de decadência cultural: “Outro aspecto chamativo do movimento woke é como estabelece as prioridades entre diversos tipos de opressão. A nova consciência social inclui o feminismo, mas, de acordo com princípios ‘interseccionais’, as feministas devem ceder a primeira linha aos direitos dos transsexuais, como demonstrou a controvérsia sobre J. K. Rowling”.2
Agora, interessa-nos verificar outro tipo de guerra, mas que possui a mesma causa: as revoluções de ontem vão sendo engolidas pelas de hoje, algo definido pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira como “requinte matricida”.3 O ateísmo é uma dessas velharias de outrora que ainda gera aqui e acolá seus propagandistas do momento, mas nada de novidade emerge dessas águas turvas. Os mesmos argumentos — já mil vezes refutados pelos grandes doutores católicos — ganham roupagens diferentes e produzem alguns efeitos nas mentes daqueles desejosos de se livrarem do Eterno Criador, ao qual terão de prestar contas um dia.
Um desses propagandistas é Richard Dawkins, biólogo inglês, autor de obras pró-ateísmo como Deus: um delírio. Surpreendentemente, Dawkins, revolucionário de ontem, recebeu um duro golpe da revolução mais atualizada: a onda transgênero ou woke. Tudo porque ele ousou afirmar que as diferenças entre os sexos são “uma realidade biológica”.4 Bastou isso para que a American Humanist Association lhe retirasse o prêmio de “humanista do ano”. Numa débil tentativa de defender-se, o famoso ateu acusou os ativistas woke de serem “bullies”, isto é, agressores, valentões.
Outro ateu “cancelado” pelos defensores da ideologia woke é Stephen Woodford. Conhecido pelo seu canal de conteúdo antirreligioso “Rationality Rules” no Youtube, Stephen cometeu o “pecado” de manifestar-se contrário à participação de “transgêneros” — quer dizer, homens biológicos — nos esportes femininos.5
Algumas vozes do movimento “transgênero” atribuíram a Stephen este epíteto pouco tolerante: “transfóbico violento”. Até mesmo a Comunidade de Ateus de Austin (ACA), nos Estados Unidos, saiu com uma nota de repú-
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