Ao proclamar Alberto Magno Santo e Doutor da Igreja, no dia 16 de dezembro de 1931, o Papa Pio XI declarou que “o presente momento parece ser o tempo quando a glorificação de Alberto Magno seria mais calculada para conquistar almas à submissão do doce jugo de Cristo. Alberto é exatamente o santo cujo exemplo deveria inspirar esta idade moderna, tão ardentemente procurando paz, e tão cheia de esperança em suas descobertas científicas”1. Veremos por quê.
Santo Alberto Magno nasceu em Lauingen, cidade da Suábia bávara, pelo ano de 1205 ou 1206, embora muitos historiadores deem seu nascimento em 1193. Era o mais velho dos filhos do Conde de Bollstaedt, uma das mais ilustres famílias do país.
Desde cedo foi tomado pela sede de saber, de modo que nem pensou em seguir a carreira das armas, na qual se notabilizaram gloriosamente seus ancestrais. É nobre e rico, mas quer ser sábio. Foi por isso que, depois dos primeiros estudos na sua terra natal, foi mandado estudar na universidade de Pádua, que era para as ciências o que a de Paris era para a filosofia e a teologia. Lá residia também um tio seu. Com aplicação e entusiasmo, cursou gramática, dialética, retórica, música, geometria, aritmética e astronomia, sob a direção de sábios mestres. Observador atento, buscava uma explicação para tudo o que via. Tinha “o olho incessantemente aberto sobre o grande livro do mundo exterior, e se aplicava a ler suas páginas maravilhosas. Com seus amigos fazia numerosas excursões nas vilas e províncias vizinhas, observando com olhar penetrante todos os fenômenos, e procurando explicá-los”2.
Entretanto, nada disso prejudicava sua profunda piedade e seu interesse pelas verdades eternas.
Quando chegou o momento de decidir sobre a sua vocação, ele tinha a escolher entre o estudo do direito, que lhe abriria grandes possibilidades no mundo, e a carreira eclesiástica, que não lhe oferecia menores chances de sucesso. Mas ele considerava também a vida religiosa, na pobreza e na humildade, embora essa o impedisse de prosseguir seus estudos e o aprofundamento nas ciências.
Um dia em que, perturbado por esses pensamentos, rezava diante de uma imagem de Nossa Senhora na igreja dos dominicanos, pareceu-lhe ouvir estas palavras: “Alberto, meu filho! Deixa o mundo e entra na Ordem dos Pregadores, da qual eu obtive de meu Filho a fundação para a salvação do mundo. Tu te aplicarás corajosamente às ciências segundo as prescrições da Regra, e Deus te cumulará de uma tal sabedoria, que a Igreja toda inteira será iluminada pelos livros de tua erudição”3.
Entretanto, a oposição da família a esse projeto segurou ainda Alberto no mundo. Mas a Providência velava. Certo dia do ano 1223 apareceu para pregar na igreja dos dominicanos seu Superior Geral, o Beato Jordão de Saxe. E o fez com aquele carisma de atrair as almas que lhe era peculiar, de tal modo que Alberto, que o ouvia, apenas terminada a pregação, foi lançar-se a seus pés suplicando-lhe que o recebesse como filho.
O olhar penetrante do sucessor de São Domingos como Mestre Geral da Ordem dos Pregadores — que, apesar de não ter sido canonizado formalmente, foi sempre venerado como santo, tendo seu culto confirmado pelo Papa Leão XII em 1826 — logo percebeu o tesouro que ali se encerrava, e o recebeu de braços abertos. Alberto tinha então 30 anos de idade.
Alberto foi enviado a Bolonha, onde estava o segundo convento da Ordem, o de São Nicolau, e à sua universidade, que passava por ser o segundo centro do mundo científico de então. Lá estudou filosofia e teologia com tanto êxito, que foi enviado a Colônia, para ensinar essas matérias, com o aplauso de toda a cidade. “O que mais se admirava nele, é que juntava a essa profunda erudição, que atraía todo mundo à sua escola, uma simplicidade, uma modéstia e uma humildade prodigiosas”4.
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