Tendo falecido o Beato Jordão de Saxe no ano de 1237, Frei Alberto ficou em seu lugar até a eleição do sucessor, o que se deu no dia seguinte ao de Pentecostes de 1238, quando São Raimundo de Penaforte foi eleito.
Santo Alberto foi enviado depois para ensinar sucessivamente em várias casas de sua Ordem, especialmente em Hildesheim, Friburg, Regensburg e Strasbourg. Voltando a Colônia, teve por discípulo Tomás de Aquino, o futuro Doutor Angélico — na ocasião um jovem recém saído da adolescência, tímido e reservado, o que lhe valeu de seus colegas a alcunha de “boi mudo”. Mas o mestre, tendo descoberto a subtilidade de seu espírito, profundidade de pensamento, e sua grande e fiel memória, afirmou que um dia esse “boi mudo” mugiria tão alto, que seria ouvido em toda a Terra.
Em 1245 o Mestre Geral da Ordem enviou Santo Alberto a Paris, onde estava o Colégio Santiago, o mais importante dos dominicanos, incorporado à Universidade da Cidade Luz, que era, por sua vez, o mais afamado centro de estudos da Idade Média. Suas aulas tiveram um êxito estrondoso, e em pouco tempo as salas foram insuficientes para conter a multidão que ia ouvi-lo. A praça onde ele ensinava então em Paris conserva seu nome até hoje, se bem que de modo deturpado: “Place Maubert”, de “Maître Albert”5.
De tal maneira foi o fulgor dessa luz, que dele se dizia na Idade Média: “Mundo luxisti, quia totum scibile scisti” (Iluminaste o mundo, porque soubeste tudo o que se pode saber), e “onde quer que assente sua cátedra, parece monopolizar a todos os amantes da verdade”6. Ele foi chamado pelos seus contemporâneos de “Doutor Universal”, tal a amplidão de seus conhecimentos.
“Não contente em estabelecer as leis da investigação, Alberto esforça-se por recolher todos os frutos da experiência antiga, entesourados em Aristóteles, Avicenas e Nicolau de Damasco, maturando-os e aumentando-os com sua própria experiência”7.
No capítulo provincial da Ordem, em Worms, no ano de 1254, Frei Alberto foi eleito Provincial da província alemã. Esta abarcava também a Holanda, Flandres e Áustria. Viajando sempre a pé e mendigando o alimento e a pousada, ele visitou todos os conventos sob a sua jurisdição. Dois anos mais tarde, chamado por Alexandre IV, foi a Agnani, na Itália, onde refutou Guilherme do Santo-Amor, professor da Universidade de Paris que pregava contra as Ordens mendicantes.
Em Colônia, fundou o convento do Paraíso, para as filhas da nobreza. Enquanto isso, rezava, estudava e ensinava.
Entretanto, por mais que amasse os livros e a ciência, curvou-se ante a obediência e aceitou o bispado de Regensburg. Exerceu sua dignidade episcopal com a mesma seriedade com que levou seus estudos, aplicando-se inteiramente aos deveres de seu cargo, visitando a diocese, pregando, reformando, santificando.
Mas isso foi só um parêntese de dois anos em sua longa vida, pois à força de insistência obteve do Papa dispensa do cargo e voltou para os livros, as aulas e as ciências. Se o Papa lhe deu essa dispensa, deu-lhe, no entanto, outra tarefa bastante difícil: pregar a Cruzada na Alemanha. Com o mesmo zelo dedicou-se o Magno Alberto a essa empresa, obtendo grande sucesso, levando considerável número de senhores a receber no peito a Cruz e a partir para a Palestina.
“Nos dez anos que se seguiram, empreendeu frequentes viagens de Brenner a Antuérpia, de Colônia a Lyon; e, condescendente com o desejo dos bispos ou de seus Irmãos, pregava, consagrava altares e igrejas, conferia ordens sacras, e semeava a seu passo bênçãos, indulgências e o suave perfume de suas virtudes”8.
Santo Alberto já estava avançado em idade quando soube que alguns professores seculares da Universidade de Paris convenceram o reitor a condenar algumas proposições de Tomás de Aquino, falecido em 1274. Seu antigo mestre, apesar dos achaques da idade e da distância, acorreu de Colônia a Paris, a fim de defender a ortodoxia de seu discípulo predileto. E o fez com sucesso.
Santo Alberto amava tanto esse seu santo discípulo que a notícia de sua morte “foi um pesado golpe para ele, e declarou que ‘a Luz da Igreja’ tinha se apagado [...]. É dito que depois, cada vez que se mencionava o nome de Tomás, ele não podia conter suas lágrimas”9.
Santo Alberto Magno pode ser considerado o primeiro que separou com precisão o campo da filosofia do da teologia. A modernidade de Santo Alberto está “em seu amor à verdade, por suas ardentes aspirações de toda a alma, por sua intuição profunda da interdependência de todas as ordens do conhecimento, por sua doutrina da harmonia pré-estabelecida entre os descobrimentos da razão e a fé, entre a ciência e a revelação, entre a vontade e a graça, entre a Igreja e o Estado [...]. Seu mérito principal está em ter visto, antes que ninguém, o enorme valor que a filosofia de Aristóteles podia ter no dogma cristão. Ao apoderar-se dele para levantar sobre seus princípios fundamentais uma construção teológica, originava uma verdadeira era nas escolas de seu tempo. São Tomás aperfeiçoará sua ideia, mas ele é o iniciador; ele reúne os materiais e planeja a construção, que levantará o gênio sintético do discípulo. Sem o formidável e fecundo labor de Alberto Magno, apenas podemos conceber a Suma Teológica”10.
Um dia em que o mais de octogenário Mestre Alberto estava dando uma de suas luminosas aulas, fez-se de repente branco em sua mente. Ele sabia que era o sinal que Nossa Senhora lhe dera, de que toda a ciência lhe fora concedida por Deus para serviço do próximo, ser-lhe-ia tirada. E de que seus dias estavam contados. Viveu os últimos três anos de sua vida numa espécie de semilucidez, falecendo em Colônia em 15 de novembro de 1280. Havia seis anos que seu discípulo amado partira, para receber o prêmio demasiadamente grande que Deus destina àqueles que o servem.
Alberto Magno foi beatificado por Gregório XV em 1622 e canonizado por Pio XI em dezembro de 1931.