| MATÉRIA DE CAPA | (continuação)

nobres, como hospitais, bibliotecas, hospícios, asilos, colégios etc.

Missão na esfera temporal, como a do clero na ordem espiritual

Nesse memorável livro, Plinio Corrêa de Oliveira reproduz as brilhantes alocuções do Papa Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana7 (PNR), proferidas entre 1940 e 1958. Algumas delas esta revista já havia publicado no ano 1956 com comentários do autor, mas em Nobreza e elites tradicionais análogas ele amplia os comentários às alocuções e mostra que elas são de alcance perene e universal, não apenas para aqueles nobres romanos, mas para todas as camadas sociais; comenta, ilustra com fatos históricos e convida a classe nobiliárquica a cumprir sua missão de ser exemplo de escol para todo o corpo social.

O autor defende a tese de que a nobreza e as elites tradicionais análogas8 devem exercer, como no passado, essa grandiosa vocação, elevando todas as classes sociais. “O nobre era por excelência voltado para essa missão na esfera temporal, como ao clero incumbe sê-lo na ordem espiritual.”9

Se esse mandado fosse hoje revigorado e tanto a nobreza quanto as elites tradicionais influenciassem retamente a opinião pública, exercendo sobre ela uma pujante ação de presença através do bom exemplo próprio às pessoas de ilustre progênie, empenhando-se em aprimorar os costumes e a resistência moral, preservando a tradição como fator de progresso e defendendo a doutrina católica sobre a legitimidade das desigualdades sociais, todos viveriam numa autêntica harmonia e se eliminaria os fatores de desagregação que arruína as famílias e o mundo atual.

No cumprimento dessa missão, cairia por terra a tese igualitária, a utopia revolucionária de uma sociedade proletária e sem classes, demagogicamente pregada pelos marxistas e pelo clero progressista contra as elites tradicionais. Assim, se dissiparia a difamação, pregada por eles, de que os nobres são parasitas, vivendo como ‘sanguessugas’ e explorando as camadas mais baixas da população.

Para Plinio Corrêa de Oliveira, isso não passa de um slogan revolucionário que se repete sempre no mundo inteiro para procurar implicar a opinião pública contra a beleza da ordem hierárquica instituída pelo Divino Criador.

A bênção de Deus protege todos os berços, mas não os nivelam

O mito de que a igualdade social é um bem supremo é cabalmente desmentido pelo Prof. Plinio:

“Outro fator de hostilidade contra as elites tradicionais está no preconceito revolucionário de que qualquer desigualdade de berço é contrária à justiça. Admite-se habitualmente que um homem possa destacar-se pelo seu mérito pessoal. Não se admite, porém, que o fato de proceder de uma estirpe ilustre seja para ele um título especial de honra e de influência.”10

A este respeito, ele cita precioso ensinamento do inesquecível Pontífice:

“As desigualdades sociais, inclusive as ligadas ao nascimento, são inevitáveis. A natureza benigna e a bênção de Deus à Humanidade iluminam e protegem os berços, osculam-nos, porém não os nivelam. Olhai para as sociedades mais inexoravelmente niveladas. Nenhum artifício jamais logrou ser tão eficaz a ponto de fazer com que o filho de um grande chefe, de um grande condutor de multidões, permanecesse em tudo no mesmo estado de um obscuro cidadão perdido no povo.

“Mas se essas inelutáveis desigualdades podem parecer, do ponto de vista pagão, uma inflexível consequência do conflito entre forças sociais e da supremacia adquirida por alguns sobre outros segundo leis cegas que se supõe regerem a atividade humana, de maneira a consumar o triunfo de alguns e o sacrifício de outros; pelo contrário, uma mente instruída e educada de modo

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