Agrande imprensa, bem como numerosos sites de informação, já divulgaram amplamente o falecimento em São Paulo, aos 99 anos, de Adolpho Lindenberg (3-6-1924 – 2-5-2024).
Ao ensejo desse infausto acontecimento cabe-nos, como companheiros de ideal em Catolicismo, o indeclinável imperativo de gratidão de tentar distinguir algumas das cintilantes facetas da marcante personalidade do ilustre e pranteado falecido.
O Dr. Adolpho pertenceu com ativo protagonismo ao grupo que se formou, sob o impulso e orientação de Plinio Corrêa de Oliveira, em torno do semanário “Legionário”. Em seu livro Meu Primo Plinio Corrêa de Oliveira (Artpress, São Paulo, junho de 2016), ele assim apresenta esse tempo de militância nos meios católicos:
“Alguns congregados marianos liderados por Dr. Plinio assumiram, em meados da década de 30, a redação do ‘Legionário’, órgão oficioso da Arquidiocese de São Paulo. Ao longo das reuniões de redação não só foi se formando uma amizade entre eles, como todos sentiram um chamado muito forte da Providência para a consecução de ideais que ainda não tinham sido conscientizados. Esse primeiro grupo de amigos e companheiros de trabalho de Dr. Plinio, por nós denominados ‘o Grupo’, foi a célula mater de todo nosso movimento.”
Tendo esse grupo sido alijado da direção do “Legionário” pelo tufão comuno-progressista que começava a soprar, Dr. Adolpho esteve entre os fundadores, em 1951, do mensário Catolicismo, do qual era um dos mais destacados colaboradores. Esse mensário tornou-se um autêntico porta-voz do novo movimento católico de raiz contra-revolucionária — o “Grupo de Catolicismo”.
Cerca de uma década depois, quando Plinio Corrêa de Oliveira decidiu fundar a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), Adolpho Lindenberg figurou entre os seus fundadores eminentes. Mais tarde, em 2006, seu papel foi relevante na fundação do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, ativa e benemérita instituição que presidiu por vários anos e da qual, após sua renúncia por razão de idade, passou a ser Presidente honorário.
Reverentes, saudosos e agradecidos, a Diretoria e os colaboradores de Catolicismo se inclinam diante de sua memória. E, ao mesmo tempo, pedem a Deus que o receba em Sua glória, para que da eternidade Dr. Adolpho continue a inspirar e proteger toda a sua família — a esposa Da. Thereza Christina de Oliveira Lindenberg (in memoriam), a atual esposa Da. Analuísa Elena de Arruda Botelho Lindenberg, os filhos Teresa (in memoriam), Adolpho, Maria e Mônica, netos e bisnetos.
As raízes e o solo determinam a vida de uma árvore. O solo em que se formou e nutriu a personalidade de Dr. Adolpho explica largamente a sua trajetória. Nasceu em plena República Velha, numa metrópole de hábitos conservadores (700 mil habitantes na época, hoje a Grande São Paulo abriga mais de 22 milhões), com ecos do Império ainda vivos. Pujante, impulsionada por imigração valorosa, seus rumos ainda eram dados em boa medida por suas antigas famílias cujo modelo inspirador de conduta, elegância e formas de viver as fazia mirar sobretudo para as sociedades cultas das grandes nações europeias, e não para os Estados Unidos. Ali Adolpho Lindenberg fincou suas raízes.
Constituíam um meio educado, seguro de si, que julgava viver em época estável, cultivando no geral hábitos do Brasil antigo. As relações familiares e sociais, despretensiosas no dia a dia, apresentavam uma nota de suavidade acolhedora e difusiva, regulada por atavismo sensato.
Quando um ambiente é genuinamente bom, ele se difunde. “Bonum est diffusivum sui esse” — o bem de si é difusivo, ensinou Santo Tomas de Aquino. Dr. Adolpho inalou esse ambiente como o ar dos pulmões, assimilou-o, dele se nutriu, foi o oxigênio de sua formação.
Focalizando melhor, era ele um menino inteligente, observador, intensamente assimilativo, cuja modulagem feliz se deu em particular no ambiente materno da família Ribeiro dos Santos (Da. Eponina, em família Da. Iaiá, foi sua mãe); era filha do Dr. Antônio, advogado, e Da. Gabriela, casal conhecido e relacionado na sociedade paulistana de então — repita-se, marcada por costumes cristãos enraizados na vida rural do Brasil agrícola.
Foi neste clima de autêntico arejamento social que Adolpho Lindenberg se formou, moral e temperamentalmente. Foi ali que o filho de Da. Iaiá amadureceu, fez-se homem de enorme expressão pessoal, conduta irrepreensível, cordial com todos, refratário a extravagâncias e petulâncias; em uma palavra, fidalgo acabado em palavras e gestos — precipuamente, convém insistir —, difusivo e acolhedor em seus relacionamentos.
Outra influência que o marcou fundo foi a de seu pai, o Prof. Dr. Adolpho Carlos Lindenberg (1872-1944), notável médico dermatologista, formado em 1896
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