P.46-47 | REGISTRO HISTÓRICO | (continuação)

pormenor, mas o mundo oficial desprezou e criticou sua obra, pois nela o artista apresentava brilhantemente a liquidação do inimigo anticristão que hoje volta a invadir a Europa e para o qual as esquerdas e o progressismo escancaram as portas.

Embora não se saiba ao certo o ano exato do milagroso triunfo, há uma relativa certeza de que ele aconteceu em 28 de maio, pois segundo fontes árabes, nesse dia do ano 722 morreu Munuza, governador islâmico das Astúrias, que teria participado da batalha.

Há nisto concordância com algumas fontes cristãs. A partir dessa data a presença islâmica desapareceu no norte da Espanha. O islã custaria a se reorganizar e invadir a França, tendo sido necessários vários séculos para o islamismo ser banido da península ibérica.

O evento tem surpreendentes analogias com a situação dos autênticos católicos em nossa época: minorias genuinamente católicas resistem a um adversário revolucionário imensamente superior em militantes, recursos materiais e auxílios de bispos engajados na demolição da Igreja e da civilização cristã.

O antigo reino visigodo estava exausto após uma guerra civil religiosa pela coroa, na qual o príncipe ariano Witiza foi derrotado pelo príncipe católico Dom Rodrigo. Em 718, nas encostas do Monte Corona, atual província de León, o líder católico Dom Pelayo foi eleito por aclamação príncipe da Espanha cristã.

Os heréticos derrotados pediram o auxílio de Musa ben Nusayr, governador muçulmano da Tunísia. Este viu a oportunidade de invadir o território cristão e surrupiar suas riquezas. Enviou para isso um exército de 11 mil bérberes sob o comando de Tariq, um de seus melhores generais.

Os muçulmanos fizeram uma rápida conquista da península com o apoio de arianos e judeus, como registra Manuel P. Villatoro, autor premiado de vários livros históricos, no jornal ABC2. Só ficaram resistindo Dom Pelayo e um punhado de heróis asturianos, visigodos e hispano-romanos, que se refugiaram nas montanhas do norte. Como os invasores e seus cúmplices não conseguiram extinguir esse foco de resistência, pediram então um grande exército islâmico do sul para acabar com eles.

Excogitaram um artifício capcioso que lhes poupasse a luta e se serviram para isso de Dom Opas, arcebispo de Toledo — de Sevilha, segundo outros —, quem deveria convencer os resistentes que era um absurdo lutar contra uma potência como o Califado de Damasco.

Dom Opas agiu “ecumenicamente”, da mesma maneira como agem em nossos dias os inimigos da Igreja, que aceitam o clero que aderiu à revolução conciliar e hoje cede às forças políticas de esquerda ou putinistas.

Dom Pelayo foi abençoado pela Santíssima Virgem na própria gruta de Covadonga — escreveu Luis Carlón Sjovall, presidente da Associação Cultural Fernando III, o Santo, de Palencia. Ele levantou a Santa Cruz, renunciou à proposta de baixar os braços diante da força islâmica que avançava e de se omitir na resistência, acreditando nos embustes do Califado de Damasco transmitidos pelo arcebispo traidor.

Conta-se que o príncipe-herói encerrou o diálogo atirando uma pedra na cabeça do pérfido bispo, que teve morte imediata.

A Igreja Católica na Espanha partilhou durante séculos a tradição oral segundo a qual Anjos e Arcanjos se somaram às hostes de Dom Pelayo e atiraram pedras, lanças e flechas das alturas de Covadonga, causando terror e morte entre os seguidores de Maomé.

Isso criou uma tal desordem entre os filhos da iniquidade que os católicos puderam descer para os vales adjacentes, perseguindo os invasores durante dias, até serem exterminados ou expulsos. A vitória de Nossa Senhora foi total, e ali mesmo, sob a Santa Gruta e com a Santa Cruz da Vitória na mão direita, Dom Pelayo foi proclamado Rei da Espanha e iniciou a sua Reconquista.

A descrição do magno entrechoque de armas figura no relato historicamente mais próximo da Batalha de Covadonga, conhecido como Crônica de Alfonso III3 (852 – 910), rei de Astúrias, região da batalha, que apresenta duas respeitadas versões. Uma delas conta que Munuza, prefeito das Astúrias e companheiro de Taric, chefe dos invasores muçulmanos, tinha ordens de acabar com a resistência, prendendo Dom Pelayo e conduzindo-o acorrentado a Córdoba.

Percebendo Dom Pelayo que não podia oferecer resistência proporcionada, levou consigo até a montanha Aseuva todos os que podia. Ali refugiou-se numa caverna, que sabia segura e da qual flui o grande rio Deva. Depois convocou todos os habitantes das Astúrias, que se reuniram e o elegeram príncipe.

Enfurecido, Munuza enviou uma hoste incontável chefiada por um tal Alkama, fazendo-o acompanhar pelo arcebispo Dom Opas. Segundo a Crônica de Alfonso III4, Alkama entrou nas Astúrias com um exército de 187 mil soldados — número não confirmado, mas sem dúvida muito maior que o dos resistentes católicos.

Alkama armou inúmeras tendas ao pé da caverna enquanto o arcebispo subia até a gruta de Nossa Senhora para assim falar com Dom Pelayo, segundo a referida Crônica:

— “Pelayo, Pelayo, onde estás?”

Página seguinte