— “Aqui estou.”
E o desleal arcebispo propôs a traição com palavras melosas:
— “Eu julgo, irmão e filho, que não vos é oculto como toda a Espanha foi unida recentemente sob o governo dos godos e brilhou mais do que os outros países por sua doutrina e ciência. E que, no entanto, quando todo o exército dos godos foi reunido, não aguentou o ímpeto dos ismaelitas, você será capaz de se defender no topo desta montanha? Acho difícil. Escuta o meu conselho: volta do teu acordo, gozarás de muitos bens e gozarás da amizade dos caldeus.”
Dom Pelayo respondeu:
— “Não leu nas Sagradas Escrituras que a Igreja do Senhor se tornará como o grão de mostarda e crescerá novamente pela misericórdia de Deus?”
O bispo treplicou:
— “Verdadeiramente, assim está escrito”.
Então Dom Pelayo disse:
— “Cristo é a nossa esperança; que por este pequeno monte vê a Espanha ser salva. Confio que a promessa do Senhor se cumprirá em nós, porque David disse: ‘Castigarei com a minha vara as suas iniquidades e com açoites os seus pecados, mas eles não carecerão da minha misericórdia’”.
“Assim, confiando na misericórdia de Jesus Cristo, desprezo aquela multidão e não temo o combate com que nos ameaçais. Temos Nosso Senhor Jesus Cristo como advogado junto ao Pai, que pode nos livrar desses pagãos.”
O bispo, então, voltando-se para o exército infiel, disse:
— “Aproximem-se e lutem. Você já ouviu como ele me respondeu; pelo que adivinho a sua intenção, você não terá paz com ele, exceto pela vingança da espada.”
A Crônica de Alfonso III assim descreve o desfecho da batalha:
Alkama então ordenou o combate e os soldados pegaram em armas. Mas imediatamente a magnificência do Senhor foi mostrada: as pedras que saíram das catapultas e atingiram a casa da Santa Virgem Maria, que estava dentro da gruta, voltaram-se contra aqueles que as atiraram e mataram os infiéis.
E como Deus não precisa de lanças, mas dá a palma da vitória a quem quer, os cristãos saíram da caverna para lutar com os ismaelitas; estes fugiram, seu exército foi dividido em dois, e ali mesmo Alkama se dirigiu para um desfiladeiro, no local foi massacrado juntamente com os seus. 124 mil infiéis morreram no mesmo lugar, e os 63 mil restantes subiram ao topo do Monte Aseuva e, pelo lugar chamado Amuesa, desceram para La Liébana.
Mas nem mesmo esses escaparam da vingança do Senhor. Quando estavam atravessando o topo da montanha, que está na margem do rio Deva, próximo à terra de Cosgaya, o julgamento do Senhor foi cumprido:
A montanha, saindo de seus alicerces, lançou os 63 mil infiéis no rio e os esmagou. Até hoje, quando o rio ultrapassa os limites de sua calha, dá muitos sinais disso.5
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira resumiu num pensamento célebre a imensa lição deixada para a História pela façanha de Covadonga:
“Quando os homens resolvem cooperar com a graça de Deus, são as maravilhas da História que assim se operam: é a conversão do Império Romano, é a formação da Idade Média, é a reconquista da Espanha a partir de Covadonga, são todos esses acontecimentos que se dão como fruto das grandes ressurreições de alma de que os povos são também suscetíveis.
“Ressurreições invencíveis, porque não há o que derrote um povo virtuoso e que verdadeiramente ame a Deus”.6
É o que auspiciamos para o catolicismo hoje em crise.