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| PALAVRA DO SACERDOTE | (continuação)

sões coletivas ou mera presença do Espírito do Ressuscitado. A fé na Ressurreição do seu Corpo sagrado teria resultado de uma evolução da consciência cristã como um corretivo para o escândalo da Cruz. Em outras palavras, os modernistas não acreditavam na realidade do fato de São Tomé ter colocado sua mão nas chagas de Nosso Senhor.

O decreto Lamentabili, publicado pelo Santo Ofício após a encíclica de São Pio X condenando o Modernismo, rejeitou como herética essa visão ao condenar a seguinte trigésima sétima proposição: “A fé na Ressurreição de Cristo apontava no início não tanto para o fato da Ressurreição, mas para a vida imortal de Cristo com Deus”.

A consequência lógica da negação da Ressurreição corpórea de Nosso Senhor Jesus Cristo é a negação da ressurreição dos corpos de toda a humanidade no fim do mundo, prévia ao Juízo Final. Logo após a morte, segundo os modernistas, os homens passariam a gozar de uma vida imortal plena com Deus, sem precisar da ressurreição de seus corpos.

A versão pseudo-científica e atualizada dessa heresia foi sustentada pelo jesuíta francês Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955), para quem a matéria e o espírito estão intrinsecamente conectados e evoluem juntos para uma forma de existência superior, consistente num estado final de unificação em Cristo.

Esse ponto culminante seria o “Ponto Ômega”, onde Cristo é o centro e o fim último de toda a criação. Assim, os corpos ressuscitados não seriam corpos físicos no sentido comum, mas corpos plenamente espiritualizados, unidos a Cristo em um estado final de comunhão de todo o Universo.

Teria sido essa visão “teilhardiana” que levou os sacramentinos da igreja de nosso missivista a qualificar de “ressurreição” o dia natalis de seu santo fundador? Não temos meios de saber e preferimos pensar que se trata de ignorância, tão difundida hoje na Igreja pela deterioração dos estudos teológicos nos seminários, em benefício da “pastoral”.

Aliás, tratar-se-ia de uma ignorância elementar, posto que, como bem disse nosso missivista, nos casos de ressurreição relatados na Bíblia (três no Antigo Testamento, por Elias; três por Jesus antes da Ressurreição; um por São Pedro e outro por São Paulo, relatados nos Atos dos Apóstolos), os beneficiados voltaram a morrer.

Quanto aos justos que ressuscitaram após a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo e apareceram a muitas pessoas na Cidade Santa depois da Ressurreição (Mt 27, 52-53), há duas escolas teológicas. Alguns Padres da Igreja e teólogos acreditam que eles receberam corpos gloriosos e ascenderam aos Céus após Jesus, simbolizando os primeiros frutos da Ressurreição. Outros acreditam que voltaram a morrer, como Lázaro ou a filha de Jairo. Em qualquer caso, Nosso Senhor foi “o primogênito dentre os mortos” (Cor l1,18) e “as primícias dos que dormem” (1 Cor 15,20) e o único a ressuscitar pelo seu próprio poder.

“Esse corpo será transformado em corpo glorioso”

Seja qual for a razão do erro do painel, convém despoluir o espírito revendo rapidamente as razões pelas quais a Igreja sustenta que, no fim do mundo, haverá a “ressurreição da carne”, como professamos no Credo.

Essa verdade de fé é proclamada pelo Catecismo da Igreja Católica nos seguintes termos:

“Nós cremos e esperamos firmemente que, tal como Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos e vive para sempre, assim também os justos, depois da morte, viverão para sempre com Cristo ressuscitado, e que Ele os ressuscitará no último dia” (Jo 6, 39-40) (§989). “Ressurreição da carne” significa que, depois da morte, não haverá somente a vida da alma imortal, mas também os nossos “corpos mortais (Rom 8, 11) retomarão a vida” (§ 990).

E cita São Paulo, que exclama: “Como é que alguns dentre vós dizem que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. Mas se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a vossa fé. [...] Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram” (1 Cor 15, 12-14, 20) (§991).

Depois, o Catecismo explica sucintamente o que é ressuscitar:

“Na morte, separação da alma e do corpo, o corpo do homem cai na corrupção, enquanto a sua alma vai ao encontro de Deus, embora ficando à espera de se reunir ao seu corpo glorificado. Deus, na sua onipotência, restituirá definitivamente a vida incorruptível aos nossos corpos, unindo-os às nossas almas pela virtude da ressurreição de Jesus” (§ 997). E ainda explica como isso se dará: “Como? Cristo ressuscitou com o seu próprio corpo: ‘Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo’ (Lc 24, 39); mas não regressou a uma vida terrena. De igual modo, n’Ele ‘todos ressuscitarão com o seu próprio corpo, com o corpo que agora têm’ (IV Concílio de Trento, c. 1. De fide catholica: DS 801), mas esse corpo será ‘transformado em corpo glorioso’ (Fl 3, 21) em ‘corpo espiritual’ (1 Cor 15, 44)”. (§ 999). Obviamente, “este ‘como’ ultrapassa a nossa imaginação e o nosso entendimento; só na fé se torna acessível” (§1000).

Consumação da felicidade exige ressurreição do corpo

De fato, a ressurreição geral dos corpos no fim do mundo dificilmente pode ser provada pela razão, embora possamos mostrar sua congruência com a nossa fé. Três razões concorrem para isso:

= Como a alma tem uma propensão natural para o corpo, sua separação perpétua do corpo pareceria antinatural.

= Como o corpo é companheiro das virtudes da alma e parceiro dos seus crimes, a justiça de Deus parece exigir que o corpo compartilhe da recompensa ou do castigo eterno da alma.

= Como a alma separada do corpo é naturalmente imperfeita, a consumação de sua felicidade, repleta de todo bem, parece exigir a ressurreição do corpo.

“Semeia-se fraco, ressuscitará robusto”

Para concluir esta parte, convém relembrar a beleza da doutrina da Igreja sobre a condição dos corpos gloriosos após a ressurreição.

Em primeiro lugar, Ela ensina que todos ressuscitarão da morte em seus próprios corpos, em seus corpos inteiros e em corpos imortais; mas que os bons ressuscitarão para a ressurreição da vida, enquanto os ímpios ressuscitarão para a ressurreição do juízo. Seria destruir a própria ideia de ressurreição se os mortos ressuscitassem em corpos que não fossem os seus próprios.

Além disso, nossos corpos sairão perfeitamente restaurados (sem doenças nem deficiências), porque a ressurreição deve ser contada entre as principais obras de Deus; portanto, assim como na criação todas as coisas saem perfeitas das mãos de Deus, na ressurreição todas as coisas devem ser perfeitamente restauradas pela mesma mão onipotente. Essa admirável restauração da natureza é o resultado do glorioso triunfo de Cristo sobre a morte, conforme descrito em vários textos das Sagradas Escrituras (Is 25,8; Os 13,14; 1 Cor 15,26; Ap 2,4).

Logo, três características serão comuns aos corpos ressuscitados dos

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