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| INTERNACIONAL-1 | (continuação)

frase de efeito é repetida em todos os lugares enquanto as autoridades tentam encontrar uma maneira de encerrar tudo rapidamente.

Um inimigo poderoso

Os novos teóricos da guerra justa afirmam que a Ucrânia enfrenta um inimigo enorme, conta com poucos aliados e não tem absolutamente nenhuma chance de vencer a guerra imposta a ela pela invasão russa de fevereiro de 2022. Assim, eles afirmam que a teoria da guerra justa exige que a Ucrânia se renda para salvar seu povo do sofrimento contínuo. "É imoral desencadear a violência da guerra quando os objetivos não podem ser alcançados, por mais justos que sejam", escreve, por exemplo, R.R. Reno em First Things.

Outra declaração ecoa os sentimentos de Reno: "Os russos têm uma vantagem numérica enorme em tropas e armas na Ucrânia, e essa vantagem persistirá independentemente de novos pacotes de ajuda ocidentais", tuíta o vice-presidente J.D. Vance no X.

A Ucrânia não está desencadeando a violência da guerra. Em vez disso, está recebendo essa violência. Além disso, seu objetivo é se defender contra uma ameaça vital de um adversário que afirma que ela não tem direito à soberania e, mais importante, está empenhado em suprimir a Igreja Católica no país. Caso sua defesa contra o agressor fracasse, tudo aponta para a aniquilação da Fé na Ucrânia e talvez da nação.

Teoria falha

O raciocínio que favorece a submissão à Rússia é falho, não apenas em sua aplicação concreta, mas também na teoria. Abstraindo da guerra atual, uma política de ceder à dura realidade da força massiva cria uma teoria nova e inaceitável. Ela envia uma mensagem que transforma a teoria católica da guerra justa em uma teoria de rendição justificada.

Levada às suas últimas consequências, qualquer potência mundial agressiva poderia exigir termos de submissão com base na suposta "impossibilidade" de resistência. Em tal mundo, o poder bruto esmagador passará a governar. O poder é o direito. A guerra se torna um cálculo matemático, não moral. Enfrentar uma agressão é um exercício de futilidade, não de justiça. O mundo pode ser dividido em esferas submissas de influência.

A vulnerabilidade das nações

Os partidários dessa nova teoria afirmam que ela corresponde a fatos concretos, que podem não ser bonitos, mas refletem duras realidades.

As lições da História provam o contrário.

Nações menores sempre foram vulneráveis à força bruta de poderes maiores. Assim como os indivíduos não podem sobreviver sem a sociedade, as nações também precisam de outras nações. Desta maneira, essas nações menores sempre recorreram a outras nações por meio de tratados e acordos que contrabalançam as ameaças de força massiva.

Quando possível, as nações mais poderosas têm a obrigação de solidariedade de ajudar aquelas que enfrentam injustiças. Essa ajuda pode assumir a forma de apoio humanitário, diplomático ou militar. Nem sempre precisa envolver forças no local.

Citando o ensinamento católico, o Papa Pio XII declarou: "Por solidariedade, todas as nações são obrigadas a participar dessa defesa e não devem abandonar a nação atacada. A garantia de que esse dever coletivo não será negligenciado serve como um impedimento ao agressor e, portanto, ajuda a prevenir a guerra ou, pelo menos, no pior cenário, a encurtar os sofrimentos". [Pio XII, "Radiomensagem de Natal" (24 de dezembro de 1948), https://www.vatican.va/content/pius-xii/it/speeches/1948/documents/hf_p-xii_spe_19481224_un-tempo.html. (Tradução nossa.)]

Superando a Rússia

Assim, uma "chance razoável de sucesso" contra a Rússia se torna possível. De fato, povos menores derrotaram a Rússia com a ajuda de nações amigas.

Uma resistência afegã desorganizada, apoiada por armas americanas, por exemplo, forçou a retirada do exército soviético ocupante. O povo lituano, contando apenas com o apoio moral ocidental, conseguiu garantir sua independência da União Soviética em 1991.

A vontade de lutar

A chave para vencer guerras não é uma vantagem numérica massiva. Consiste em qual lado tem a maior vontade de lutar e defender seu povo. Muitas vezes depende de súplicas implorando a ajuda de Deus.

De fato, a maioria das batalhas famosas da História são lembradas porque os vencedores ousaram enfrentar a "impossibilidade" de resistência — Termópilas, Covadonga, Lepanto, Viena, Belgrado, e inúmeras outras. Grandes potências sofreram grandes reveses porque foram confrontadas por uma vontade superior de lutar.

A teoria da guerra justa real impõe que essas considerações sejam ponderadas em vez de assumir uma política de rendição justificada.

A Ucrânia supera probabilidades impossíveis

Voltando à Ucrânia, os últimos três anos demonstraram sua vontade de lutar contra probabilidades "impossíveis". A nação alcançou resultados excepcionais. Ela infligiu, e continua a infligir, enormes baixas ao inimigo.

Durante todo esse tempo, os ucranianos católicos apelaram a Nossa Senhora de Zarvanytsia e a São Miguel Arcanjo para ajudá-los. Eles sabem como a Igreja foi golpeada na última vez que a Rússia controlou sua nação e que a mesma coisa está acontecendo agora com as igrejas católicas nas partes ocupadas da Ucrânia.

A teoria da guerra justa não adulterada e o princípio da solidariedade são claros. Eles exigem que o Ocidente continue apoiando a Ucrânia em sua corajosa resistência à injusta guerra de conquista da Rússia.


* John Horvat é vice-presidente da TFP norte-americana, colaborador da revista Catolicismo e autor do best-seller Return to Order (Retorno à Ordem), no qual mostra como se pode escapar das garras da sociedade baseada apenas no materialismo produtivista e na intemperança frenética, oposta aos altos ideais medievais.

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