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Tradicionalismo ganha vigor nos EUA

"Conheço os objetivos e os ideais que os Srs. defendem. E é grande honra defender tais objetivos. Conheço o trabalho que os Srs. fizeram no passado e o papel que desempenharam na história recente de seu país — e, creiam-me, nós, nos Estados Unidos, apreciamos esse papel".

Com essas palavras referentes à Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade -TFP, o conselheiro da Comissão de Relações Exteriores do Senado norte-americano, Sr. James P. Lucier, abriu sua conferência para o público que lotava o amplo auditório da Casa de Portugal, em São Paulo, onde falou no dia l.° de junho último sobre: "O significado de direita e esquerda na política do mundo ocidental". Na mesma sessão, presidida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, presidente do Conselho Nacional da TFP, usou da palavra inicialmente o Sr. L. Francis Bouchey, vice-presidente executivo do Conselho de Segurança Interamericana. Ambos vieram a São Paulo a convite da TFP, conforme noticiamos na primeira página.

"O senador Helms já visitou o Brasil e vários outros países da América Latina, estando ele altamente interessado no trabalho antimarxista e anti-socialista que os Srs. têm realizado", assegura o Sr. Lucier. E acrescenta: "Não somente ele. No curso dos últimos oito anos, um bom número de novos senadores compartilham esses objetivos". Segundo o conferencista, outros conselheiros do Senado norte-americano de seu nível compreendem as metas pelas quais atua a TFP.

Tradicionalistas X racionalistas

Com uma rápida análise das modificações introduzidas na política exterior norte-americana pela administração Reagan, o Sr. James Lucier salienta no início de sua exposição o papel do sentimento moral e religioso nas atitudes de uma nação. E registra a política contraditória dos Estados Unidos, que aparentemente adulam países de esquerda, como a Rússia, China, Cuba e nações do Terceiro Mundo, enquanto repreendem duramente e impõem sanções a outros países como Argentina; Brasil e Chile.

"Não são os esquerdistas os inimigos acirrados dos Estados Unidos? Trata-se de vil covardia por parte dos líderes dos Estados Unidos ou é a política americana desenvolvida por traidores ocultos, como foi Kim Philby, da Inglaterra?" - indaga o conferencista.

A partir dessa questão e com vistas a encontrar elementos para a resposta, o Sr. James Lucier mostra que a oposição direita—esquerda funda-se em pressupostos falsos. Na realidade essa oposição deveria se estabelecer entre tradicionalistas e racionalistas. Um lado é tradicionalista "porque resume e procura preservar a transmissão autêntica de nossa herança cultural em todos os seus aspectos transcendentais e históricos". O outro lado "deve ser chamado de racionalista devido ao movimento do século XVIII, que nega as nossas origens transcendentais e coloca o homem e a razão humana como a única regra de um universo puramente material".

"O ramo racionalista — acrescenta — é um crescimento canceroso, que procura destruir o corpo no qual se abriga, enquanto ele se expande rapidamente, de modo exuberante".

A partir dessa concepção, que estabelece a divisão entre tradicionalistas, defensores dos princípios que deram origem à civilização cristã ocidental, de um lado, e racionalistas, imbuídos dos princípios que levaram à Revolução Francesa e ao marxismo, de outro, o conselheiro da Comissão de Relações Exteriores do Senado norte-americano mostra que "direita e esquerda são vocábulos políticos, mas que descrevem a política do racionalismo". E exemplifica: "O termo capitalismo foi inventado, ou, pelo menos, definido por Marx. Os capitalistas do século XIX que Marx denunciou não eram tradicionalistas. Eram revolucionários que promoviam a Revolução Industrial". E afirma que esses capitalistas não eram diferentes de Marx quanto a uma interpretação materialista da História.

"Mesmo hoje em dia, — prossegue o Sr. James Lucier — muitos representantes do capitalismo ocidental são essencialmente racionalistas em seu pensar e em seu agir. Eles têm mais pontos em comum com capitalistas de Estado como Brejnev ou Deng Ziao Ping do que com os operários de suas próprias indústrias ou com seus vizinhos mais próximos. Somos testemunhas do afã com que eles correm a fornecer aos russos e aos chineses tanto a tecnologia de que estes necessitam para suas fábricas, como a corda com a qual os comunistas os enforcarão".

Liberais e conservadores

Mais adiante, o conferencista analisa a luta direita—esquerda nos Estados Unidos, onde o modo pelo qual se empregam os vocábulos é um pouco diferente de outros países. Em lugar de direitistas e esquerdistas, lá se fala em conservadores e liberais. Liberal pode ser qualquer pessoa, inclusive um marxista. Um conservador também pode ser qualquer pessoa, mesmo um capitalista amoral, passando por várias gamas dos que defendem os pontos de vista religiosos e éticos tradicionais.

"Entretanto, liberal, nos Estados Unidos, é uma palavra que não soa bem, exceto, é claro, para os próprios liberais intransigentes. Conservador é uma palavra que soa bem para a maioria dos norte-americanos, exceto para os liberais que controlam os termos do debate político", esclarece o Sr. Lucier.

Popularidade do conservadorismo

A seguir, o conferencista mostra como os conservadores são em geral tratados com hostilidade, bem ou mal disfarçada, por parte da imprensa, a qual, quando não é abertamente esquerdista, procura promover uma terceira categoria: a dos moderados.

No entanto, pesquisas de opinião apresentadas pelo Sr. Lucier comprovam que forte parcela dos eleitores prefere auto intitular-se conservadores. "Pesquisa da Gallup, realizada em setembro. de 1980, mostrou que 19% eram liberais, 49% centristas e 31% conservadores. O Centro Nacional de Opinião Pública fez outra pesquisa que revelou serem liberais 26%, moderados 41% e conservadores 34%. A revista "Time" e a companhia de pesquisas Yankelovich realizaram outro teste, em fins de agosto de 1980, que mostrou serem os liberais 13%, os moderados 41% e os conservadores a maioria com 44%.

Lucier acredita que em outros países desenvolvidos a situação seja semelhante. "Encontra-se em cada lugar um pequeno grupo de pessoas educadas na tendência racionalista e que acabam controlando o debate político. E de outro lado, encontra-se também uma vasta maioria de pessoas ocupadas com a sua existência de cada dia, com suas preocupações e alegrias, e que não têm tempo para pensar em ideologia. Quando a revolução começa, é sempre uma batalha entre a ala esquerda e a ala direita do eixo racionalista, deixando a maioria das pessoas, que sustenta valores tradicionais, sofrer as consequências. Não é por coincidência que as revoluções são sempre fermentadas nas universidades pelos filhos de executivos da alta classe média e de homens de negócios, enquanto o homem comum tem que ser enganado através do terror para que apoie a revolução".

"O povo se levantaria aos milhões"

"Nos Estados Unidos, — continua o conferencista — quase não existem revolucionários a não ser na intelligentsia. Os racionalistas de esquerda não têm nenhuma esperança de impor um governo esquerdista, porque o povo se levantaria aos milhões a fim de pô-los fora. E foi exatamente isso que aconteceu em novembro de 1980, nas eleições presidenciais que derrotaram o presidente Carter, porque ele levou longe demais o seu racionalismo esquerdista".

Depois de aduzir outros exemplos da impopularidade do esquerdismo, de um lado e da inautenticidade do debate direita—esquerda, de outro, o Sr. James Lucier assinala que essa dialética na realidade é irrelevante. O fato novo é o despertar de uma política anti-racionalista, que abala os pressupostos dessa dialética. Citando o dissidente russo Soljenitsin, o conferencista conclui apontando os elementos essenciais dessa política anti-racionalista, segundo a qual é preciso abandonar o caminho do culto ao homem e de suas necessidades materiais, e levar em conta a herança de nossa civilização, atribuindo um sentido superior à vida.

Novo realismo norte-americano

O modo de encarar o poderio soviético constitui o traço mais evidente do novo realismo norte-americano, que surge em oposição ao "romantismo revolucionário" do governo Carter — salientou em sua conferência o Sr. Francis Bouchey. Assinalou ele que a política de détente ou distensão "transformou-se mais num exercício de autoengano dos políticos ocidentais do que em destreza de diplomatas sofisticados. E o resultado concreto foi um substancial crescimento do poderio militar russo".

"Em termos de custos para nossos povos é certamente mais inteligente e mais econômico evitar que o inimigo fabrique mais armas do que ajudá-lo nessa tarefa, obrigando-nos, em consequência, a gastar ainda mais para atingir o nível que ele alcançou com o nosso auxílio", ironizou o conferencista, referindo-se à política norte-americana em face da Rússia e outros países comunistas.

Acrescentou o vice-presidente executivo do Conselho de Segurança Interamericana: "Essa vantagem que a Rússia alcançou em vários campos é evidentemente reversível. Mas a situação não pode ser revertida em um dia, um ano, ou mesmo dois anos. E por isso que os próximos cinco ou seis anos representam o que os analistas definiram como uma janela de oportunidades para o Kremlin".

O conferencista foi aplaudido ao observar que "cabe aos Estados Unidos e aos demais países não comunistas fechar essa janela de oportunidades". Isso "requer algo mais do que aumentar os gastos com armamentos", prosseguiu o Sr. Bouchey. "Significa também que os homens de negócios e industriais do mundo livre precisam frear e impedir o fornecimento [aos comunistas] da alta tecnologia que não possuem e necessitam obter de nós para manter sua máquina de guerra".

Quadro de lideranças

O Sr. Francis Bouchey explicou a seguir que o novo realismo não se limita à questão de armamentos ou do expansionismo soviético. Ilustrando com exemplos concretos, mostrou como ele abrange outros campos, manifestando-se na oposição aos excessos do sistema previdenciário, que se tem revelado contraproducente tanto do ponto de vista social como econômico. Por outro lado, ao mesmo tempo que se notam no país sinais de abandono do permissivismo e da autoindulgência, há uma tendência no sentido de dar maior ênfase à moralidade tradicional, ao princípio de autoridade e à autodisciplina.

O vice-presidente executivo do Conselho de Segurança Interamericana explicou então as origens do movimento de opinião pública que concorreu decisivamente para levar à vitória o candidato Reagan, nas últimas eleições presidenciais. Esse movimento começou há pelo menos 30 anos, esclareceu o Sr. Bouchey, como resultado de uma lenta aglutinação e formação de intelectuais que se recusavam a pautar-se pelas ideias relativistas e socialistas predominantes nas universidades. Nasceu então o Instituto de Estudos Interuniversitários (ISI), que, passo a passo, foi criando condições para a formação de novos líderes em duas gerações. Surgiram a partir daí novos organismos, entre eles o Conselho de Segurança Interamericana, e, por ocasião da campanha eleitoral de 1980, as forças conservadoras ou tradicionalistas podiam contar com um quadro de lideranças capaz de influir nos acontecimentos.

México: objetivo russo na América Central

Respondendo a várias perguntas do auditório, o conferencista falou ainda sobre o papel da grande imprensa dos Estados Unidos, identificada, como a de todo o mundo, com a contracultura. A respeito da Nicarágua, El Salvador, México, Panamá e Costa Rica, o Sr. Bouchey apresentou um panorama realista e objetivo: "A meta comunista na América Central é, em última análise, o México". E explicou a seguir as razões. Em primeiro lugar, o petróleo. Em segundo, o fato de existir uma extensa fronteira entre Estados Unidos e México, altamente permeável, ao lado de uma enorme população de origem mexicana vivendo em território norte-americano. "As medidas preventivas a esse respeito poderiam criar descontentamentos dentro dos Estados Unidos", afirmou o conferencista, acrescentando: "Se houver um governo comunista no México, os Estados Unidos serão um alvo fácil para os guerrilheiros mexicanos. Sabemos que a KGB polícia secreta soviética — executa amplas operações no México e no Canadá, com vistas a penetrar nos Estados Unidos".

Ao final de sua exposição, o Sr. Bouchey despertou nova reação no auditório, quando contou que a imprensa norte-americana infelizmente obteve certo êxito em pintar certas figuras esquerdistas como D. Helder Câmara, apresentando-o como um novo São Francisco de Assis...

Numeroso público lotou o auditório da Casa de Portugal, em São Paulo, para ouvir dois conferencistas norte-americanos convidados pela TFP.

L. Francis Bouchey, vice-presidente executivo do Conselho de Segurança Interamericana, pronunciou conferência no auditório São Miguel, da TFP, em São Paulo.

À esquerda, James P. Lucier, conselheiro da Comissão de Relações Exteriores do Senado norte-americano, fala no auditório da Casa de Portugal, tendo ao lado o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.


A ROSA E O PUNHO

Plinio Corrêa de Oliveira

Não tenciono tratar hoje do socialismo in genere. Nem provar que, em concreto, o socialismo de Mitterrand é o da Internacional Socialista: materialista e igualitário em sua substância filosófica, como também nas "reformas" socioeconômicas que promove. Nem vou demonstrar que o socialismo é, por isto mesmo, adverso a tudo quanto as rosas simbolizam. De onde, o socialismo de rosa em punho, de Mitterrand, só se exprimir autenticamente pelo punho, e não pela rosa. Dia virá em que o punho esmagará a rosa.

Meu tema é outro.

* * *

A comparação entre os resultados do 1.° e 2º. turnos da eleição presidencial francesa demonstram que a votação de centro e de direita, com que normalmente deveria contar Giscard, baixou de 1,04%. Ao passo que a votação que se concentrou em Mitterrand, no 2.° turno subiu de 4,96%. O que torna evidente terem votado a favor do candidato das esquerdas muitos eleitores, entretanto não socialistas nem comunistas.

Mas a defecção da direita e do centro não ficou apenas nisto. Toda a campanha eleitoral feita por uma e outro, foi desinteressada, sem o entrain, sem a force de frappe indispensáveis para arrastar as multidões. O que do lado socialo-comunista não faltou. A todos os que se abstiveram, a todos os que foram moles, a todos os trânsfugas, cabe a minha pergunta. Como puderam proceder assim? Num dos povos mais lúcidos e civilizados da Terra, esses eleitores antiesquerdistas não perceberam o desatinado de sua conduta?

Prossigo. Há cerca de vinte anos, todo centrista, todo direitista que se prezasse, julgaria trair sua causa sufragando um candidato que fosse apresentado pelo Partido Socialista. Máxime se este se apresentasse em escandalosa coalizão com o Partido Comunista. Em 1981, em muitos centristas e direitistas de diversas idades, esse sentimento de pundonor não agiu. E com uma tranquilidade por vezes indolente, e por vezes até sorridente, votaram em Mitterrand. Mais uma vez pergunto: como pôde isto acontecer?

Por fim, uma terceira pergunta. No mundo de hoje nada há de estável. "Definitivo" é uma palavra que parece não corresponder a mais nada, na realidade concreta dos fatos. O pouco que ainda está de pé pode cair a qualquer momento. Mas há homens que, sem negar a evidência disto, afirmam ser definitiva a conquista do terreno pelo socialismo. E por isto, em lugar de fazerem uso das franquias políticas para se organizarem desde já numa oposição ordeira mas briosa, inarredável e fecunda, de modo a deter seu país na rampa do socialismo (que eles mesmos afirmam resvaladia) rumo ao comunismo (que afirmam mortal), não fazem nada disto. Pelo contrário, correm em direção ao socialismo, para estender-lhe a mão e colaborar com ele. Pretexto: a vitória socialista é um fato consumado. Como se hoje houvesse fatos consumados...

O socialismo vai aceitando essas mãos que se lhe estendem do centro e da direita. De outro lado, esse mesmo socialismo vive — ora mais às claras, ora menos — de mãos dadas com o comunismo.

Essa faixa específica de eleitores do centro e da direita, que analiso, sabe que, quando dois inimigos aceitam de ser abraçados ao mesmo tempo por um tertius, implicitamente eles se reconciliam. Nesta convergência de tais centristas e de direitistas com o socialismo, há, implícito, um fato ainda mais desconcertante: é a reconciliação deles com o comunismo. Fato tão desconcertante que, na maior parte, eles não ousam confessá-lo nem aos seus próximos, nem a si mesmos. Para desculpar-se, cada grupelho, cada corpúsculo, cada laivo dentro dessa faixa, alega alguma razãozinha: uma pequena velhacaria de quarteirão, um ressentimentozinho de clã ideológico ou econômico, algum rancorzinho sectário. Cada qual usa, para encobrir-se, seu pequeno pretexto, seu minguado véu. Mas eles não se dão conta de que esses véus a ninguém de bom senso iludem, na França nem no mundo. Pergunto: por que se velam? Por que se escondem até de si mesmos? Imaginam esconder-se do olhar desconcertado de seus antigos companheiros de pensamento e de ação? Do olhar da História? Do olhar supremo de Deus?

Todas essas perguntas não concernem apenas às eleições presidenciais na França. Elas também dizem respeito às eleições legislativas que estão às portas. A conjunção entre os candidatos do centro e da direita parece frouxa. A propaganda deles parece absolutamente carente de força de impacto. Tem-se a impressão de que, diante do "irreversível" da recente vitória socialista, ainda cresceu o número dos centristas e direitistas que, receosos de qualquer luta, só aspiram hoje a vegetar, e a colaborar com o adversário. O resultado das eleições legislativas confirmará esta apreensão? Não sei: Como me alegraria vê-la desmentida ao final da apuração.

* * *

Seja como for, o tema que abordei não é apenas francês. Os vegetativos, os medíocres, os poltrões de todos os centros e de todas as direitas do mundo parecem prontos a seguir a grande moda (o grande escândalo) que seus congêneres franceses acabam de lançar.

Vejo-os que já se vão metamorfoseando, no Brasil, para as grandes capitulações. Eles afrouxam, fazem ares despreocupados, tomam atitudes de quem está posto parodio aqui o episódio de Dona Inês de Castro num "engano da alma, ledo e cego" ( Lusíadas, canto 111, estância CXX). Do tal "engano da alma", acrescentou logo em seguida Camões, "que a fortuna não deixa durar muito". Mas essa família de almas parece pressagiar que Mitterrand lhe assegurará esse benefício - ao contrário do que sucedeu a Dona Inês - por tempo indefinido.

Tais entreguistas, à espera da clemência do vencedor, já sorriem para o símbolo moderno do Partido Socialista: um punho cerrado que segura uma rosa. Sem perceberem que, quanto menos se lutar contra o socialismo, tanto mais depressa chegará o dia em que esse punho inimigo, repito, de todas as rosas — esmagará a débil e graciosa flor.

Lembra-se o leitor da Revolução dos Cravos em Portugal'?

Garboso, seguro, disciplinado, um trompeteiro do regimento dos dragões de Noailles (acima). A marcha composta por Lully (músico da Corte de Luís XIV) para esse regimento foi adotada por Mitterrand como música própria de seu governo, e poderá eventualmente ser ouvida em manifestações de seus partidários, como esta (à esquerda), em Château-Chinon... — "Vitória da tradição? Ninguém se iluda. Ostensiva afirmação do indiferentismo reinante. Todos os ilogismos, todas as contradições que outrora teriam "urrado por se encontrarem juntas", passeiam de braços sob o signo da mediocridade e da indiferença".

 


MEDÍOCRES, MEDIOCRATAS ETC.

Plinio Corrêa de Oliveira

Foi ao centro e à direita da França que dirigi as perguntas, ou melhor, as objurgatórias interrogativas de meu artigo anterior, escrito - é bom notar antes do primeiro turno das eleições para o Legislativo.

Porém, não tive em mente, de modo indiscriminado, todos os integrantes dessas correntes. Os centristas e direitistas responsáveis pela catástrofe Mitterrand constituem uma grande família de almas que, num contexto doutrinário vagamente "não-comunista" (mas que esquiva o qualificativo de anticomunista), aglutina quase exclusivamente os medíocres. Minhas objurgatórias dirigiam-se, pois, especificamente aos medíocres de centro e de direita, inclusive os que, não tendo embora votado em Mitterrand, foram fracos, moles, displicentes na pugna pré-eleitoral.

* * *

Distingo aqui entre medíocres e medianos. Tem-se o direito de ser mediano, tanto quanto o de ter nascido com um estofo pessoal vigoroso, ou apenas suficiente.

A mediocridade é o mal dos que, inteiramente absorvidos nas delícias da preguiça e pela exclusiva deleitação do que está ao alcance da mão, pelo inteiro confinamento no imediato, fazem da estagnação a condição normal de suas existências. Não olham para trás: falta-lhes o senso histórico. Nem olham para frente, ou para cima: não analisam nem preveem. Têm preguiça de abstrair, de alinhar silogismos, de tirar conclusões, de arquitetar conjecturas. Sua vida mental se cifra na sensação do imediato. A abastança do dia, a poltrona cômoda, os chinelos e a televisão: não vai além seu pequeno paraíso.

Paraíso precário, que procuram proteger com toda espécie de seguros: de vida, de saúde, contra o fogo, contra acidentes etc. etc.

E tanto mais feliz o medíocre se sente, quanto mais nota que todas as portas que podem se abrir para a aventura, para o risco, para o esplendoroso — e portanto, também, para os céus da Fé, para os largos horizontes da abstração, os imensos voos da lógica e da arte, para a grandeza de alma, para o heroísmo estão solidamente cerradas. Por meio do sufrágio universal,

A campanha eleitoral da direita e do centro foi desinteressada, sem a "garra", nem a force de frappe indispensáveis para arrastar as multidões. O que do lado socialo-comunista não faltou.

Continua na pág. 6