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| VIDAS DE SANTOS | (continuação)

novo Papa, sentindo-se impotente para enfrentar tantos males, abdicou apenas um ano depois. Seus sucessores Clemente II e Damaso II apenas passaram pelo Sólio Pontifício. Estava reservado a São Leão IX, elevado ao papado no início de 1049, a missão de procurar remédio eficaz às desordens da Igreja. Para isso nomeou para seu conselheiro e sua destra o monge de Cluny, Hildebrando, futuro Papa Gregório VII, que se tornou uma das maiores glórias da Igreja.

Classes apodrecidas

Foi então que São Pedro Damião escreveu seu Livro de Gomorra, que dedicou ao Papa santo, no qual fustigava com vigor os desmandos da época, sobretudo dos eclesiásticos. Eis o que um santo muito intransigente no tocante à doutrina e aos costumes, diz daquela época, entretanto muitíssimo menos corrompida que a nossa: “Este mundo afunda-se a cada dia na corrupção, de tal modo que todas as classes sociais estão apodrecidas. Não há pudor nem decência, nem religião. O brilhante tropel das santas virtudes fugiu de nós. Todos buscam seu interesse; estão devorados pelo apetite insaciável dos bens da terra. O fim do mundo se aproxima e eles não cessam de pecar. Fervem as ondas furiosas do orgulho, e a luxúria levanta uma tempestade geral. A ordem do matrimônio está confundida, e os cristãos vivem como pagãos. Todos, grandes e pequenos, estão enredados na concupiscência; ninguém tem vergonha do sacrilégio, do perjúrio, da luxúria, e o mundo é um abismo de inveja e hediondez.”1

O livro provocou enorme ruído, e o próprio Pontífice, que o tinha antes elogiado, mostrou depois certa frieza, julgando que faltou ao outro santo certa moderação no expor os vícios do clero. A frieza do Papa provocou uma carta de protesto do fogoso Pedro Damião2.

Os dois Papas seguintes, Vitor II e Estevão IX, também entretiveram estreita amizade com Pedro Damião. O segundo, seguindo os conselhos do monge Hildebrando, nomeou o santo, em 1057, cardeal-bispo de Óstia. Confiou-lhe também a administração provisória da diocese de Gubio.

Entretanto, também esse Papa morreu prematuramente em 1058, e alguns membros da nobreza romana, com suborno e corrupção, elegeram para o seu lugar o bispo de Villetri com o nome de Bento X. São Pedro Damião, com os demais cardeais, protestaram contra essa intrusão, e denunciaram o antipapa como simoníaco, por ter comprado o cargo. Retornando de uma viagem à Alemanha, o monge Hildebrando obteve que se elegesse Nicolau II como legítimo Pontífice.

Foi no tempo desse Papa que São Pedro Damião foi enviado como legado a Milão, conturbada por grandes desordens: “Era coisa inteiramente pública e de uso comum comprar benefícios [eclesiásticos] a preço de prata. Não se tinha mais consideração pela capacidade nem pelos bons costumes, que são, entretanto, as únicas qualidades de que se deve ter em conta, segundo os santos cânones, na distribuição dos benefícios. Comprava-se até mesmo a ordenação sacerdotal. A outra desordem era a de que esses padres, calcando aos pés a santidade de seu estado e as leis eclesiásticas, ousavam contrair matrimônio, com tanta pompa e brilho quanto os seculares”3.

A situação nessa cidade era tal, que por pouco São Pedro Damião não foi martirizado. Mas enfim conseguiu, com palavras do próprio Santo Ambrósio, acalmar o tumulto insuflado pelos padres libidinosos, alcançando então seu objetivo. Seu principal cuidado, além de pôr término à desordem, foi de evitar sua repetição, mediante sábias providências. Deixou depois Milão, louvado e aclamado pelo povo.

À morte de Nicolau II houve novo cisma. Ao Papa Alexandre II, eleito por influência do futuro São Gregório VII, os simoníacos e escandalosos opuseram o bispo de Parma, Cadalo, com o nome de Honório II. São Pedro Damião lhe mandou então duas enérgicas cartas, repreendendo-o por sua ambição e ameaçando-o com os castigos divinos. Depois, às suas instâncias, congregou-se um Concílio em Mântua, em 1064, no qual se confirmou a destituição de Cadalo.

Muita coisa ainda fez o grande Santo em prol da Igreja, mas infelizmente a falta de espaço não nos permite tratar. Ele faleceu cerca de Faença, na véspera da festa da Cátedra de São Pedro, da qual era muito devoto, em 22 de fevereiro de 1072, quando voltava de uma dessas missões. Leão XII estendeu seu culto à Igreja universal em 1828, declarando-o Doutor da Igreja.

Notas: 1. In Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo I, pp. 351-352. 2. Cfr. Leslie A. St. L. Toke, St. Peter Damian, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition. 3. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo II, p. 634. Página seguinte

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