Pág.16-17

| HISTÓRIA DA IGREJA |

1000 ANOS DA CRIPTA DA CATEDRAL DE CHARTRES

Luis Dufaur Cripta com dimensões de catedral remonta a milênios de história da Igreja e da ação de Nossa Senhora desde o início da aventura humana na Terra

A catedral gótica de Chartres, situada a quase 100 km de Paris, emerge como num sonho sobre uma elevação, visível a algumas dezenas de quilômetros. Ela reina sobre as vastas planícies da Beauce e é uma das primeiríssimas a serem dedicadas a Nossa Senhora.

Sua grandeza e majestade não nos deixam imaginar que sob ela há uma cripta densa de bênçãos e das mais vastas do mundo, a qual comemora neste ano mil anos da existência. O que nos faz retroceder milênios na História e descobrir que nos sombrios séculos pagãos os sacerdotes druidas da tribo celta dos ‘Carnutos’ ali faziam suas pajelanças, talvez entre vapores infernais. Desses ocupantes do local desde o Paleolítico deriva o nome da cidade: Chartres1.

Referências a Nossa Senhora no paganismo antigo

Aqueles bruxos do submundo misturavam em distorcidos mitos a crença numa Virgem que daria à luz o Salvador dos homens, chamada “Virgo Paritura”, “A Virgem que vai dar à luz” [foto ao lado]. Hoje sua imagem purificada das torpezas pagãs preside a cripta 10 vezes secular com o nome correto de Notre-Dame-de-Sous-Terre, Nossa Senhora sob a Terra. De início foi representada por uma velha e venerável estátua do século XI ou XII, que foi queimada numa pira de execução nos crimes satânicos da Revolução Francesa, em 1793. Ela foi substituída por outra em 1857, a qual foi por sua vez trocada em 1976 pela cópia mais precisa daquela queimada no século XVIII e que hoje é venerada na cripta2.

Ela é uma Madonna Negra ou Nossa Senhora das Cavernas, que reprime o submundo sempre em revolução. No corpo da catedral está Nossa Senhora do Pilar, guardiã deste mundo. Num famoso vitral resplandece coroada Nossa Senhora do Belo Vitral (“Notre-Dame de la Belle Verrière”), envolta em seu manto como a Rainha do Céu, admirada pelos filhos de Eva que A procuram neste Vale de Lágrimas.

Durante séculos, a ‘Virgo Paritura’ ficou entronizada num altar com a inscrição “dedicada à virgem que dará à luz um filho”. O que significa isso? Não só entre os celtas, mas também em outros povos da antiguidade circulavam lendas alusivas a um Salvador que seria filho de uma Virgem. Além dos celtas da Gália (atual França), os romanos aludiam a ela no mito da deusa Ceres, a quem chamavam de “Rainha dos Céus” e “Santa Virgem” e diziam que seria mãe de um salvador executado que ressuscitaria três dias depois.

“Mãe Dourada do Primeiro Legislador”

Dessa Virgem falavam também os cultos babilônio, hindu, egípcio e grego, misturados com mitos ou fantasias. Os pagãos, gemendo em suas torpezas, achavam consolo nessa profecia que se perdia na noite dos tempos. A mesma lenda deturpada deixou lembrança na atual Montmain, ou Mont Meru, ou “Monte Médio”, na Haute Savoie, mencionada em documentos religiosos da Idade Média3.

De onde procedia isso? Quando os povos se dispersaram na confusão da Torre de Babel, levaram uma tradição oral, talvez ouvida de Adão e Eva, de uma divina-mãe e de um deus seu filho, salvador do mundo. Chegou até a China com o nome de Shingmoo ou “Santa Mãe”, representada com uma criança nos braços e com a cabeça ornada de raios de glória [foto ao lado]. Esta tradição é também encontrada no Japão, na Coreia e no Vietnã e está inscrita sobre osso em oráculos do século XV a.C.. No Oriente se dizia que viria do Ocidente, como está em seus títulos “Maravilha do Aperfeiçoamento da Florescência Ocidental”, “Mãe Dourada do Primeiro Legislador”, “Mãe de Ouro do Lago Luminoso”, “A Governante Primordial”; a “Grande Maravilhosa”, entre outros4.

Os chineses imaginavam-na residindo num palácio perfeito, sobre um mítico monte, no centro de um paraíso perfeito. De lá, a “Rainha Mãe do Ocidente” — nome dado pela dinastia Shang, entre os séculos XVI e XI antes de Cristo — intermediava nas comunicações entre os homens e os deuses, assistida por poderosos auxiliares espirituais5.

Quando Santa Ana estava por dar à luz Nossa Senhora, brotou misteriosamente na Roma imperial uma fonte de óleo que curava as doenças. Os supersticiosos romanos convocaram seus adivinhos para decifrar fato tão estranho, e estes concluíram que a “fons olei” indica-

Página seguinte

ASSINE CATOLICISMO

Pague com PagBank - é rápido, grátis e seguro!