deixar-me crescer mais sem praticar este grande ato de nossa religião, ela mesma acertou as coisas para preparar-me como melhor pôde e soube”15.
No dia da Primeira Comunhão, ela disse ao filho: “Meu querido filho! Este é um dia muito grande para ti. Estou persuadida de que Deus tomou verdadeira posse de teu coração. Promete-lhe que farás quanto possas para conservar-te bom até o fim de tua vida. No sucessivo, comunga com frequência, mas guarda-te bem de fazer sacrilégios. Diga tudo na confissão. Sê sempre obediente, vá de bom grado ao catecismo e aos sermões; mas, por amor de Deus, foge como da peste daqueles que têm más conversas”16.
São João Bosco afirma que “minha mãe me queria muito, e eu tinha nela uma confiança tão ilimitada, que não teria atrevido a mover um pé sem seu consentimento. Ela sabia tudo [sobre seu apostolado com os amiguinhos], observava tudo, e me deixava fazer”17.
Ao entrar no seminário maior, São João Bosco deixou as vestes seculares e vestiu a batina. Mamãe Margarida lhe disse então: “Tu vestiste o hábito sacerdotal; experimento todo o consolo que uma mãe pode ter pela fortuna de seu filho. Mas lembra-te de que não é o hábito o que honra teu estado, mas a prática da virtude. Se chegares a duvidar de tua vocação, por amor de Deus, não desonres este hábito. Tira-o em seguida. Prefiro ter um pobre camponês a um filho sacerdote descuidado de seus deveres. Quando vieste ao mundo, te consagrei à Santíssima Virgem; quando começaste os estudos, te recomendei a devoção a esta nossa Mãe; agora te recomendo ser todo dela; ama aos companheiros devotos de Maria; e se chegas a ser sacerdote, recomenda e propaga sempre a devoção a Maria”18.
Nos primórdios do Oratório, Dom Bosco viu-se apurado para atender a tantas solicitações para cuidar de seus birichinni19. Ele necessitava de alguém que o secundasse, com quem pudesse partilhar mais íntima e decididamente sua obra. Pensou então em sua mãe, que vivia aprazivelmente na casa do seu irmão José, junto aos netos. Ele pediu-lhe esse sacrifício. E Margarida aceitou. “E, se bem que chorando, recolheu seu anel nupcial, seu traje de noiva, suas poucas joias, seu pobre enxoval; e, a pé, com a cesta no braço, acompanhou o filho desde Becchi a Turim. Era o dia 3 de novembro de 1846. A obra de Dom Bosco começava a ser uma família”20.
Na noite de 24 para 25 de novembro de 1856 falecia Mamãe Margarida. Vendo aproximar-se a morte, ela disse a seu filho: “Deus sabe quanto te amei no curso de minha vida. Tenho a consciência tranquila; cumpri meu dever em tudo quanto pude. Talvez pareça que usei demasiado rigor alguma vez, mas não foi assim. Era a voz do dever que o impunha. Diga a nossos filhinhos que trabalhei por eles e que lhes tenho maternal carinho. Encomendo-te também que roguem por mim e que façam ao menos uma vez a santa comunhão por minha alma”.
“Mamãe Margarida foi uma verdadeira mãe para nossos meninos. Assegurou para sempre ao Oratório e à nossa obra em geral o espírito de família. Foi ela, sem pretender, a inventora das ‘Boas Noites’”21.
Conta Dom Bosco que, logo depois de sua morte, sua mãe começou a aparecer-lhe com frequência. Uma das vezes, quando ela lhe apareceu toda resplandecente de glória, o filho pediu-lhe que lhe desse ao menos uma pálida ideia da felicidade que ela gozava no Céu.
Dom Bosco prossegue: “Ela sorriu. E se tornou toda resplandecente, cheia de majestade, coberta com um manto preciosíssimo. Detrás dela havia um imponente coro de bem-aventurados. Ela pôs-se a cantar, e com ela, o coro. Era seu canto um cântico de amor a Deus de indizível harmonia e doçura; e ia direto ao coração; o invadia, transformava-o sem violentá-lo. Era a harmonia de mil e mil vozes e de todos os tons, com a variedade de tonalidades, de modulações e vibrações, às vezes forte, às vezes imperceptíveis, combinados com tal arte, que é impossível explicá-lo. Terminado o canto, voltou-se para mim dizendo-me: ‘Espero-te ali. Devemos estar sempre juntos’. E desapareceu”22.