Esse historiador da Congregação Salesiana teve farto material à sua disposição pois, além dos escritos do Santo, quando entrou no Oratório “viu que vários dos mais inteligentes filhos de Dom Bosco recolhiam cuidadosamente quanto de notável observavam nele, e que anotavam taquigraficamente seus discursos, conferências e o que mais os impressionava nas palavras que caíam de seus lábios, mesmo nas conversações familiares”5. Além do que, como secretário do santo, teve a oportunidade de consultá-lo sobre o farto material que tinha em mãos para essa obra.
Por isso, como já focalizamos a vida desse santo em nossa revista6, limitamo-nos hoje a ressaltar apenas alguns aspectos da influência de sua santa mãe em sua formação moral e religiosa, que o ajudou na prática da virtude e a alcançar a santidade.
São João Bosco nasceu num lar profundamente cristão. Seu pai, Francisco, era um camponês justo e temente a Deus, de fé profunda e caridade extrema. Na doença fulminante que lhe ceifou a vida aos 34 anos, ele se preparou cristãmente para a morte, recomendando à sua esposa e aos filhos que tivessem confiança na Providência, que não lhes faltaria. Em seu testamento, apesar dos poucos bens que deixava, estipulou que fossem rezadas 40 Missas pelo eterno descanso de sua alma.
Sua viúva, “Mamãe Margarida” [ao lado], então com 29 anos, ficou com a responsabilidade de cuidar da família de cinco membros: sua sogra também Margarida; Antônio, filho do primeiro casamento de Francisco, então com 9 anos; e seus dois filhos, José, com quatro anos e João, com apenas dois anos de idade.
Profundamente religiosa, como dissemos, a influência da mãe sobre o filho caçula foi decisiva para a sua formação moral e religiosa. “Parece que a paciência e a doce firmeza de Mamãe Margarida influenciaram São João Bosco, e que toda uma parte da amenidade deste, de seus métodos afáveis, deve ser atribuído aos modos de sua mãe, à sua maneira de ordenar e de prescrever, sem gritos nem tumulto [...] Margarida terá sido uma dessas grandes educadoras natas que impõem sua vontade à maneira de doce implacabilidade”7.
Com o tempo, essa amenidade e doçura que a mãe legou ao filho o tornaram um santo queridíssimo, não só de seus alunos, mas de todo o povo, grandes e pequenos.
Pois Nosso Senhor lhe deu “a irradiação da santidade e, com a irradiação, a influência, mediante uma simpatia mais única que rara. Em seus últimos anos sobretudo, as pessoas, ao vê-lo, sentiam-se atraídas; e os simples exclamavam: ‘Parece-se a Nosso Senhor!’; e os mais teólogos: ‘Quão bom deve ser Nosso Senhor, se Dom Bosco é tão bom!’. As crianças corriam para ele como atraídas por um ímã. E as multidões se aglomeravam à sua passagem para olhá-lo e pedir-lhe uma palavra, um sorriso ou... um milagre: o taumaturgo do século XIX”8.
O eminente líder e batalhador católico, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, comentou que a bondade e a doçura de sua mãe, Lucilia, o haviam ajudado possantemente a compreender e a ter uma filial devoção a Nossa Senhora. O mesmo ocorreu com São João Bosco, como dizem seus biógrafos: “João Bosco é um fanático da Virgem. Mamãe Margarida lhe revelou, pelo seu exemplo, a bondade, a ternura, a solicitude de Mamãe Maria. As duas mães se confundem em seu coração. Dom Bosco será um dos grandes campeões de Maria, seu edificador, seu encarregado de negócios”9.
Quando seu pai faleceu, uma carestia sem precedentes abatera-se sobre a Itália no ano de 1817, levando a miséria por toda parte. Milhares de famílias abandonavam os campos, indo procurar nas cidades o alimento. Dom Bosco diz em suas memórias “Encontravam-se pessoas mortas nos campos com a boca cheia de erva, com a qual tinham tentado aquietar sua fome raivosa”10.
Durante essa carestia, Mamãe Margarida tinha que fazer das tripas coração para prover de alimentos a família. Agradecido, narra o filho: “Pode imaginar-se o quanto sofreria e se cansaria minha mãe durante ano tão calamitoso. Mas uma grande economia e o cuidado nas coisas mais miúdas, unidos a um trabalho esgotante, junto com a ajuda verdadeiramente providencial, contribuíram para salvar aquela crise de alimentos”11.
Alguém propôs àquela viúva jovem e enérgica um novo casamento. Ela respondeu: “Deus me deu um marido, e o retomou; deixou-me três filhos ao morrer, e eu seria uma mãe cruel se os abandonasse quando mais necessitam de mim”12.
São João Bosco diz que “seu maior cuidado foi o de instruir seus filhos na religião, ensiná-los a obedecer, e mantê-los ocupados em trabalhos compatíveis com sua idade”. Desde muito pequeno, ela reunia o caçulinha com os outros dois irmãos, “Punha-me de joelhos com eles, de manhã e à noite, e todos juntos rezávamos as orações e a terceira parte do rosário”. Quando ele aprendeu a ler, “Em casa ela fazia-me rezar, ler um bom livro, e me dava aqueles conselhos que uma mãe engenhosa sabe dar oportunamente a seus filhos”13.
Aos sete anos de idade, como era costume na época, São João Bosco fez a sua primeira confissão. “Recordo que ela me preparou para minha primeira confissão: acompanhou-me à igreja, confessou-se antes que eu, recomendou-me ao confessor, e depois me ajudou a dar as graças. Seguiu ajudando-me até que me julgou capaz de fazê-lo dignamente eu só”14.
Quando Dom Bosco fez 11 anos, deveria preparar-se para a Primeira Comunhão. Mas havia um problema: “ademais da distância da igreja, não conhecia o pároco, e devia limitar-me exclusivamente à instrução religiosa de minha boa mãe. E como ela não desejava
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