O presidente Joe Biden manifestou sua decrepitude em debate com o candidato republicano em junho, e foi forçado por seus correligionários a renunciar à disputa, passando o bastão para a vice-presidente de esquerda, Kamala Harris.
Donald Trump havia sido indiciado em diversos processos, com o claro intuito de torná-lo inelegível. A tentativa de assassinato na Pensilvânia esteve a um centímetro de tirar-lhe a vida. A cena emblemática do candidato sangrando e de pulsos para o ar dominou o noticiário e as redes sociais durante várias semanas. Outro atentado frustrado foi interceptado a tempo pelo serviço secreto.
Apesar dos esforços midiáticos sem precedente, e de somas astronômicas de donativos para o cofre dos democratas, a esquerda perdeu em todas as frentes: a Câmara, o Senado, a Presidência, e até o voto popular, fato que de há muito não ocorria.(49)
Todas essas derrotas da esquerda pelo mundo deram grande alívio e foro de cidadania às correntes conservadoras. E isto é evidentemente bom.
Certas sombras, entretanto, não deixam de preocupar os observadores atentos. Várias lideranças políticas de direita têm favorecido uma mudança de eixo da reação conservadora. Tanto na Europa quanto nos EUA, há uma tendência dessas cúpulas de se afastarem dos temas morais — aborto, família etc. — e focalizarem a agenda direitista apenas no aspecto econômico e no problema das imigrações em massa.
Talvez o fato mais emblemático deste fenômeno tenha sido a vergonhosa e decisiva votação de todos os senadores e de vários deputados do Rassemblement National, o maior partido de direita da França, a favor de incluir na constituição o assim chamado direito ao aborto.(50)
Durante a campanha presidencial, Trump declarou que sua administração “será ótima para as mulheres e seus direitos reprodutivos”, (51) em clara alusão ao aborto, afastando-se da posição pró vida de seu primeiro mandato.
O problema da imigração é assustador em alguns países e deve ser tratado com bom senso e firmeza, sobretudo na Europa, em que o Islã ameaça tomar posições-chave na sociedade, com o grave risco de descristianizar e caotizar ainda mais aquele continente. Entretanto, a amnésia do aspecto moral ameaça desvirtuar a onda conservadora para uma posição francamente materialista e, dependendo do país, nacionalista, no sentido pejorativo da palavra.
Por exemplo, cresce a preocupação de que o presidente eleito dos EUA possa abandonar a Ucrânia às traças, sob pretexto de atender “primeiro” aos interesses americanos, o que poderia dar livre curso às pretensões tirânicas do ex-agente da KGB, Vladimir Putin.
Segundo o jornal El Pais, em outubro “Volodymyr Zelenskiy retornou de uma viagem a Washington com sinais desencorajadores de que é cada vez mais improvável que a Ucrânia afaste as forças russas no campo de batalha. Os republicanos deixaram claro que sua prioridade é que Kiev faça concessões para acabar com a guerra”. (52)
De fato, o ano terminou com perspectivas sombrias para Kiev. De outro lado, o conflito subiu de grau. Em fins de novembro, o presidente americano e o primeiro-ministro britânico permitiram à Ucrânia usar seus mísseis balísticos em território russo. Logo em seguida, o exército ucraniano bombardeou um centro militar em Maryno, na Rússia. (53) Pouco depois, Biden aceitou fornecer minas à Ucrânia, o que ajudaria na defensa do front. (54) Tudo isso parecia ser uma resposta à participação de 10.000 soldados norte-coreanos lutando do lado russo. (55)
A retaliação foi dupla: Putin assinou documento definindo novos parâmetros para a doutrina militar russa quanto ao uso de armas nucleares. Segundo ele, a Rússia se vê agora no direito de reagir com armas nucleares a ataques com armas convencionais vindas de países que possuem arsenal atômico. (56) Em seguida, lançou sobre a Ucrânia um míssil com capacidade de carregar ogivas nucleares. A ameaça estava feita. (57)
Alguns analistas se perguntaram se essa escalada não seria um show de ambas as partes para aumentar as vantagens em uma possível mesa de negociações. Pode bem ser. Mas isso levanta para o Ocidente uma importante questão:
Em 2014 a Rússia já se havia apossado de um enorme naco do território ucraniano. Dez anos depois está fazendo o mesmo: está no momento em posse de aproximadamente 20% da área do país. (58) Quando isso vai parar? É lícito às nações ocidentais aceitarem um acordo espúrio e abandonar um país soberano, que luta heroicamente pela integridade de seu território? Quem será o próximo: Lituânia? Polônia?
A resposta a esta pergunta crucial só os próximos
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