tual, e assegurar àqueles que com ele têm de lidar que não se encontra dependente de nenhuma das soberanias deste mundo. Ele não tem qualquer poder temporal, qualquer ambição de entrar em competição convosco. De fato, Nós nada temos a pedir, nenhuma exigência a fazer, mas apenas um desejo a formular, uma permissão a solicitar: a de vos poder servir naquilo que cabe no âmbito da Nossa competência, com desinteresse, com humildade e amor”. *
Depois de afirmar que a ONU representava, na ordem temporal, aquilo que a Igreja quer ser na ordem espiritual — “única e universal” —, Paulo VI a glorificou ainda mais, dizendo que ela era uma grande escola onde se ensinava a paz aos homens, sem mencionar nem uma só vez Nosso Senhor Jesus Cristo, única fonte verdadeira da paz com Deus e entre os homens.
O debate entre simplicidade e autoridade, ilustrado pela discussão das catequistas mencionadas, resulta de um “queijo mal partido”, porque as virtudes são complementares, e não contraditórias. A humildade e a pobreza são virtudes centrais da fé cristã: Nosso Senhor nasceu numa manjedoura e morreu numa cruz. No entanto, ao mesmo tempo, Ele não hesitou em afirmar sua realeza e sua autoridade divina diante de Pilatos e dos fariseus.
A Igreja, como Corpo de Cristo, deve refletir ambas as realidades: a humildade do servo e a majestade do rei. Renunciar a símbolos como a tiara pode dar a impressão de que a Igreja se despoja não apenas de ornamentos, mas também de sua autoridade moral e espiritual.
Os sacramentos e a liturgia demonstram essa dualidade. Mesmo nas celebrações mais simples, o uso de paramentos e ritos específicos comunica a sacralidade do mistério celebrado. Do mesmo modo, a tiara papal permanecia como um sinal visível da dignidade e da missão do Papa.
Da mesma maneira que o abandono do Palácio Apostólico como residência e a mudança do Papa Francisco para a Casa Santa Marta, o despojamento da tiara e da sedia gestatória por Paulo VI representaram um desdouro da autoridade papal precisamente quando ela mais necessitava afirmar-se.
A caridade e a simplicidade são virtudes essenciais, mas precisam ser equilibradas com a necessidade de comunicar a realeza espiritual de Cristo, que o Papa representa na Terra. É certo que a autoridade dele não reside nos ornamentos, mas no mandato dado por Jesus Cristo. Contudo, esses símbolos ajudam a tornar visível essa autoridade aos olhos do mundo.
É perfeitamente possível preservar a essência espiritual do papado enquanto se mantém o uso prudente de signos exteriores que eduquem os fiéis e testemunhem a majestade do Reino de Deus. Afinal, a Igreja não deve esquecer que, enquanto serve os pobres e humildes, ela também proclama a soberania de Cristo sobre todas as nações.
Os símbolos que expressam as verdades da fé, longe de serem sinais de arrogância, são instrumentos para lembrar aos fiéis e ao mundo a missão da Igreja.
No dia 31 deste mês comemoramos a festa de Dom Bosco, o Apóstolo da Juventude, que provou a eficácia e o valor de uma educação autenticamente católica.
“A vida de Dom Bosco é tão densa, tão variada e tem tão múltiplas facetas que, a quem se acerca para contemplá-la ou estudá-la, sempre lhe ficará na sombra alguma face importante do poliedro”1.
Com efeito, a Providência “o havia dotado prodigiosamente: pobreza e humildade de berço, mas lar cristianíssimo e amante do trabalho; uma mãe santa; de engenho pronto e vivo, presença agraciada e simpática; memória felicíssima; vontade a toda prova; robustez física invejável, força hercúlea, agilidade pasmosa, sensibilidade delicadíssima, acessível a todo o belo e bom; coração ‘segundo o coração de Deus’ e, posto que haveria de ser ‘pai dos órfãos’, sente o peso da orfandade paterna quando tem dois anos”2.
Além disso, “Deus Nosso Senhor comprouve em fazer dele como um resumo dos carismas que adornaram a vida dos santos nas centúrias passadas. Porque Dom Bosco curava os enfermos com sua bênção, lia as consciências e o futuro, multiplicava os pães, as castanhas, as nozes para seus filhos, as medalhas e estampas para os devotos, e até as hóstias sagradas para que os fiéis não ficassem sem comungar. Teve várias vezes o dom da bilocação, ressuscitou três mortos, e os animais obedeciam, submissos, a seus mandatos. Mas sobretudo convertia os pecadores e ajudava eficacissimamente os bons a conservarem sua inocência”3.
Isso de tal maneira que, como afirma Pio XI,“em Dom Bosco, o sobrenatural tinha chegado a ser natural, o extraordinário, ordinário, e a legenda áurea dos séculos passados, realidade presente”4.
Tudo isso torna muito difícil tratar da vida desse santo em tão pouco espaço, além do mais porque São João Bosco é um dos santos dos quais se tem mais abundante bibliografia. Além de suas Memórias do Oratório e outros escritos seus nos quais há dados biográficos, temos os 19 volumes das Memórias Biográficas, organizadas por seu secretário e biógrafo, o Pe. João Batista Lemoyne.
Página seguinte