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| MATÉRIA DE CAPA (III) | (continuação)

A turma do PT e aliados ainda estão tentando juntar os cacos depois do fracasso eleitoral. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que defende uma aliança “mais ao centro”16. Porém, já prevendo que a manobra não surtirá efeito sobre o brasileiro médio, intuitivo e de bom senso, a líder petista emendou em tom de ameaça: a esquerda “vai continuar sendo massacrada” se não regular as redes sociais17.

Inverno: “gelo” na máquina estatal

O inverno de 2024 derrubou os marcadores dos termômetros, batendo recordes de baixas temperaturas em certas capitais18. O frio extremo localizado foi um dos fatores (indiretos, é verdade) para a queda do avião da Voepass e a morte de seus 62 passageiros e tripulantes. Não desejo ser irreverente com a memória das vítimas, mas o lastimável acidente traz analogia marcante com o percurso seguido por Lula em seu desastroso 3º mandato.

Há gelo nas engrenagens do avião petista. Tal se vê nos disparates da política externa. As eleições na Venezuela — com sua escancarada ausência de legitimidade — tiveram como resultantes explicitar as incongruências da diplomacia brasileira e acabaram por consolidar a ditadura de Nicolás Maduro. Lula perdeu credibilidade e de seu autoproclamado título de “líder natural” da América Latina só restaram destroços. 19

Durante seu discurso na ONU em setembro, o líder petista repetiu propagandas demagógicas ultrapassadas, insistiu em ações para promover “igualdade de gênero” e políticas “antidiscriminação”; além de criticar as “estruturas da governança mundial”, em sinal claro para a tentativa de dar foco ao seu pretenso protagonismo com o chamado “sul-global”. Falou tanto que estourou o tempo do seu discurso e teve o microfone cortado20. Uma vergonha...

Na reunião do Brics em outubro, Lula tentou emplacar a liderança naquilo que analistas classificam de tendência “antiocidental” do bloco21. Mas no fim, de acordo com um especialista, o mandatário brasileiro acabou perdendo: “A imagem de Lula está manchada por seu apoio a Xi Jinping e a Vladimir Putin, e por sua atuação nos Brics 22.”

A par do esfriamento das suas pretensões no Brics, Lula ainda cometeu gafes pueris na diplomacia com os Estados Unidos. Pouco antes dos resultados das eleições presidenciais norte-americanas, ele saiu com este disparate: uma possível vitória do republicano Donald Trump representaria a volta de um “nazismo e fascismo com outra cara23”.

Para completar a insensatez diplomática com relação aos Estados Unidos, a esposa de Lula, Janja, não achou nada melhor do que atacar, da forma mais baixa, o Elon Musk, indicado por Trump para integrar sua nova equipe de governo. Numa típica “atitude de botequim”, ela referiu-se ao milionário com um palavrão24 — irreproduzível numa publicação como a nossa —, causando mal-estar mesmo entre os aliados petistas e provocando uma moção de repúdio na Câmara dos Deputados25.

Por essas e por muitas outras é explicável que a “frente fria” da insatisfação vá tomando conta do horizonte lulista e provoque a queda nos seus índices de aprovação. Em maio de 2024, a popularidade de Lula, que já vinha despencando, era de 37,4%. Em novembro, esse número tinha descido a 35%.27

Céu nublado, tempestades e raios

O tempo fechado e melancólico de outubro guardava certa analogia com a situação da “esquerda católica” no Brasil. A CNBB — sempre atrelada a um “progressismo” decrépito — parece se encontrar num “céu nublado”, quase totalmente desprezada no cenário nacional. Alguém se lembra de qualquer declaração ou atitude relevante do órgão, durante o ano? Ao menos algo que tenha sido de molde a mover as vontades? Nada!

Nesse sentido, são extremamente significativas essas palavras de Frei Beto, ao observar os participantes de um encontro de “progressistas” em Belo Horizonte: “A maioria de cabelos brancos ou tingidos. Minha geração envelhece. Chego este ano aos 80. É muito preocupante constatar que as forças progressistas não logram renovar seus quadros.” 28

A desconfiança e a indiferença dos brasileiros com relação ao clero progressista só aumentam. Motivos eles têm! Veja-se, por exemplo, a total inação das autoridades eclesiásticas quando “peregrinos” do movimento LGBT exibiram, na própria Basílica de Aparecida, uma cópia da imagem da Padroeira vestida com a bandeira arco-íris [foto]. Diante da perplexidade dos católicos, saiu a público uma lacônica nota dos responsáveis pelo Santuário Nacional. 29

Do outro lado do espectro político e religioso, a tendência é outra: juventude, dinamismo, esperança. Os quadros da direita se renovam e avançam. As próprias eleições municipais confirmaram isso de maneira eloquente30. Quem há de se surpreender que os progressistas e esquerdistas de todos os vieses estejam desorientados e assumam, como último recurso, o revanchismo meio desesperado? Parece que a gota d’água para o revide veio após a clamorosa vitória de Trump e da direita em geral nas eleições americanas.

As tempestades e os relâmpagos despontaram no horizonte dias depois dos resultados. O estopim de um mal executado “ataque terrorista” em Brasília desencadeou novamente os alaridos da esquerda: o País está sob a ameaça dos “conservadores radicais”! O insano e atrapalhado “terrorista” morreu no ato, os danos materiais causados por ele foram insignificantes, porém o evento serviu bem, novamente, para a hábil propaganda da esquerda demonizar todos os conservadores e direitistas31, mesmo os que desejam ordem e paz para a Nação.

Quase como uma cena saída de um enredo já pronto, outro raio iluminou os céus em novembro: o vazamento de supostos planos de golpe de estado, envolvendo o ex-presidente Bolsonaro, o alto escalão do Executivo de então, bem como oficiais das Forças Armadas. Na sequência das investigações, a tempestade deve continuar nos primeiros meses de 2025, entretanto nada mais apropriado para desviar as atenções da patente derrota e desorientação da esquerda no Brasil no último ano.

Não podemos nos esquecer de um contragolpe

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