Wikipédia, o termo se expandiu para outras questões, incluindo aquelas relacionadas ao sexismo, gênero e identidade LGBT. Durante os protestos de Ferguson em 2014, ganhou visibilidade graças ao movimento Black Lives Matter (BLM).
Esta ideia de “despertar” face à injustiça evoca a década de 1970, quando figuras como Dom Helder Câmara, conhecido como o “arcebispo vermelho”, e Paulo Freire, sociólogo marxista brasileiro, defendiam a “conscientização” revolucionária.
O wokismo reformula o pensamento marxista ao diversificar as lutas identitárias. O marxismo clássico denuncia a propriedade privada como a infraestrutura responsável pela suposta exploração econômica do proletariado pela burguesia capitalista; o wokismo amplia esta grelha de análise atribuindo injustiças análogas a estruturas multiformes de opressão: patriarcado, colonialismo, “heteronormatividade”, ou mesmo “especismo”, responsável pela predação ambiental.
Maio de 68 marca a grande transição do marxismo tradicional, centrado nas classes socioeconômicas, para o pensamento neomarxista oriundo da Escola de Frankfurt. Esta escola mistura a dialética marxista com a psicanálise de Freud, o existencialismo e o relativismo cultural, atraindo diversas minorias visíveis para conglomerar um novo proletariado simbólico em rebelião contra as normas sociais dominantes. O objetivo comum continua sendo a destruição das supostas relações de dominação, mas através da multiplicação das frentes de luta.
O wokismo também está enraizado em teorias filosóficas desenvolvidas na França e depois popularizadas nas universidades americanas sob a etiqueta French Theory. Figuras como Derrida, Foucault, Deleuze e Guattari fornecem conceitos básicos, como a desconstrução e o relativismo, influenciando novas disciplinas como os estudos de gênero ou os estudos pós-coloniais.
O wokismo moderno está dividido em várias correntes, cada uma centrada em um problema específico percebido como fonte de opressão. Concentrar-me-ei em quatro ramos: racismo antibranco, feminismo androfóbico, ideologia de gênero e ambientalismo punitivo. Embora por vezes divergentes, esses ramos convergem no seu desejo de desconstruir hierarquias e normas sociais para estabelecer uma sociedade mais igualitária e inclusiva.
A teoria crítica da raça é uma aplicação dos conceitos da Escola de Frankfurt, adaptados ao quadro das relações humanas e raciais. Tal como no marxismo, afirma que uma infraestrutura exploradora mantém instituições sociais, políticas e culturais destinadas a perpetuar a dominação dos brancos sobre outros grupos. De acordo com esta abordagem, a própria noção de “raça” é uma construção artificial criada pelo Ocidente para justificar a colonização, a escravatura e a hierarquia racial.
Pap Ndiaye, antigo ministro francês da Educação e historiador, ilustra este ponto com a ideia de “racismo estrutural”: não se trata apenas de atos individuais de racismo, mas de um sistema enraizado nas instituições e na cultura ocidental, baseado na convicção da superioridade da civilização cristã que continua a permear as mentalidades.
Nikole Hannah-Jones, ativista e jornalista do New York Times, vai além, argumentando que todas as pessoas brancas são beneficiárias de um sistema centenário de supremacia racial. Ela diz que o racismo persiste mesmo entre aqueles que apoiam ostensivamente a igualdade racial, porque continuam influenciados, mesmo sem perceber, por uma história marcada pela escravatura e pela segregação.
A teoria crítica da raça condena também as chamadas políticas “daltônicas”, que se baseiam no mérito individual, sem levar em conta a cor da pele. Estas regulamentações, embora igualitárias, são consideradas insuficientes. Em seu lugar, promove-se a discriminação positiva, com o estabelecimento de quotas na educação, na comunicação social ou no emprego. Segundo os seus defensores, este tipo de discriminação procura corrigir injustiças históricas dando preferência às minorias.
No entanto, esse ativismo suscita críticas. Alguns acreditam que tais medidas reforçam os estereótipos sobre as supostas capacidades inferiores dos grupos favorecidos e aumentam as tensões raciais. Em vez de promover o diálogo pacífico entre as comunidades, esta abordagem corre o risco de criar barreiras adicionais, dificultando o estabelecimento do entendimento mútuo.
Em suma, a teoria crítica da raça transforma a luta de classes marxista numa luta racial. Esforça-se por desconstruir os fundamentos históricos e culturais do racismo, mas suscita debates acalorados sobre como alcançar uma verdadeira igualdade.
É oportuno recordar que não devemos nos envergonhar da nossa civilização ocidental, nem dos esforços de evangelização e colonização empreendidos pela Europa entre os séculos XVI e XIX. Se essa civilização dominou o mundo, é porque sua cultura e seus valores eram superiores; não por causa de algum suposto gênio racial, mas graças ao cristianismo e à ação da graça divina. São Pio X expressou isto com força na sua encíclica Il Fermo Proposito:
“A Igreja, ao pregar precisamente Cristo crucificado, escândalo e loucura aos olhos do mundo (1 Cor, 1, 23), veio a ser a primeira inspiradora e fautora da civilização; e difundiu-a por todos os territórios em que pregaram seus apóstolos, conservando e aperfeiçoando os bons elementos das antigas civilizações pagãs, arrancando da barbárie e educando para a convivência civil os novos povos que se refugiavam em seu seio materno, e dando a toda a sociedade, ainda que pouco a pouco, mas com passo seguro e sempre progressivo, aquela marca tão sobressalente que todavia hoje conserva universalmente.”
Ele acrescentava com lucidez:
“A civilização do mundo é civilização cristã; e tanto mais verdadeira, mais durável e mais fecunda ela é em preciosos frutos, quanto mais nitidamente cristã ela for; tanto mais declina, com imenso dano ao bem social, quanto mais se afastar da ideia cristã.”
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