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| MATÉRIA DE CAPA | (continuação)

E agora a estrela.

A TFP está difundindo um número especial de Catolicismo, publicado sob os auspícios do ilustre bispo D. Antônio de Castro Mayer. Nesse mensário de cultura é publicado um impressionante conjunto de documentos e comentários, que põem a nu uma vasta trama, instalada na própria Igreja, para levar todos os católicos ao ateísmo. É a conjuração do IDO-C e dos “grupos proféticos”, sobre os quais já escrevemos neste jornal. O tema é, como se vê, essencialmente religioso. A difusão de Catolicismo se funda, pois, do ponto de vista do direito positivo, na liberdade de religião, assegurada pela Constituição. A receptividade do público para esse número de Catolicismo se vem mostrando enorme em várias capitais do Brasil. Só em São Paulo já foram vendidos por nossos jovens, em dois dias, 3.469 exemplares do jornal. E de um jornal que não trata de matéria sensacionalista, e, portanto, interessa, por sua natureza, a um público menos amplo, afeito à reflexão.

Ora, na segunda-feira, centenas de jovens, sócios, militantes ou cooperadores da TFP — universitários, comerciários e operários — vendiam o jornal no Triângulo central da Capital paulista. A certa altura, uma garotada, que nada entendia de assuntos religiosos, se pôs a vaiar e insultar os jovens da TFP. Era visível que obedeciam a uma palavra de ordem bem estudada, e seguiam os métodos clássicos de agitação.

Por que comunistas queriam interromper a difusão de um jornal que fala contra a Igreja Nova? Sem analisar aqui o fato, digamos somente que a vaia parecia prestes a contagiar outros magotes de desordeiros esparsos pela praça, como a intimidar o público simpático, mas indefeso.

Entretanto, os jovens da TFP reagiram com um élan admirável. Depois de revidar sumária e moderadamente algumas agressões físicas dos arruaceiros, foram os da TFP avançando aos brados compassados de “agressores, agressores – liberdade, liberdade”. E diante desta pacífica investida dos arautos da Tradição Família e Propriedade, que com seus grandes estandartes rubros e suas capas da mesma cor davam uma nota épica ao lance, a baderna recuou. Esse o episódio central de uma luta que a firmeza e a paciência da TFP impediram de ser cruenta.

Nesta hora, uma estrela brilhou com força maior em teu horizonte, ó leitor. Era a afirmação de um Brasil jovem, heroico e ordeiro, a pôr em retirada um anti-Brasil arruaceiro, odiento, implacável. De um Brasil inautêntico made in Havana, Pequim ou Moscou.

* * *

E, por fim, coaxaram mais forte os sapos. Em meio a um público invariavelmente simpático à TFP, foi desta vez maior do que de costume o número de carros — vários de luxo — que passaram domingo, a toda velocidade, pelas nossas bancas, a gritar insultos de inspiração comunista.


Dois jovens rezam por você

Plinio Corrêa de Oliveira

Folha de S. Paulo, 26 de abril de 1970

Quando, na madrugada de 20 de junho de 1969 os terroristas estouraram uma bomba na sede da Presidência do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, imaginavam estar vibrando um rude golpe nessa entidade. Na realidade, era precisamente o contrário que sucedia: a Providência se serviria do fato para abrir pouco depois — precisamente naquele local — um rio de graças.

Com efeito, entre os objetos mais danificados pelo atentado criminoso, estava uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Guardamo-la carinhosamente. E, concluída a restauração do edifício, nosso dedicado porteiro Manuel nos deu esta linda sugestão: fazer um oratório dando para a rua, no local preciso onde a bomba explodira, a fim de ali expor à veneração pública a imagem danificada. Com isto se repararia a ofensa feita à Virgem Mãe de Deus.

Atendendo ao apelo, decidi que a imagem fosse transportada em um desfile solene, de nossa sede da rua Pará para a da rua Martim Francisco, 669.

* * *

Só quem frequenta assiduamente a rua Martim Francisco 669 pode formar uma ideia global do efeito benfazejo que a presença dessa imagem e desse oratório produz sobre a população.

Desde o ato inaugural do oratório — no dia 18 de novembro do ano passado — até hoje, a imagem tem estado continuamente florida. São rosas esplêndidas, são orquídeas de qualidade, são flores comuns, são até as modestas florinhas populares, a se acumularem dentro do oratório, e — o mais das vezes — a transbordarem fora dele, marcando a rua com uma nota festiva. Nem uma só vez foram estas flores compradas pela TFP: são ofertas espontâneas de devotos da Senhora da Conceição.

Procedem tais ofertas, na maioria dos casos, de pessoas das redondezas. Mas algumas delas chegam de bem longe. Pois os devotos da imagem começam a estender-se pela enorme cidade. Um bilhete pedindo graças foi deixado junto ao oratório por uma senhora que informava residir na Liberdade. Lindas flores chegaram há dias, enviadas por uma floricultura do Paraíso. Um objeto perdido no local trazia o endereço de uma pessoa do Jardim América...

Nas horas mais diversas do dia e da noite, há pessoas que rezam diante do oratório. Assim, nas primeiras horas da manhã, passam rápidos os empregados de todo tipo, à demanda de seus locais de trabalho. Em frente ao oratório, alguns se detêm para uma rápida prece. Outros, que não têm tempo de parar, se persignam e continuam seu caminho. Logo depois começam a passar, menos apressadas, as donas de casa, que vão para a missa ou para compras. Diante do oratório, numerosas são as que, por sua vez, se persignam, ou param e rezam. Aos poucos, a rua vai começando a se atravancar de automóveis. Passam carros particulares, táxis, caminhões e ônibus. É frequente notar que, dentro deles há gente que faz o sinal da cruz: homens e mulheres, crianças, jovens e velhos, passageiros e chauffeurs.

Pela calçada, a quantidade de pedestres cresce também, e se vai tornando heterogênea. Continuam numerosos os que se persignam de passagem. Mas vários outros se detêm, às vezes demoradamente. Não raras vezes, fazem uma genuflexão até o chão. Ou mesmo se ajoelham, pura e simplesmente, em plena calçada, como se estivessem em uma igreja... Entre estes, não poucos jovens. E até algum play-boy. De quando em quando, alguma pessoa entrega flores para agradecer ou pedir favores.

Com a entrada da noite, o movimento decresce. O oratório vai ficando isolado. Vão chegando suas horas mais belas e mais pungentes.

Se, durante o dia, a Virgem favoreceu os que passaram na luta pela vida, à noite Ela recebe com amor o triste desfile, que começa, das almas agoniadas, das almas solitárias... dos pecadores.

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