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| MATÉRIA DE CAPA | (continuação)

São pessoas que, às horas mais tardias, saltam de um Volks ou de um Gordini, de um Karman-Ghia ou de um Impala, se recolhem um instante, e saem. Para onde vão? Para um repouso honesto? Talvez. Mas, muitas vezes, as circunstâncias não permitem duvidar: saem do pecado, ou vão para ele. Algumas soluçam, como um jovem melenudo, que de mãos postas e joelhos em terra exclamava: “Nossa Senhora, acertai minha vida”. A Providência conduz esses noctâmbulos para junto daquela que sabe corrigir todos os vícios, perdoar todos os arrependidos, tocar todos os empedernidos, e consolar todos os aflitos. No meio desses lances de dor as ações de graças continuam. São carros em que vêm, muitas vezes, o esposo e a esposa, com algum filho, trazendo em ação de graças — mesmo tarde da noite — braçadas de flores. Ou até corbeilles. E assim corre o tempo, até que a manhã traz novo desfile de outras esperanças, outras alegrias e outras aflições. Como, por exemplo, o de uma septuagenária, que em pleno dia e sem se incomodar com o bulício do trânsito, chorava junto ao oratório pedindo que Nossa Senhora a livrasse — não se chegou a ouvir bem — se de um desemprego ou um despejo...

* * *

Blasfêmias, insultos? Também os há, mas raros.

Uma vez, por exemplo, um jovem enfurecido escarrou na parede em que está encaixado o oratório.

Outra vez, umas moças “proféticas” passaram protestando contra o desperdício de flores. — Judas fez análogo comentário quando viu Santa Maria Madalena a ungir os pés divinos.

Certa pessoa acercou-se, uma feita, do oratório onde tantos fiéis encontram as graças da Rainha do Céu, e perguntou sarcasticamente: “Que é isto? É macumba?” — Era uma freira...

* * *

De todos estes “flashes”, a imagem que se desprende é a de uma grande cidade em que a graça esparge favores insignes, no qual a virtude resiste e vence as situações mais adversas... mas onde, também, tanto o pecado quanto a dor, em todas as suas formas, rondam campeiam, devastam.

Isto levou os admiráveis jovens da TFP a me fazerem um pedido. Estou certo de que tal pedido comoverá até o fundo da alma todos os leitores que ainda tenham na alma alguma profundidade.

Ocupados embora o dia inteiro com seus estudos, seus empregos, suas atividades em prol da Tradição, Família e Propriedade, sugeriram-me eles de se revezarem durante a noite uns aos outros, ao longo de todo o mês marial que se aproxima, rezando continuamente o rosário junto à imagem que os terroristas danificaram.

Por que intenções queriam eles fazer essas preces em horas tão heroicas?

— Por todos os que sofrem na imensa urbe, para que Nossa Senhora os console e ajude.

— Por todos os que lutam, vacilando entre a virtude e o pecado, por todos os que perseveram na virtude, para que Nossa Senhora lhes aumente a perseverança.

— Por todos os que pecam, para que Nossa Senhora os preserve do desespero e os reconduza ao bem.

Por todos os que agonizam, para que Nossa Senhora lhes sorria na hora extrema.

Aquiesci. — E como não haveria de aquiescer?

Entretanto, acrescentei a essas esplêndidas intenções algumas outras:

— Pela Igreja, para que Nossa Senhora A livre do progressismo

— Pelo Brasil, para que Nossa Senhora o livre do comunismo

— Pelas pessoas visadas pelos terroristas, para que Nossa Senhora as ajude fortaleça e preserve

— E pelos terroristas, para que Nossa Senhora lhes toque o coração e os converta.

Por fim, recomendei: rezem particularmente pelos terroristas que danificaram a sede e a imagem. Se nós, de todo o coração, os perdoamos, quanto mais os perdoa a Mãe de todas as misericórdias!

* * *

Saibam, pois, todos os que lerem este artigo, que, se em alguma noite, sentirem necessidade do auxílio de uma prece cristãmente fraterna, naquela hora exata dois jovens — universitários, estudantes secundários, comerciários ou operários — estarão rezando para que tal auxílio lhes seja concedido.


E Nossa Senhora sorrirá ao Brasil

Plinio Corrêa de Oliveira

Folha de S. Paulo, 14 de junho de 1970

Começo por apresentar alguns “flashes” do ocorrido diante do Oratório de Nossa Senhora da Conceição, ao longo do mês de vigília noturna ali realizado pelos sócios e militantes da TFP.

A prece dos transeuntes

Tornou-se ela naturalmente mais intensa ao longo do mês. Foi comum ver famílias inteiras de rosário em punho, acompanhando as preces dos encarregados da vigília. Nos dias de semana, o afluxo era especialmente intenso das 18 às 21h30. Aos sábados e domingos, nas mais variadas horas, chegavam famílias inteiras caminhando a pé ou ocupando automóveis. Tinham algo a dizer, a pedir ou a agradecer a Nossa Senhora.

A prece do lixeiro

Passa um carro de lixo. Dele salta um jovem coletor, recolhe o lixo e se dirige de volta ao carro. Em frente ao oratório, olha e se detém enlevado, com a lata cheia em uma das mãos. Reza. O carro de lixo, enquanto isto, vai descendo. De longe, os companheiros o chamam aos brados. Ele interrompe a prece, cumprimenta com afeto os jovens da TFP, e desata na corrida, até alcançar o carro. Do alto do Céu, a Rainha Imaculada sorri enternecida.

A vez dos encanadores

Produziu-se uma ruptura da canalização de água, próximo ao oratório. É noite alta. Dois encanadores terminam o conserto e vão rezar junto à imagem. Um militante lhes oferece rosas do oratório. Ambos as recebem com respeito, osculam e guardam. Depois se retiram. Nossa Senhora também sorri.

Também o engraxate

É um menino. Traz às costas sua caixa de trabalho. Recolhe-se em silêncio, oferece à Virgem o que lhe vai na alma. Ao sair, oscula uma das flores do Oratório. E Ela do alto do Céu, também sorri...

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