Chega com o carrinho trazendo mercadoria a distribuir. Para e reza. Tão recolhido está que uma senhora, a qual também rezava diante do Oratório, comovida, lhe afaga a cabeça. Ele abre um instante os olhos, e os fecha de novo. O recolhimento continua. Nossa Senhora, do alto do Céu, sorri...
Passa a radiopatrulha, dois guardas se descobrem dentro do carro, rezam rapidamente, e continuam em sua arriscada e nobre faina. E Nossa Senhora sorri.
Atores de uma TV fazem uma novena. Todos os dias trazem dois botões de rosas. E Nossa Senhora também sorri.
De Diadema chega uma senhora: veio para rezar. Flores há que vêm de bem mais longe, de Fortaleza, por exemplo, e mesmo de Buenos Aires. E a Mãe de todo o carinho sorri.
Uma Rolls Royce imponente também para. Dela desce uma senhora distinta e coloca um botão de rosa no vaso de flores. Depois desfia com piedade as contas de seu terço. Nossa Senhora sorri.
Galaxies, Impalas, outros carros de categoria também param, e deles descem os abastados ou os ricos. Vêm dizer à Virgem as aflições que não faltam nem a pobres nem a ricos. Rezam. E a Mãe de Deus sorri...
Os aflitos, sim, os especialmente aflitos fazem preces que são, mais do que gemidos, verdadeiros gritos de dor. Menciono apenas o de uma mãe: “Nossa Senhora, que veja meu filho!” Quanta aflição estas simples palavras exprimem! Outra senhora chora. Depois volta-se para os militantes e lhes diz: “Como é bom ver rapazes rezando assim. Isso reforça minha Fé.”
Seria intérmino narrar todos os fatos congêneres ali ocorridos. O certo, pois a Fé no-lo ensina, é que, para cada uma destas lágrimas, Nossa Senhora tem um maternal sorriso de compaixão.
Ouro, incenso e mirra, foi o que trouxeram os Reis Magos para o Menino Deus. Também os dons não faltaram junto ao Oratório. Uma coroa de ouro em filigrana. Uma auréola em metal prateado. Três flores de prata. Mais um ramo de prata com duas flores do mesmo metal. Dois anéis. Uma pena de ouro. Um terço de prata. Tudo exprimindo amor, reverência, esperança e contrição: isto é, as disposições de alma que o ouro, o incenso e a mirra simbolizam. Como não haveria de sorrir a isto a Virgem?
Judas rosnou. Como na ocasião em que protestou contra a Madalena, que derramava perfumes sobre os pés divinos: “O dinheiro gasto com isto não seria preferível que fosse dado em esmolas?” Mas ninguém, junto ao Oratório, deu atenção ao murmúrio soez.
Sim. Os anjos cantaram e a Virgem sorriu com ternura particular quando Sacerdotes e Religiosas se acercaram do oratório para rezar. E especialmente quando uma Religiosa ofereceu uma rosa dourada para reparar o insulto que fizera outra freira, esta do gênero “prá frente” e “no vento”. Ou quando outra Religiosa ofereceu o resplendor de que falei. E quando, enfim, em um delicado gesto de Mãe, uma Religiosa nos ofereceu dois genuflexórios bem estofados para mitigar o cansaço dos militantes durante a vigília. Quem será capaz de exprimir o sorriso especialíssimo da Virgem para as almas eleitas que se consagram a seu Divino Filho, e se mantêm fiéis à sua consagração?
O padre Afonso Rodrigues, S.J., deu à TFP 240 terços. Foram eles distribuídos no hospital do pênfigo foliáceo por militantes da TFP. Nossa Senhora sorri.
A coragem do ímpio é fanfarrônica e covarde. Por vezes passavam pessoas de automóvel, acelerando o motor justamente diante do Oratório, a fim de produzir barulho. Uma delas estourou junto ao povo um projétil junino de grande estampido. Outra atirou no meio do povo uma bomba junina, das de maior potência, que felizmente não atingiu o alvo e explodiu uns metros adiante. Algumas davam em coro gargalhadas estrepitosas. Outras gritavam blasfêmias ou ultrajes. É fácil ter coragem assim quando se passa em alta velocidade. O povo chama este tipo de “coragem”, de covardia. Mas ninguém — nem povo, nem sócios ou militantes da TFP — dava atenção. Continuavam todos a rezar. E Nossa Senhora sorria a este sobranceiro e cavalheiresco desdém.
O sorriso da Virgem Imaculada se fez sentir com particular intensidade na festa do encerramento. Os estandartes rubros, as capas e as flâmulas dos da TFP, as harmonias do nosso Coro São Pio X, as flores incontáveis — mandadas todas pelo povo, e que transbordavam do Oratório para a rua — a massa de famílias que enchia as imediações, o louvor que se desprendia dessa oração em conjunto, de religiosos e fiéis, a primorosa alocução do grande bispo de Campos, dom Mayer, sobre a Mediação Universal de Nossa Senhora, tudo isto constituiu em seu conjunto, uma festa ao mesmo tempo recolhida e pública, nobre e popular, que impressionou a fundo. Terminado o ato, ninguém queria sair. É que, no fundo das almas, Nossa Senhora sorria.
Haveria temeridade em afirmar que a Virgem sorriu especialmente quando, falando de público em nome dos demais militantes, o jovem acadêmico de Direito Valdir Trivelato me pediu que por todo o sempre as vigílias continuassem? Não creio. Pedido tão generoso não pode ter deixado de comprazer à Virgem.
Pedido generoso, sim. Generoso demais. Como conciliá-lo com a faina dos estudos, do trabalho, da atuação na TFP? Aceitei a proposta só em parte. As vigílias continuarão, mas só até a noite de 6 para 7 de setembro.*
Nessa noite, a imagem de Nossa Senhora da Conceição será levada ao Monumento do Ipiranga, e na vigília da festa da Independência ali passaremos à noite a orar pelo Brasil.
Estou certo de que logo que Dom Pedro I proclamou a Independência e o Brasil surgiu como nação soberana, Nossa Senhora deu a nosso País sua primeira bênção e seu primeiro sorriso.
Estou certo de que Nossa Senhora da Conceição sorrirá em 7 de setembro para nós e todos os que conosco ali rezarem.
Pois lhe pediremos que o Brasil saiba corresponder aos mil sorrisos de sua maternal dadivosidade, e que Ela jamais, e jamais, deixe de rezar pelo Brasil.
E creio que Ela atenderá nossa prece e continuará a sorrir para o Brasil...