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| DISCERNINDO |

A MULA, O PROTESTANTE E O MILAGRE

Paulo Henrique Américo de Araújo

O episódio emblemático vem narrado no Antigo Testamento (Num. 22): a mula falou ao falso profeta Balaão, depois que Deus lhe ordenara não amaldiçoar os israelitas. Menosprezando o mandado divino, ia Balaão pelo caminho, montado na sua mulinha. Então, ao avistar o Anjo do Senhor ela empacou, enquanto Balaão repetidamente a fustigava. Como que impacientada com a brutalidade do seu dono, a mula lhe disse: “Que te fiz eu? Por que me bateste já três vezes? Acaso não sou eu a tua jumenta, a qual montaste até o dia de hoje? Tenho eu porventura o costume de proceder assim contigo?”

Balaão reconheceu seu erro, e em razão disso a mula falante tornou-se um símbolo eloquente — um último recurso, diríamos — da advertência de Deus para retificar o homem transviado. A Divina Providência utiliza-se de meios, por vezes os mais inesperados, e continua a fazê-lo nos nossos dias...

A mula falou verazmente

A “mula” que eu gostaria de trazer hoje ao leitor é, nada mais nada menos, um ateu! Trata-se de Alex O’Connor, conhecido ateu britânico, sobre o qual já discorremos nesta revista num artigo anterior (novembro/2020). Em vídeo publicado recentemente1, ele assumiu o papel da mula ao colocar contra os protestantes um dilema formidável, obrigando-os, caso sejam coerentes, a se tornarem católicos. Vejam a ideia dessa “mula ateia” moderna.

Nos seus diversos debates com protestantes ingleses e americanos, o jovem estudante de Oxford, Alex O’Connor, os inquiria sobre as evidências da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tendo como pressuposto, assumido pelo próprio Alex, de que os livros do Novo Testamento são fontes históricas críveis, a resposta dos oponentes apontava invariavelmente para as testemunhas que relatam terem visto o Salvador ressuscitado. O trecho mais expressivo da Escritura sobre tais testemunhas encontra-se na 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios (15, 3-6): “Eu vos transmiti primeiramente o que eu mesmo havia recebido: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado, e ressurgiu ao terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas e, em seguida, aos Doze. Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte ainda vive (e alguns já são mortos).”

Algo que reforça essa evidência da Ressurreição é o fato de que se trata de um numeroso grupo de pessoas presenciando ao mesmo tempo a visão sobrenatural.

O debatedor protestante tem de se comprometer, portanto, com a força argumentativa trazida pelos testemunhos oculares da Ressurreição. Centenas de pessoas afirmam ter visto juntas a mesma realidade: Jesus vivo, após sua morte e sepultamento. Não importa aqui se os ateus tentam invalidar o argumento com escapatórias como alucinações, mentiras e enganos. O que nos interessa aqui é o fato da admissão protestante de que os testemunhos oculares têm força probatória. E é isto justamente o que foi apontado por Alex (a “mula”).

A mula moderna de Balaão

Se os protestantes aceitam os relatos bíblicos das aparições de Cristo, inevitavelmente terão de aceitar outros relatos de aparições sobrenaturais, caso essas apresentem as mesmas características dos testemunhos da Ressurreição.

E aqui o estudante incréu de Oxford dá o golpe perspicaz no protestantismo, apresentando as testemunhas oculares do extraordinário Milagre do Sol — ocorrido na última aparição de Nossa Senhora em Fátima no dia 13 de outubro de 1917. Ora, nos meses anteriores ao evento, a Virgem prometera aos três pastorzinhos, Lúcia, Francisco e Jacinta, que faria um grande milagre para provar que suas aparições eram verdadeiras. Na data marcada, dezenas de milhares de pessoas, desde católicos fervorosos, a indiferentes e até céticos debo-

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