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| MATÉRIA DE CAPA (II) |

NO TABULEIRO LATINO-AMERICANO

“Revolução e Contra-Revolução” em 2024

Juan Antonio Montes

Atendendo a um pedido da revista Catolicismo para que no âmbito deste número dedicado ao retrospecto de 2024 desenvolvesse o tema do embate entre a Revolução e a Contra-Revolução na América Hispânica neste período, farei algumas considerações que sirvam para esclarecer o leitor sobre os acontecimentos que marcaram o percurso do “Continente da Esperança” e as perspectivas que deles se podem esperar.

1. Emergência de uma nova forma de “guerra fria”?

Quando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas se dissolveu em 1991, muitas pessoas incautas previram um “fim da história”, com base no fato de que nada mais era do que o confronto de duas ideologias opostas. Eles pensavam que, uma vez terminada uma das partes em conflito (a URSS), a história obviamente terminaria.1

O que o autor da tese do “fim da história” não sabia prever naquele momento era o fato de que o colapso da URSS não seria o fim do mundo comunista, mas sim a mudança de “porta-estandarte” desta ideologia macabra.

Em 1991, quando os braços emagrecidos dos que apoiavam a ideologia comunista já não conseguiam continuar a esconder o panorama de fome e escravidão que imperava naquelas nações, surgiram em cena dois novos e fortes braços que, graças às técnicas que o mesmo Ocidente lhes tinha fornecido, souberam aproveitar seus enormes recursos econômicos e populacionais para assumir o papel deixado pela sua antecessora: a China comunista de Mao Tse-tung.

O slogan do mundo “multipolar”, que a China reivindica hoje, nada mais é do que uma nova versão da “guerra fria” sob outro nome e outras técnicas, mas com o mesmo objetivo: acabar com a primazia do Ocidente e impor hegemonia.

Contudo, há uma grande diferença entre a guerra de conquista promovida pela URSS e aquela promovida hoje pela China de Xi Jinping.

A primeira consistiu na divulgação da ideologia de Marx e na promoção de guerras subversivas para derrubar governos pró-ocidentais. Pelo contrário, a atual técnica de expansão da China comunista não promove guerras internas ou “tomadas de poder”, mas sim acordos comerciais e favorecimento das estruturas dos países latino-americanos, entre outros centros geográficos.

Contudo, não é difícil ver que na troca de bens e serviços entre as nações pobres da América Latina e uma China que parece ser dotada de recursos inesgotáveis, a “parte do leão” vai para a China.

E qual é essa “parte do leão” chinês? Precisamente o aumento de sua influência no Continente, que até agora era conhecido como o “quintal” dos Estados Unidos.2

Observa o especialista latino-americano Christian Hauser, da Universidade de Ciências Aplicadas de Graubünden, na Suíça: “Ultimamente, os desafios e riscos associados à ascensão da China como ator dominante em muitas áreas econômicas e tecnológicas têm se tornado cada vez mais claros na América Latina. Países latino-americanos estão cada vez mais envolvidos na rivalidade geopolítica entre os Estados Unidos e a China. Neste contexto, é provável que as atuais tensões entre alguns países da América Central, como a Guatemala, a Costa Rica e a China, sejam apenas o início de relacionamentos mais conflituosos no futuro.”3

2. De Xangai a Chancay, uma nova forma de “protetorado”.

Talvez o exemplo mais característico deste novo tipo de influência sobre o conjunto de nações latino-americanas seja a recente inauguração, em novembro passado, do megaporto de Chancay, na costa do Peru.

Por ocasião da última APEC, realizada na cidade de Lima em novembro passado, o ditador chinês Xi Jinping inaugurou o porto de Chancay, a menos de 100 km de distância da capital. O megaporto foi construído por uma empresa estatal chinesa e conta com recursos de última geração.4

No seu discurso inaugural, Xi Jinping comemorou o fato de esse porto facilitar uma rota direta de Chancay a Xangai e impulsionar ainda mais o comércio entre os dois países. O governo peruano destacou o fato de que esse megaporto atrairá investimentos anuais de mais de 4 bilhões de dólares.5

Poucas semanas após a sua posse, o futuro porta-voz do novo governo Trump, Mauricio Claver-Carone, antigo diretor principal para o Hemisfério Ocidental, anunciou que “qualquer produto que passe por Chancay deveria ter uma tarifa de 60%”.6

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