Segundo o mesmo responsável norte-americano, a medida visa travar o transbordo de produtos chineses em todo o continente e reduzir a influência econômica de Pequim na América Latina.
A questão óbvia é se esse anúncio reduzirá a influência da China no continente, ou apenas a aumentará, uma vez que os Estados Unidos não acompanham estas ameaças com qualquer oferta de investimento compensatória. Desta forma, um novo “protetorado” chinês está sendo estabelecido em todos os países do continente, começando pelas nações com infraestruturas mais precárias.7
Contudo, este novo “protetorado” não é livre. Tem as suas condições e elas são draconianas. A primeira é que as nações que os assinam devem romper imediatamente as suas relações diplomáticas com Taiwan.8
Outro país interessado em tornar-se membro deste Protetorado Chinês é a Bolívia. Por ocasião da última reunião do G20, realizada no Brasil, logo após a APEC em Lima, Xi Jinping reservou alguns minutos para atender o presidente Arce. Ao final do encontro, o presidente boliviano postou em sua rede social: “Hoje no Brasil, no âmbito da Cúpula de Líderes do G20, realizamos um encontro agradável e frutífero com o irmão presidente Xi Jinping”. Arce não indicou em que consistiu o encontro com o “irmão Xi Jinping”, mas provavelmente tratou de novas promessas da China e de novas hipotecas para a pequena economia boliviana.9
Tais promessas são muito questionáveis quando se sabe que a China está extraindo ouro daquele país, utilizando supostas “cooperativas bolivianas” que funcionam como fachada para empresas estatais chinesas. Ao exposto, cabe acrescentar que a China não tem nenhum cuidado com a preservação do meio ambiente, nem a devida atenção aos operários que ali trabalham.10
Resta saber quais são os propósitos que levam a China a ser tão “generosa” com os países sul-americanos. Será apenas altruísmo a favor das nações pobres? Ou será exclusivamente para garantir a utilização de matérias-primas, como o lítio, para as suas empresas?
É claro que a China tem interesse nas matérias-primas que a América Latina possui. Porém, a esta razão deve-se acrescentar outra: seus estrategistas devem levar em conta que numa hipótese, nada improvável, de um confronto que não seja americano, a China já conta com o apoio de cada vez mais países do Continente como, para usar a expressão do Presidente da Bolívia, “irmãos.”11
Estas intenções foram expressas claramente por Xi: “O ‘Sonho Chinês’ e o ‘Sonho Latino-Americano’ estão intimamente ligados. Ambas as partes devem ser encorajadas a prosseguir estes sonhos e a torná-los realidade em conjunto.”12
Seria oportuno perguntar aos habitantes de Hong Kong ou de Taiwan se acreditam que este “sonho” não seja antes um pesadelo terrível.
Na década de 1960, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira denunciou um estratagema do comunismo internacional que consistia em aproximar gradativamente os países não comunistas dos seus postulados. O ilustre pensador católico alertou contra o uso de “palavras talismânicas” como “diálogo”, “terceira via” etc. O que caracterizou estas palavras foi o seu significado impreciso, através do qual se manipulou uma gradual “baldeação” de natureza ideológica para o comunismo.
Se estas foram as manobras psicológicas praticadas pela operação de “baldeação ideológica”, o leitor pode imaginar quão mais eficazes serão se não se limitarem a meras palavras, mas antes oferecerem uma cooperação econômica “graciosa” e suculenta.
Ao exposto devemos acrescentar o fato de que, durante a “Guerra Fria”, os Estados Unidos implementaram muitos programas — nem todos bem orientados — em favor do desenvolvimento latino-americano, com o objetivo de evitar o deslizamento destas nações em direção à Cuba dos irmãos Castro.
Hoje, pelo contrário, a nova Administração Trump anuncia a todos os ventos que o seu objetivo será primeiro “tornar os Estados Unidos grandes novamente”, o que significará, sem dúvida, cortar subsídios e apoio econômico, precisamente às nações que os recebem a mancheias da China.
Não é difícil prever para onde serão direcionadas as simpatias dos países sul-americanos. Cada vez mais, o “quintal” dos Estados Unidos está se tornando o quintal da China.
Quem acompanhou os acontecimentos da “guerra fria” recordará a formação do Pacto das “Nações Não Alinhadas”, um grupo de países com governos de esquerda que parecia fazer parte de uma “terceira posição” entre a Rússia Soviética e os Estados Unidos.
Com o desaparecimento da importância geopolítica do bloco russo, e devido a divergências e até guerras entre os seus membros, hoje o acordo dos “Não-alinhados” é quase inexistente e foi substituído pelo pacto de nações de economias emergentes, conhecido como Brics.13
Em teoria, esses países estão organizados para se ajudarem mutuamente em favor do desenvolvimento das suas economias, mas, na realidade, constituem cada vez mais uma frente de nações contra o Ocidente rico, com uma visão clara de luta de classes.
Durante a cúpula dos Brics realizada na cidade de Kazan entre 22 e 24 de outubro de 2024, o governo da Bolívia comemorou a admissão do país como “parceiro” daquele fórum político e econômico. Na mesma ocasião,
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