O feminismo radical vê, portanto, o patriarcado como uma estrutura sistêmica de dominação a ser desconstruída. Ao contrário do feminismo marxista clássico, que subordina a luta feminina à luta de classes, o feminismo woke considera a libertação das mulheres como o pré-requisito essencial para qualquer transformação social. Esta visão faz das relações sociais de gênero uma luta das mulheres contra os homens e promove o desaparecimento destas categorias através da negação do sexo biológico. É aqui que o feminismo radical encontra a ideologia de gênero, como veremos mais adiante.
Esta abordagem, centrada na vitimização das mulheres e na criminalização sistemática dos homens, deu origem a uma misandria por vezes virulenta.
Noémie Halioua, jornalista e ensaísta, afirma que a aversão aos homens leva as feministas radicais a “criminalizar o masculino na sua essência, a subjugar a sua profunda identidade sexual, até nas suas hormonas. Trata-se de distorcê-lo, de negá-lo nas suas aspirações primárias, de distorcê-lo para torná-lo outra coisa, mais suave e mais politicamente correto. [...] Como se um coração masculino nunca tivesse abrigado a menor doçura, como se fosse incapaz de amar e não merecesse sê-lo. [...] O homem moderno é chamado a flagelar-se cada vez mais na esperança de conquistar o seu direito de existir; ele é chamado, segundo o termo da sociologia popularizado por Jacques Derrida, a ‘desconstruir-se’, como um móvel da IKEA montado de cabeça para baixo [...] para conquistar o direito de existir livremente”.
Algumas figuras do feminismo radical expressam abertamente a sua hostilidade para com os homens. Caroline De Haas, cofundadora do movimento “Ouse o feminismo”, ex-assessora do ministério francês de Educação, declarou: “Em cada dois ou três homens, um é agressor.”
O estupro, a agressão e o assédio não seriam, de acordo com esta perspectiva, comportamentos individuais resultantes de escolhas repreensíveis feitas por um pequeno grupo de criminosos, mas seriam fenômenos sistêmicos profundamente enraizados no sexo masculino. Nesta perspectiva, mesmo gestos anódinos como o cavalheirismo fariam parte de uma série contínua que leva até a violência masculina.
Pauline Harmange, no seu livro Eu odeio os homens, vai ainda mais longe: “Odiar os homens, como grupo social e muitas vezes também como indivíduos, traz-me muita alegria — e não só porque sou uma bruxa velha e maluca por gatos.”
Alice Coffin, num panfleto anti-homens, explica que se recusa a ler obras escritas por homens ou a ouvir as suas criações artísticas, afirmando assim uma ruptura total com o seu contributo cultural.
A popularização do conceito de “masculinidade tóxica” ilustra esta tendência para a crítica sistemática dos homens, muitas vezes baseada em argumentos vagos, mas altamente publicitados. Noémie Halioua deplora “esta caça ao homem [que] também se realiza no vocabulário quotidiano com a popularização de conceitos confusos que se dão um ar científico, para melhor evitar qualquer crítica do bom senso”.
O homem “desconstruído” tornou-se uma figura emblemática deste feminismo. A deputada francesa Sandrine Rousseau, durante as primárias do Partido Verde para a eleição presidencial, vangloriou-se de conviver com um homem desconstruído e de estar extremamente feliz com isso, acrescentando: “Não confio em homens ou mulheres que não tenham seguido o caminho da desconstrução”, porque só personalidades desconstruídas podem “responder às necessidades dos oprimidos face à discriminação”.
Vale a pena focalizar um conceito-chave do feminismo radical: “desconstrução”, um termo emprestado do filósofo Jacques Derrida. Esse processo introspectivo de desconstrução de si mesmo, sempre inacabado, convida os indivíduos, principalmente os homens, a questionarem sua condição de heterossexuais, a negarem sua virilidade, a abraçarem a causa feminista e, de certa forma, a se curvarem diante das mulheres como forma de arrependimento coletivo.
Um elemento fundamental desta desconstrução reside na linguagem, que as ideólogas feministas percebem como a origem de todas as desigualdades. O masculino universal, utilizado durante séculos nas línguas latinas para designar grupos mistos, é particularmente visado. Uma mulher bem-educada que diga pertencer ao sindicato dos professores ou dos assistentes sociais, ou que ensine às crianças os “Novíssimos do homem”, seria, segundo as feministas, prisioneira de uma estrutura linguística que deve ser destruída.
Para isso, promoveu-se uma linguagem inclusiva, exigindo que as fórmulas fossem sistematicamente duplicadas: “alunas e alunos”, “trabalhadoras e trabalhadores”, “cidadãs e cidadãos”, “amigas e amigos” etc.
O sociólogo Pierre Bourdieu lançou as bases para esta reforma linguística na sua obra Dominação masculina. Segundo ele, a estrutura cultural androcêntrica (centrada nos homens) exerce uma dominação simbólica sobre as mulheres, que deve ser desconstruída para romper as cadeias da opressão.
Encerro estes comentários sobre o feminismo radical com duas breves observações:
1. No seu romance 1984, George Orwell demonstrou magistralmente como os regimes ideológicos procuram remodelar as mentalidades através da remodelação da linguagem. Este processo, apresentado como revolucionário, constitui na verdade uma ferramenta de controle.
2. Não foi o feminismo que permitiu a valorização da mulher, mas o Evangelho. Graças ao Cristianismo, a mulher foi elevada a uma dignidade espiritual e moral desconhecida do mundo pagão e até do Povo Eleito, o que deu origem à cortesia medieval que colocava a dama no lugar de honra. Este modelo de respeito mútuo entre os sexos é infinitamente superior às exigências caricaturadas e muitas vezes destrutivas do feminismo
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